terça-feira, 30 de abril de 2019

Tributo: é melhor doar do que pagar (publicado no JORNAL DE GUIDOVAL em novembro de 2007)


Tributo: é melhor doar do que pagar
(publicado no JORNAL DE GUIDOVAL em novembro de 2007)
        
 Pagar IMPOSTO é uma praga, castigo. Está no Aurélio, o dicionário: “feito aceitar ou realizar à força”, e ainda; “tributo exigido, independentemente da prestação de serviços específicos, ao contribuinte”. É o que os governos fazem. Cobram, fiscalizam, recebem, mas pouco, ou quase nada, retribuem ao cidadão.
         Pagamos impostos como se morássemos na Noruega e recebemos em troca obras e serviços como se fôssemos o Reino do Butão, um pobre país da Ásia. Nem pretendo fazer neologismo.
         E os governos são pródigos e criativos quanto a criar impostos, tributos, taxas, serviços, tarifas, contribuições, algumas provisórias que se transformam em definitivas. Temos aí a famigerada CPMF a me confirmar.
         Por impostos muito menores que os atuais, Tiradentes, mártir da independência, liderou a Conjuração Mineira. Enforcaram-no em 1792 e o enforcariam de novo, mil vezes, se preciso fosse. Governos gostam de impostos e muita grana para gastar em mordomias e corrupção.
         Era a DERRAMA, apenas o QUINTO (20%) sobre o ouro extraído. Hoje a alíquota do Imposto de Renda chega a 27,5%. No Brasil, entre impostos, taxas e contribuições contabilizam-se uns 65. Há quem diga existir mais. Não duvido.
         Alguns deles são nossos velhos conhecidos como os IMPOSTOSIPTU, IPVA, ICMS, ISS, IPI, ITR, IOF, ITBI”, ou as CONTRIBUIÇÕES “FGTS, INSS, COFINS, PIS, PASEP, FUNRURAL, INCRA” além de TAXAS como as de Limpeza e Iluminação Pública. Têm-se muito mais, falta-me espaço para relacionar todos.
         Eles fazem parte do nosso dia-a-dia. Estão embutidos nos produtos que consumimos e nos serviços que utilizamos. Encontram-se no feijão, fubá, carne, aluguel, escola, energia elétrica, telefonia, cerveja, cigarro, cinema, internet, nos vícios, necessidades e virtudes. Na cama que dormimos, na mesa que almoçamos, nas viagens de férias, nas fantasias que sonhamos realizar.
         Todos, empresários (pequenos, grandes e micros), comerciantes, agricultores, prestadores de serviço (todo mundo, sem exceção), são obrigados a cobrar muito mais pelos seus serviços ou produtos para compensar os inexoráveis impostos agregados aos seus processos e atividades. É uma bola de neve, um círculo vicioso, cachorro correndo atrás do rabo.
         Como não existem fórmulas para fugir dos impostos, principalmente o IMPOSTO DE RENDA descontado na fonte dos assalariados e aposentados, o jeito é buscar alternativas para torná-lo menos indigesto.
         Foi o que fiz no ano passado. DESTINEI 6% (seis por cento) do meu IMPOSTO DE RENDA DEVIDO ao “Conselho ESTADUAL dos Direitos da Criança e do Adolescente”. A minha intenção era doar para Guidoval, mas à época ainda não tínhamos o “Conselho Municipal da Criança e do Adolescente”, criado em 21/12/2006. Os seus membros tomaram posse em março de 2007. É composto por ilustres e respeitáveis conterrâneos.
         Abriu-se uma conta específica para o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Guidoval - FMDCA, na Agência do Banco do Brasil em nossa cidade. Assinam pela Conta o Padre Pedro Luiz da Silva, Presidente do “Conselho Municipal” e o Prefeito Municipal Élio Lopes dos Santos.
         Eu já fiz a minha doação no dia 10 de dezembro. É muito fácil. O código do Banco do Brasil é “001”; a Agência é nº 3826-1 e a Conta Corrente nº 7.743-7. O CNPJ da Prefeitura tem o nº 18.128.215/0001-58.
         Estamos chegando a outro final de ano. A última data para fazermos doações dedutíveis no Imposto de Renda (Ano-Calendário 2007) é o dia 28 de dezembro. Ainda dá tempo de fazer a doação. Em março quando formos fazer a Declaração de I.R. à Receita Federal, poderemos DESCONTAR integralmente o VALOR DOADO, desde que limitado, como já disse, aos 6% do Imposto Devido. Caso alguém tenha alguma dúvida, o seu contador poderá esclarecê-lo melhor sobre o assunto.
         Não importa o quanto você paga de Imposto de Renda, o importante é que você pode DOAR / DESTINAR, diretamente, para uma associação de nossa terra, evitando que uma parte de seu imposto escorregue pelos ralos, escaninhos e descaminhos dos governos federal e estadual. O seu dinheiro será muito melhor aproveitado. Tenho certeza. Que o governo federal se contente com o muito que já recebe. E não é pouco não!
Alguns exemplos do Valor a ser DOADO
         Se o seu IMPOSTO DEVIDO for de R$1.000,00 você pode DESTINAR R$60,00. Para quem paga R$10.000,00 o valor passa a ser de R$600,00 e se você recolhe R$100,00 pode doar R$6,00. Alguns poderão exclamar: “mas só seis reais!!!”. Reflito: “de seis em seis chega-se a milhão”. Sei que temos inúmeros guidovalenses que podem fazer esta simples doação ao nosso município.
         Aproveito, a ocasião, para CONVOCAR e INCENTIVAR a todos guidovalenses e amigos de Guidoval para que façam a DOAÇÃO POSSÍVEL para Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Guidoval.
NOTA: Agradeço ao Luiz Carlos Nogueira (Carlinhos), funcionário da Prefeitura, pelo empenho em regularizar a situação do FMDCA.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Zé do Fio - Barão (07 – Causos do Sapé)


Zé do Fio - Barão (07 – Causos do Sapé)


Figura popular, folclórica, o Barão viveu sabiamente a vida.

Bon vivant, deixava para amanhã o que se podia fazer hoje.

Parecia até baiano, em que a semana tem oito dias, segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, domingo e amanhã.

Cantava, voz tonitruante:
"De manhã me faz a barba / A tarde me dá beijinho/ Engoma meu terno branco/ E eu saio bem bonitinho".

Ou então:
"Esta me dava de tudo/ Me dava meia, sapato/ Terno de Casimira e Camisa de Veludo".

A sua frase filosófica mais marcante foi "A vida esta no sentir".

Certa vez, apanharam-no distraído, às margens do Chopotó, perto da Cachoeira, vara de pescar à mão.

Querendo ironizá-lo, instigaram-no:
- Barão, como é que você quer pescar com o anzol fora d’água?

- Quem disse, prezado, que eu estou pescando? Estou apenas conversando com a natureza.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

Das Graças (06 – Causos do Sapé)


Das Graças (06 – Causos do Sapé)

Das Graças, morava num barraco, de graça. Herança do pai do marido que lhe abandonara, com oito filhos. Presente da cegonha, dizia ela, em nove anos ininterruptos.

Sua vida primava pela acolhida da benevolência alheia, um acontecimento pouco habitual no mundo de hoje. O seu despertador eram os galos da vizinhança, mas só saia da cama, quando da certeza dos primeiros raios solares.

Abria a janela para recebê-lo, de graça. A todos que cruzavam o seu caminho, tinha pronto um bom-dia a ofertar, mais para poder receber do semelhante a recíproca. Se o transeunte, desapercebido não lhe devolvia o “bom-dia”, ela cobrava.

Os vizinhos, já acostumados a sua compulsão em pedir, comentavam à boca pequena, lá vai a Das Graças em busca da redistribuição de renda.

Diziam mais, de graça, Das Graças tomava lotação errada, levava injeção na testa, aceitava bilhete corrido, entrava em fila de tapa e até mordida de cachorro era bem-vinda.

Comentavam, eu não vi e não duvidei, que certa vez pediu a um homem, parado no ponto de ônibus, um cigarro. O motivo era o volume no bolso da camisa.

O cidadão, orgulhoso, pois há muito deixara o vício, tirou do bolso e mostrou-lhe o invólucro com um colírio. Das Graças não se intimidou pediu duas gotas nos olhos.

Alguns dizem que Das Graças recebeu as gotículas, outros afirmam que não. Pelo sim, pelo não, certeza tenho de que a Das Graças seguiu o seu caminho de pedição.

Noutra oportunidade, pessoa de minha confiança presenciou o fato e me contou que Das Graças chegou a uma mansão, dessas dos novos ricos, e iniciou o rol de suas necessidades.

Postulou primeiro, um prato de comida. Da dona da casa, ouviu não. Demandou a seguir por um quilo de arroz ou qualquer outro mantimento. Escutou novo não.

Solicitou uma roupa ou um agasalho, mesmo velho. Mais um não.

Obsequiou por um pão velho. Irredutível, a proprietária, retrucou com evasiva negativa. Suplicou, por fim, um copo d’água. A madame de cílios postiços e plástica recente tentou terminar o diálogo, dizendo não ter também um copo d’água.


Mas quem encerrou a conversa mesmo foi Das Graças, dizendo:

- Óia dona, já que a senhora não tem nada, porque não vem pedir com nóis.
A velha rica, perdeu a graça, fechou o portão e adentrou, em passos de chilique, a sua residência de necessidades.

Das Graças continuou o seu caminho, de petição e miséria, mas cheia de graça e vida.
(escrito em 14/06/1.995)

quinta-feira, 4 de abril de 2019

Pão-durismo (05 – Causos do Sapé)


Pão-durismo (05 – Causos do Sapé)

Conto o milagre, mas não o santo. Um conterrâneo é tão pão-duro que perto dele munheca-de-samambaia parece girassol da Rússia.

Algumas cenas eu vi, outras me contaram. Para se ter uma ideia, ele coloca a pasta de dente atravessada, na vertical na escova. Não come banana para não jogar a casca fora. Espirra sem estar gripado só para que alguém lhe diga "Deus te ajude". Dispensa velório para não gastar lágrimas.

Assiste a missa pela televisão, na casa do genro para economizar energia elétrica. Na hora do ofertório, sai de fininho, vai a cozinha beber, de graça, água e cafezinho.

O Grilo do Zé Bento criou um capado à meia com ele. Só engordou a banda do nosso miserável concidadão.

Se você o vir, se é que já reconheceu de quem estou falando; pulando de um prédio do 20°andar, pule atrás e estarás fazendo um bom negócio.

Na inauguração do Clube Meia-Meia, havia acabado de filar um sonrisal do Vianelo Silva, quando o jogaram na piscina. Saiu do outor lado com o comprimido espremido, intacto, na mão esquerda. Não fez nem borbulha.

Certa vez, foi ao Vasco (Reis) da Farmácia e pediu um analgésico para dor de cabeça. Ia pagar a metade e se a dor passasse, voltaria para pagar o restante. O Vasco, um emérito gozador; pegou o comprimido, partiu ao meio, guardou a metade e falou para o nosso avarento:

- Então volte depois, com o dinheiro total, para pegar e pagar o restante. Nessa, o sovina não se deu bem.

Para encerrar.

Um dia um garoto da roça, perguntou-lhe as horas. Ele já achou um desaforo, ter que dar as horas. Onde já se viu! A contragosto, retirou do bolso, o “oméga” ferradura. Com rabugice, sem pressa, olhou de meia-jota, sem interesse e falou:
- Quatro horas.

O menino agradeceu e seguiu caminho. Na verdade, o relógio registrava-se 16 horas e 14 minutos.

Chico do Felício (Manoelito Siqueira) que estava ao lado comentou:

- O homem é danado. Economiza até os quebrados da hora.