terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Luiz Carlos da Cruz (Geógrafo/Analista Ambiental)

Ontem, pesquisando na internet li um trabalho feito pelo Geógrafo e Analista Ambiental Luiz Carlos da Cruz.

Imediatamente passei um e-mail para ele consultando-o sobre a possibilidade da PCH de Ervália ter influenciado no aumento da enchente que arrasou grande parte de Guidoval.

Ele respondeu com presteza. Abaixo, transcrição do e-mail dele.

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Prezado Sr. Ildefonso,

Desconheço a situação atual de Ervália, mas no que tange ao estudo estou lhe enviando um arquivo com recorte das informações primordiais que podem lhe auxiliar para uma melhor compreensão da área e consequentemente do empreendimento em questão.

Pelo que conheço e desenvolvi na região, a represa não é a vilã da situação ocorrida, até porque ela é considerada pequena em comparação a outras, tanto que esta possui uma profundidade média de 3,70 m e um perímetro de 3,57 km apenas (delimitação hídrica).

A área total (considerando a faixa de preservação, leito, margens e barramento (lago) ocupa uma área de 27 ha, ou seja, pequena em relação a empreendimentos deste porte.

Quanto ao ano de inicio de operação, esta se deu em 1999 (maiores detalhes em anexo).

Cabe salientar que as comportas não são abertas de uma só vez e que também não é represado um volume além da capacidade da represa, até porque, ela não suportaria volume tão expressivo de água como nos últimos dias. A grande questão da região esta associada as condições geológicas, geomorfológicas e de climatologia.  

Em um linguajar mais simples, os solos na maioria não são tão profundos, região de inclinação muito elevada o que favorece o escoamento e concentração abrupta (rápido) de água e o que ocasiona impactos a jusante como mencionou.

A represa passou por diversas análises antes da sua construção em definitivo mensurando todas as questões ambientais e sociais, ressaltando é claro que meu estudo foi desenvolvido no ano de 2003, ou seja, 04 anos após inicio da operação. O grande problema enfrentado na região em minha opinião baseada em "ciência" são as condições climáticas que toda a região sudeste do país esta enfrentando.

O volume de chuva superou todas as expectativas e o que era para ser distribuído ao longo dos meses de novembro a final de janeiro, esta basicamente concentrado no final de dezembro inicio de janeiro de 2012.

O fato do aumento da liberação de água pela PCH Ervália basicamente se dá em função de trombas d’água (volume excessivo de água) a montante, o que faz com que as comportas deixem passar um volume maior de água além do de costume, isto porque, caso este procedimento não seja feito, poderia ocasionar certamente uma catástrofe ainda maior, como por exemplo, o rompimento do barramento (da represa em si).

Se não houvesse a represa, certamente os impactos seriam maiores pois ela tenta regular a vazão de água e sem ela, todos os municípios a jusante de Ervália sofreriam consequências diretas da trombas d’água com um volume muito maior.

Outro fator que foi diagnosticado a época do estudo era que muitas famílias ainda estavam ocupando (a jusante - Guiricema) e utilizando as margens do curso d’água principalmente com plantio e benfeitorias, fator preocupante e que certamente devem estar sofrendo com as consequências do alto volume de chuvas destes últimos dias.

Enfim, como mencionado, meu depoimento esta embasado em conhecimento de causa da região e principalmente em conhecimento científico e sendo assim, adianto-lhe que a problemática vivida da região não é em função específica da PCH Ervália, mas sim a uma condição climática que estamos vivenciando nestes últimos dias.

Espero ter ajudado e minhas condolências a todos da região. 

Luiz Carlos da Cruz
Geógrafo/Analista Ambiental
Especialista em Gestão e Manejo Ambiental em Áreas Agrícolas
Mestre em Economia Ambiental

Para saber mais do Dr. Luiz Carlos, é só acessar:

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