domingo, 31 de março de 2019

Coveiro Convicto (02 – Causos do Sapé)


Coveiro Convicto (02 – Causos do Sapé)

Na certeza de que seu familiar morrera envenenado, um conterrâneo nosso, conseguiu após três meses de luta na justiça, que fosse feito uma autópsia no corpo do cadáver de seu parente.

A perícia técnica chegou em Guidoval, subiu a Rua da Saudade e entrou o nosso campo santo, onde repousam saudosos antepassados e amigos apressados.

A autoridade da Medicina Legal solicitou ao coveiro para desenterrar o corpo da suposta vítima, suspeita de não ter falecido de causas naturais. Aliás, não compreendo este termo "morte natural". Para mim a morte é sobrenatural.

O coveiro, zeloso funcionário público municipal, não quis nem saber da ordem da autoridade e respondeu :

- Oiá , doutô eu sou pago para enterrar e não prá desenterrar defunto.

Não houve argumento suficiente para fazê-lo mudar a sua ideia.

Chamaram o, sempre disposto, Zé Carangola que executou o serviço.

O coveiro, como todo bom curioso, acompanhou de perto todo o trabalho.

Eu até acho que o coveiro está certo.

Coveiro é para enterrar. Para desenterrar talvez fosse necessário contratar um descoveiro. Ou dez-coveiros ?

quinta-feira, 28 de março de 2019

“01- Causos do Sapé” - Cantora Argentina - BIS


“01- Causos do Sapé”


Cantora Argentina - BIS

Esta história é do tempo em que o Chopotó tinha água despoluída e peixe. Já se passaram mais de 40 anos. Nesse tempo Guidoval tinha até cinema e local para artistas se apresentarem em shows e peças teatrais.

Vamos ao fato. Uma cantora argentina apresentava-se no cinema do João Marceneiro. Cantava os seus tangos sob os acordes de um bandônion.

Após encerrar o que seria a última canção, o Bebeto Ramos, então um rapazola, levantou-se e pediu bis. Os amigos leais de farra acompanharam-no, como sempre.

A cantora, toda cheia de si, repetiu a canção.

Nem bem acabara a música e novamente o Bebeto pediu outro bis, agora com a cumplicidade da metade do público e dos amigos. Antigamente era comum pedir bis.

A cantora entoou a mesma canção, sempre interpelada ao final com um pedido de bis.

O Bebeto a esta altura contava com a solidariedade de toda a platéia. A cantora, apesar de rechonchuda; parecia até flutuar de vaidade no palco. O pedido de bis era demonstração de carinho e de que o pessoal estava gostando do espetáculo.

Quando estava quase encerrando a repetitiva canção pela 6ª vez, o Bebeto, de pé, com a cara mais limpa, que Deus lhe deu; a voz empostada, gritou para que todos escutassem :
- Vai cantar até aprender.

O empresário da esfuziante cantora portenha quis porque quis brigar e só não teve início a uma guerra entre a Argentina e Sapé de Ubá por causa da turma do deixa-disso.

sábado, 23 de março de 2019

12 - SERTÃO PROIBIDO


12 - SERTÃO PROIBIDO

Uma das manias nacional é o futebol, em Guidoval também. Uma das páginas de glória de nossa história é o aguerrido Cruzeiro Futebol Clube. O ápice foi conquistar o campeonato da Liga Atlética Ubaense em 1990/1991, mas a história futebolística do município começou muito tempo antes.
Em 1922, uns rapazes que construíam a estrada de terra, à picareta, de Guidoval a Ubá criaram um time que levou o nome do fundador; “Antônio Joaquim Carneiro Futebol Clube”. Belarmino Campos jogou neste time. Mais tarde, fundou-se o Sapeense. O campo localizava-se no Largo, hoje a Praça Santo Antônio.
Depois o campo passou para a Rua do Alto, onde é hoje a Praça do Rosário, devida a uma Igreja do Rosário, que nunca chegou a ser totalmente construída. Como nesse local existia um grande cruzeiro e de tanto se falar que iam jogar lá no cruzeiro, o nome pegou e o time passou a se chamar Cruzeiro, nascido extra-oficialmente em 23/06/1943. Os fundadores foram Geraldo Luiz Pinheiro, Walace Azevedo Costa, Severino Occhi, José Alves de Freitas, Odilon dos Reis, Antônio Euzébio Pereira, Astolfo Mendes de Carvalho e outros. Em 30/03/1952 registrou-se o Estatuto, tendo como presidente o fazendeiro Antônio Ribeiro Meireles, bisavô do promissor craque Hugo que é filho do Emiliano que faz um excelente trabalho nas categorias de base do Cruzeiro.

O maior goleador do Cruzeiro foi o Tuninho Estulano. Para se ter uma idéia, contou-me o Mundico, o Cruzeiro foi lanterna de um campeonato com 18 clubes e mesmo assim o Tuninho alcançou a artilharia da competição. Ele guarda a medalha desta façanha.

Além do fantástico título de 1990, o Cruzeiro foi campeão em 1952 com os aspirantes na Liga Atlética Riobranquense e vice-campeão com a equipe principal no Torneio Regional. Conta-se que o juiz prejudicou o nosso clube na final contra o Aymorés de Ubá, que teve confirmado um gol irregular. Na linguagem popular: FOMOS ROUBADOS. Como consolo ganhamos o troféu da TAÇA DISCIPLINA por não ter nenhum jogador expulso durante o campeonato.

Quando pedimos uma seleção do Cruzeiro, de todos os tempos, são sempre lembrados: Zé Alan, Domício, Saninho, Zé do Juca, Paulo Pereira, Áureo Ribeiral, Moacir Gonçalves, Zequinha do Casin, Elier, Lilico, Vítor, Zé do Gil, Oséas, Saint'Clair, Landinho Estulano, Silvestre, Brás do Zé Firmino, Gonzaga do Duzin, Cândido do Zico Didu, Jorginho Cariá, Tuninho Estulano, Etiene, Luiz Tavares, Adão do Juca.

O melhor juvenil, em minha opinião, jogava com Vianelo, Luiz Pinheiro, Zé Maria Matos, Célio Teixeira Albino, Zé Américo, Dilermando Ribeiral, Zé da Conceição, Lucas de Freitas Vieira, Oscar Matos, Luiz Antônio Ribeiral, Cidinho Vieira, Chiquinho Matos e Eloir Máximo.

Em 31/12/1992 o Prefeito José Pinto de Aguiar, o Zequinha do Casin, termina o mandato iniciado por Zizinho do Marcílio.
Zequinha que tanto lutou para governar a prefeitura, acabou conseguindo por meios que NÃO desejava e tampouco imaginara. Com retidão, seriedade e controle das finanças públicas, honrou o mandato conquistado junto com Zizinho.

Num mandato pequeno, pouco mais de dois anos, realizou importantes obras para o município. Recordo-me do calçamento e repavimentação asfáltica de diversas ruas, Ampliação do Cemitério Municipal, construção de casas populares para famílias de baixa renda, extensão de redes de esgoto e elétrica, construção de pontes, bueiros e Escolas Rurais, Instalação de Iluminação em Luz Mercúrio na Praça Santo Antônio, Amplificador para a Torre de Repetidora TV, além de vários outros melhoramentos.
Na parte cultural fez aquisição de acervos bibliotecários, palanque para festividades culturais, incentivo aos compositores e cantores da terra, desfile dos alunos das Escolas Rurais no Dia 7 de Setembro, com uniformes Novos, adquiridos pela Prefeitura Municipal.

No dia 01/01/1993 o Prefeito Élio Lopes dos Santos inicia o seu governo. Eleito com 2.563 votos impingiu a maior derrota eleitoral ao grande líder político Sebastião Cruz. Os adversários do Élio até hoje não sabem de onde ele tirou tantos votos. Élio é atualmente, de novo, o prefeito da cidade. Vamos dar tempo ao tempo para falar das suas administrações.

No mês de setembro de 1993 chega para dirigir a Paróquia de Santana o nobre Frei Adriano. No dia 25 morre o grande líder político Francisco Moacir da Silva. Uma verdadeira multidão seguiu o enterro do chefe político do antigo Partido Republicano. Guidoval estava ficando cada dia mais pobre de verdadeiros líderes.

Em janeiro de 1996 morre Sebastião Cruz. Guidoval estava ficando chata para ele. Perdera familiares, companheiros, amigos e adversários. Aos 85 anos de idade parte para nova morada, junto ao Criador. O povão acompanhou o corpo do guerreiro CABORÉ ao nosso campo santo.

Diz o poeta Marcus Cremonese em “De como eu amo uma cidade”: “Se tem festa, Guidoval é festa. / A igreja abriga no seu seio / todo esse povo que não se esquece de Deus. / Enquanto isso a bandinha lá fora / suspira dobrados reluzentes” ou ainda “se a morte rouba / um de seus filhos, todos choram / a perda do irmão que se foi” , poema que sintetiza a nossa alma generosa.

Encerro esta série de artigos lembrando dos versos cantados no Congado do Benedito Medeiros “Oh! Sinhá SANTANA! Tua casa cheira! Cravo e Rosa, olê lê! Flor de laranjeira!” e pedindo a nossa Padroeira para nos proteger hoje e sempre!



(Fim da terceira parte – publicada no Jornal de Guidoval em 30/03/2006)

sexta-feira, 22 de março de 2019

11 - SERTÃO PROIBIDO


11 - SERTÃO PROIBIDO

Na festa de Santana de 1982 teve o lançamento do livro “Saudade Sapeense” contendo crônicas, poemas, contos e poesias de guidovalenses. Ao coquetel oferecido no Salão Paroquial compareceram os escritores e a sociedade em geral. No livreto, à página 52 podemos ler o Hino de Guidoval composto por Plínio Augusto de Meireles e Áureo Antunes Vieira.

Somos uma terra hospitaleira e pródiga em abrigar imigrantes. Os estrangeiros sempre foram bem-vindos. Primeiro chegou Marlière e a sua comitiva, depois dele muitos outros, vindos principalmente de Portugal e da Itália. Vou relembrar algumas famílias: Avidago, Ribeiral, Bressan, Occhi, Candian, Fouraux, Quinelato, Urgal, Pinto, Coelho, Lopes, Souza, Silva e Vieira. 

Alguns viraram comerciantes, industriais, prestadores de serviço, muitos foram para o campo trabalhar a terra, produzir o alimento nosso de cada dia. São na maioria pequenos agricultores, devido a divisão de terra em heranças sucessivas. Hoje o município é praticamente dividido em pequenas glebas, minifúndios para agricultura de subsistência. 

Poucos chegaram a fazendeiros como João Germano, Horácio, Antenor e Afonso Bressan, Astolfo Mendes de Carvalho, Antônio Pacheco Ribeiral, Cristiano Alves, Geraldo Cândido, Alaor Martins, Jacinto Pereira na Serra da Onça, Família Lopes do Córrego do Rosa, Família Aleluia do Ribeirão Preto, Família Coelho da Boa Esperança, Família Amaral da Boa Vista e o saudoso e bem-humorado Tito Dilermando (Félix Magalhães), de quem ouvi divertidas histórias.
Morre o Prefeito Eduardo Nicodemo Occhi no dia 06/05/1983 e o Governador Ozanan Coelho em 30/03/1984. Guidoval começa a se empobrecer politicamente. 

No dia 21/04/1985 morreu Tancredo Neves e o sonho da Nova República. O Saca-Rolha nada noticiou, pois não circulava desde 1980 só voltando a ser impresso 15 anos depois. 

No dia 20/04/1988 um vereador na nossa Câmara Municipal requereu moção de aplauso a Fernando Collor, Governador de Alagoas, por seu combate à corrupção e aos marajás de seu estado. O tempo, senhor da razão, provou que era uma farsa o governante alagoano. 

No último dia de 1988 terminava o terceiro mandato do empreendedor Sebastião Cruz à frente da prefeitura municipal. Todo prefeito eleito representou ou representa a vontade do povo, mesmo que discordemos do resultado eleitoral. De todos os políticos o que mais representou os anseios da população foi Sebastião Cruz. Foi o maior realizador de obras no município. Revolucionou a administração pública em nossa cidade. 

Filho de lavradores, ficou órfão aos 12 anos. Só foi aprender ler e fazer contas aos 15 anos de idade, mesmo assim porque pagou um professor particular para lhe ensinar em período noturno, pois não havia escolas no meio rural. 

Iniciou-se na atividade política em 1945, na campanha de Dr. Ozanan Coelho para Deputado Estadual. Depois se elegeu Vereador duas vezes para a Câmara Municipal, a primeira e segunda legislatura. 

Sofreu a primeira derrota eleitoral sendo candidato a Vice-Prefeito da chapa do Prof. Ernani Rodrigues, quando foi vitorioso o prefeito Otaciano da Costa Barros. 

Em 1958 é eleito Vice-Prefeito de Eduardo Nicodemo Occhi. Em 1962 sofre a segunda derrota política, perdendo a eleição de prefeito para Francisco Moacir da Silva. 

Depois foi prefeito por três mandatos (01/02/67 a 31/01/71, 01/02/73 a 31/01/77 e 01/02/83 a 31/12/88) ficando quatorze anos à frente da prefeitura e ainda conseguiu fazer os sucessores em três mandatos. Chegou a ter tanto prestígio político que os adversários não apresentaram candidato nas eleições municipais de 1972, quando concorreu sozinho à prefeitura. 

Devido ao parco espaço no jornal só citaremos algumas de suas principais obras: Edificou os prédios da Prefeitura Municipal, do Clube Recreativo Álbero Cattete Campos e da Delegacia e Quartel de Polícia; Urbanizou a Praça Santo Antônio e do Rosário; Construiu diversas escolas rurais, 24 casas populares, a Ponte “Deoclécio Cattete”, o Posto de Saúde "Dr. Mario Geraldo Meireles" (Fazenda do Pombal), a Biblioteca "Prof. Ernani Rodrigues" e o Matadouro Municipal; fez calçamento e rede de esgoto das ruas Governador Valadares, Sete de Setembro, Padre Vicente, Antero Furtado de Mendonça, 5 de julho, Cel. Joaquim Martins, Vereador João Cezar de Matos, Astolfo Mendes de Carvalho, Vereador Manoel Reis Moreira, Cesário Alvim, São Sebastião, Otávio Ramos, Praça Major Albino, Praça Sant'Ana, parte da Padre Baião e Avenidas Padre Sinfrônino de Almeida e Antônio Luiz da Silva Cruz; realizou as obras das Escadarias Dilermando Teixeira Magalhães e Amaro Ramos além do Lactário "Natalino Dornelas" 

Os inimigos apelidaram-no de Caboré. De limão fez limonada. Transformou o pseudônimo, que tinha o objetivo de humilhá-lo, em uma logomarca das suas campanhas eleitorais. 

Em 27/02/1990, uma terça-feira de carnaval, desfila pela primeira vez pelas nossas ruas a “Banda de Cá” idealizada pelo Dr. Jorge Sobral Venâncio, com os músicos Luiz e Aloísio Pinheiro, Jader Mendes, Fenderracha, Chicão do Lilico, Jorge, Tavinho e Tilúcio, é claro! Acompanharam a Banda várias pessoas caracterizando fatos em evidência na política, no dia-a-dia ou na TV, como os personagens da novela “Tieta” sendo representados por Mª de Lourdes Ribeiral Vieira (Perpétua), Sueli Vieira (Cinira) e Marcílio Vieira (Zé Esteves). No meio da folia, a folclórica Carminha Alexandre. Participaram da Banda: Elzo, Landinho, Zé Geraldo, Cidinho e as filhas Érica e Elaine, Juscelino, Rafaela da Maria do Zimbin, Ludmila Matos, Patrícia da Marília da Dona Araci, Fernanda do Custódio da Farmácia, Marley e as filhas Monique, Marcela e Marina, Tito, Titita e filha Talita, Tavinho do Jair, Isabela da D. Conceição, Luciano Ferreira, Graça Geraldo e a filha Mariana, Marcelo do João do Parquinho, Conceição Áurea e filho ao colo, Doidinho, Pedro Cid, Maria do Domício, Wilton, Robertinho do Sô Nego, Ildefonso, Ângela, Meire e Zezé Vieira, Thaís, Nathália e Fernanda, netas do Zizinho do Marcílio que da janela de sua casa observou o cortejo passar. Era o seu último carnaval. A terrível doença já minava a sua energia.