sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Professora Carmem Cattete Reis Dornelas - 91 anos



     Hoje, a nossa querida Professora Carmem Cattete Reis Dornelas completa 91 anos de idade.

     No ano passado, houve uma "Celebração Eucarística em Ação de Graças pelos 90 anos da Professora Carmem Cattete Reis Dornelas". 

   Durante a cerimônia foi lido pela Professora Elaine Ramos Vieira Pinheiro um texto elaborado por mim, com a preciosa colaboração das Professoras Mariza Correia e Rosana Vianna, filhas da Dona Carmem.

Abaixo, transcrevo o texto.




Professora Carmem Cattete Reis Dornelas

No dia 18 de dezembro de 1924 nasceu a menina Carmem. Filha de Astolfo Francisco dos Reis e Maria Cattete Reis. O seu nome foi escolhido pelo avô materno, Deoclécio Lopes Cattete, que lera um romance cuja protagonista chamava-se Carmem que significa “poema”, “pensamento do espírito divino”.
Foi batizada no dia 20 de Janeiro de 1925 e, curiosamente, no dia em que a Igreja Católica consagra a São Sebastião, enquanto a Igreja Ortodoxa comemora o mesmo santo no dia 18 de dezembro, a data do seu nascimento.
Tem quatro irmãos: Laerte, Laércio, Deoclécio e Edison que era o primogênito, já falecido.
Fez a primeira comunhão no dia 15 de Abril de 1934. Aprendeu as primeiras letras nas Escolas Reunidas do Sapé de Ubá, onde fez o então ensino fundamental. Aos 12 anos foi estudar no Colégio Sacré-Coeur de Marie, em Ubá, onde fez o Curso Normal, formando-se no dia 04 de dezembro de 1941.
Em 1942 e 1943, a Professora Carmem Cattete Reis foi lecionar no “Sacré-Coeur” do Rio de Janeiro. Hoje este educandário é conhecido como Colégio Sagrado Coração de Maria, fica no Bairro de Copacabana, onde as suas filhas Mariza e Rosana iniciaram as atividades profissionais e a Rosana permanece à frente da Coordenação Pedagógica da escola.
Durante mais de 45 anos lecionou em vários colégios como o Ginásio Estadual Raul Soares, Ginásio Dom Bosco, Academia do Comércio, Grupo Escolar Mariana de Paiva, onde depois foi Diretora. Faz parte do seleto grupo de professores pioneiros do Ginásio Guido Marlière, inaugurado em 1953.
Casou-se com Natalino Dornelas de Oliveira no dia 22 de Julho de 1951, quando passou a chamar-se Carmem Cattete Reis Dornelas. Desta união nasceram quatro filhos: Mariza, Marcellus, Rosana e Robert, que lhe deram 10 netos: Luiz Augusto, Ana Eduarda, Alexandre, Maria Clara, Marco Aurélio, Samanta, Guilherme, Arthur, Maria Luíza e Maria Fernanda. Marilene, a filha postiça com quem mantém o convívio diário, também lhe deu  mais dois netos: Luiz Guilherme e Anamaris.
No dia 09 de dezembro de 1969 um trágico acidente fez toda Guidoval chorar a perda de quatro conterrâneos de uma só vez: Iolanda Bressan da Costa, Nair Bressan da Costa, o Vereador Sebastião Inácio da Costa e o também Vereador Natalino Dornelas de Oliveira, que era o Presidente da Câmara Municipal e o principal candidato a prefeito na eleição vindoura.
Com menos de 45 anos de idade, a Professora Carmem ficou viúva. Apesar do luto e da dor, não esmoreceu. Convocada pelos líderes políticos aceitou o desafio e candidatou-se a vereadora. Foi eleita, em 15 de novembro de 1970, com a maior votação dada, até então, a um membro da Câmara Municipal, tornando-se a primeira mulher a exercer um mandato na nossa cidade!
Tia Sinhá e os pais, Astolpho e Miquinha foram determinantes nesta fase no apoio, orientação e acompanhamento dos sobrinhos/netos ainda pequenos.
O ingresso na política da nossa grande educadora foi a forma que ela encontrou de homenagear o marido, Natalino Dornelas, falecido menos de um ano antes. Por três legislaturas, durante doze anos, de 1971 a 1983, honrou a nossa Câmara Municipal com criatividade, dedicação e sabedoria, presidindo a casa por três vezes. Foi candidata a prefeita, mas desta vez não conseguiu a eleição.
Mais conhecida por Dona Carmem, esta cidadã exemplar, - “mestra de todas as artes” - educou várias gerações de guidovalenses!
Em certa ocasião, devido ao eterno descaso dos governantes com a educação, o grupo escolar, que funcionava no antigo sobrado ao lado da igreja, estava caindo aos pedaços. Em sinal de protesto e dando um recado às autoridades competentes, a Professora Carmem desceu as carteiras, quadro negro  e com a colaboração da professora da turma, levou os alunos para assistir a aula no meio da rua. O Pe Oscar, vigário na época, surpreendido com tal atitude, foi para o microfone da matriz denunciar tal abandono e pedir providências. Repercutiu, saiu na imprensa, deu o que falar. Em pouco tempo deram um jeito de melhorar o grupo escolar.
Católica, cristã, apostólica, devota, catequiza e participa ativamente das atividades da nossa Paróquia. Dona Carmem colabora com todas as festas religiosas ou cívicas.
Desde 1984, a convite do Padre Jorge Luiz Passon, dirige o Coral de crianças. A encenação, todo ano, do “Auto de Santana” e da “Via Sacra na Semana Santa” fazem parte das suas inspiradas criações. Hoje, uma tradição que enriquece nossa cidade.  
Em 2006 liderou, promoveu e organizou a monumental Festa do Sesquicentenário, 150 anos, da Paróquia da Igreja Matriz de Santana.
Historiadora, pesquisou, escreveu, dirigiu e encenou a “História do Ribeirão Preto”, a saga de uma raça, que faz com que nos orgulhemos de sermos seus conterrâneos. Promotora Cultural, tomou parte em diversas peças teatrais.
Artista Plástica, registra a nossa terra em lindas aquarelas. Artesã, faz trabalhos manuais que nos sensibiliza pela criatividade e delicadeza.
Escritora e poetisa contribuiu com o livro “Saudade Sapeense” escrevendo um lindo soneto dedicado ao Sô Trajano Viana. Por coincidência, no carnaval de 2003 a “Agremiação do Samba Vila Trajano” fez um samba-enredo em homenagem à Professora Carmem Cattete Reis Dornelas.
Promoveu gincanas memoráveis. Encenou jograis. Compôs hinos a Guidoval e ao Ginásio Guido Marlière.
Mantém-se atualizada convivendo com jovens e crianças, tanto que faz parte da rede social facebook.
Idealista, sempre colaborou com vários jornais de nossa cidade, escrevendo textos brilhantes e úteis à nossa sociedade. São documentos históricos. O artigo “ELE SEMEOU...”, escrito em 11 de junho de 1961 para o jornal "A Voz de Guidoval", com o pseudônimo de Silvana Rachel, deveria ser lido todo ano, em todas as escolas do município, no início do ano letivo.
Dona Carmem é incansável na luta em prol de nossa cidade. Por toda esta sua capacidade de liderar, opinar, apontar caminhos, buscar soluções para a nossa terra, Dona Carmem faz jus às homenagens recebidas.
Neste momento sagrado, de oração e fé, queremos pedir à nossa Padroeira Santana para continuar abençoando a Dona Carmem. Que DEUS a ilumine e a proteja, sempre!

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Algumas cenas antológicas - filmes inesquecíveis


Algumas cenas antológicas - filmes inesquecíveis


"Perfume de mulher"
A cena do Coronel Frank Slade (Al Pacino) dançando o tango "Por una cabeza" com a bela jovem  Donna (Gabrielle Anwar), sendo observado pelo jovem  estudante "babão" Charlie Simms (Chris O'Donnell).




"Casablanca"
            O filme foi lançado em 1942, ou seja, em plena II Guerra Mundial. A trama se passa na cidade de Casablanca, no Marrocos, então uma colônia francesa. A França tinha sido invadida e dominada pela Alemanha nazista.
            A cena do hino começa no momento em que os oficiais nazistas estavam cantando uma velha canção patriótica, feita para exaltar a defesa do Reno contra os franceses, em plena França livre, em um bar repleto de franceses, que ouviam calados e humilhados.
            Victor Laszlo (Paul Henreid), líder da resistência contra os nazistas, aproxima-se da orquestra do bar e ordena que toquem "La Marseillaise", hino da França composta em 1792, pouco depois da Revolução Francesa. Melhor assistir a cena. Fala mais que mil palavras;


Melhor contado no link abaixo:



"Uma mente brilhante"
            O matemático John F. Nash (Russel Crowe), professor da Universidade de Princeton, diagnosticado como esquizofrênico  é afastado da vida acadêmica. Ao longo anos, com tratamento, vai se recuperando lentamente, conseguindo ignorar seus delírios causados pela esquizofrenia paranóica. Volta a trabalhar, retornando à Princeton como professor de matemática. Em 1994, por sua tese de doutorado escrita há décadas atrás, é agraciado com o Prêmio Nobel.
            Nas cenas finais do filme, na sala dos professores, tomando chá, recebe canetas dos outros professores em reconhecimento ao seu brilho acadêmico.




"Butch Cassidy & The Sundance Kid"
            Paul Newman (Butch Cassidy) andando de bicicleta com Katharine Ross (Etta Place) ao som da música ''Raindrops Keep Fallin' On My Head'' (de Burt Bacharach e Conrad Hall, na voz de B.J. Thomas), ganhadora do Oscar. E ainda tem  o Robert Redford (Sundance Kid)




"E o vento levou"

            Scarlet O´Hara (Vivien Leigh) numa das cenas mais marcantes do filme promete  que "mesmo que tenha de mentir, enganar, roubar ou matar, Deus é minha testemunha que nunca mais terei fome.




"Gilda"
            Filme de 1946. Tem uma cena de Rita Hayworth cantando "Put The Blame On Mame" e insinuando um strip-tease que não passa de tirar as luvas, mesmo assim causou furor



"Cantando na chuva"
Gene Kelly ao som da música "Singin'In the rain"




segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Levir Culpi - um técnico honesto, vitorioso e bem-humorado



Levir Culpi - um técnico honesto, vitorioso e bem-humorado

            Acompanho, no Facebook, o Grupo Fechado "GALO". Pode-se imaginar um bando de apaixonados pelo Galo. E a paixão cega, cega totalmente. Assim tem gente que fala pelos cotovelos, outros com a alma e até com o coração. Bobagens e verdades são ditas. Mais bobagens, é claro. Palpites lógicos e sem lógica nenhuma. Afinal, o futebol é uma caixinha de surpresas. Novidade!
            Agora, de uns tempos pra cá, a bola da vez é falar mal do Levir Culpi. Injustiça a um técnico honesto, vitorioso e bem-humorado.
            Só para lembrar, Cuca, o técnico que o antecedeu foi o Campeão da Libertadores. Com todos os méritos. Acontece que a equipe tinha o Ronaldinho Gaúcho (quando ele ainda estava jogando futebol), o ídolo da massa Tardelli, Bernard (o garoto com alegria nas pernas), Guilherme (quando era jogador de futebol), Jô (no tempo em que marcava gols). E tinha Réver e Pierre, além do zagueiro Leonardo Silva com 1 ano a menos, quando conseguia, apesar das dificuldades, acompanhar uma corrida contra os atacantes adversários.

            Pois bem, o Levir pegou o time do GALO com todos estes desfalques acima. E mesmo assim, em um ano, foi campeão da Copa Brasil, Recopa e Campeonatos Mineiro.
E faz uma boa campanha no Campeonato Brasileiro. Devemos chegar em segundo lugar. E lembrem-se,   perdeu o Maicosuel  durante a temporada. Tem mais.
            O Corinthians mereceu o título pelo que fez no segundo turno, mas no primeiro turno teve ajuda da arbitragem, enquanto o Galo foi prejudicado.
Vejamos.
            Na 17ª rodada, o juiz deixou de marcar um pênalti a favor do São Paulo contra o Corinthians. Uma manchete do lateral Uendel.
            Na 18ª rodada, um juiz paulista, apitando uma partida de um clube paulista, marcou um pênalti, duvidoso, a favor do Corinthians contra o Sport.
            Na 19ª rodada, no jogo do GALO contra o Chapecoense, o juiz expulsou o zagueiro Leonardo Silva, no primeiro tempo, num lance que era apenas para cartão amarelo. No final da partida validou um gol irregular do Apodi que  utilizou a mão, para ultrapassar o fraco zagueiro Pedro Botelho do Galo.
            Estes argumentos sobre a arbitragem podem dizer que é desculpa de perdedor. Ocorre que a somatória destes pontos a mais para o Corinthians e a menos para o GALO colocaram o time paulista na liderança do campeonato e com mérito, não a deixou escapar, fazendo jus ao título.
            Gostam de dizer que o Levir é vice. Esquecem que ele  já foi campeão da Copa Brasil, Recopa, Campeonatos Mineiro, Paulista, Catarinenese, Paranaense e duas vezes campeão da Série B. E quem ajudou a empurrar o GALO na série B? O Senhor Tite, atual campeão brasileiro.
            Ser vice-campeão só não é melhor do que ser campeão. E é claro que todos nós queremos ser campeões, mas de 20 times disputam o campeonato, somente um consegue esta proeza, anualmente.
            Veja o retrospecto do GALO desde o rebaixamento em 2005 quando ficou em 20º, com 47 pontos, atrás de times como o Goiás, Atlético Paranaense, Paraná, Fortaleza, Juventude, Figueirense, São Caetano, Ponte Preta, Curitiba, sem a mesma tradição que o GALO.
            Nos últimos campeonatos Brasileiros, o GALO ficou em lugar em 2014; em 2013; lugar (com 72 pontos) em 2012; 15º em 2011 (com 45 pontos - lutando para não cair); 13º lugar em 2010; lugar em 2009; 12º em 2008; lugar em 2007.
Em 2006 o GALO disputava a Série B
            Nas passagens do Levir Culpi pelo GALO ele foi campeão Mineiro em 1995, 2007 e 2015; Campeão Brasileiro da Série B em 2006 e conquistou as inéditas Recopa em 2014 e a Copa Brasil de 2014 em cima da raposa. Só por esta façanha mereceria uma estátua na cidade do GALO.
            É um treinador que vive o dia-a-dia do clube, treina o time durante a semana, convive bem com os atletas, deve conhecer os problemas pessoais, íntimos, econômicos dos jogadores. Convive, às vezes, com pagamento atrasado dos salários. Tem a auxiliá-lo tem uma boa comissão técnica para ajudá-lo em suas decisões.
            Pode acontecer de fazer uma substituição durante uma partida e ela não render o que era esperado. Jogador de futebol é humano, não é uma máquina e depois treino é treino e jogo é jogo, dizia o grande futebolista Didi.
            O Levir pode também errar numa escalação, ou armar  um sistema tático para determinado jogo e não funcionar. Ele também é humano, portanto não é infalível. Acho até que em certas circunstâncias ele é obrigado a colocar o Cárdenas, para ficar na vitrine e ver se aparece alguém querendo contratá-lo. Jogador é patrimônio do clube e gerentes responsáveis têm que zelar pelo patrimônio que administram.
            Levir Culpi jogou, como atleta profissional, durante 15 anos e é técnico de futebol desde 1986. Pode-se dizer que é um vitorioso no meio futebolístico. E você que foi um perna-de-pau, um bola murcha, apenas frequenta uma arquibancada quer saber mais de futebol que o Levir? Falar mal, denegrir o Levir.
            É preciso respeitar o profissional, o ser humano. Pode-se até trocar de treinador. O Muricy é um bom nome. Um baita treinador, tem currículo, tem histórias, títulos, mas isto não é suficiente para sermos campeões todo ano. Muricy não foi. Nem Guardiola com o Barcelona o foi. Ninguém é eternamente campeão. E se fosse perderia a graça.
(escrito por Ildefonso Dé Vieira em 23/11/2015)

Entrevista do Professor Antônio José Barbosa à Folha de Pernambuco

Prestígio ameaçado pela crise

Publicado em 23.11.2015
Para Antônio José Barbosa, atuação do Brasil no exterior é “pífia” 
(Foto: Prefeitura de Curitiba/Divulgação)

Por Daniel Leite
 

Da Folha de Pernambuco
Em 2010, a revista francesa “Le Monde” estampava a bandeira do Brasil em sua capa. A partir da frase “O gigante se impõe”, o periódico relatava o exitoso crescimento econômico do País e colocava a figura do ex-presidente Lula como uma das lideranças políticas mais influentes do mundo. Na mesma época, outra revista francesa, a Les InRocKuptibles, também focou sua atenção no chefe de Estado brasileiro. Com a manchete “Brasil: Onde a esquerda venceu”, a edição também resgatava os principais feitos do governo brasileiro e o avanço das políticas voltadas para o mercado externo. No entanto, após um curto espaço de cinco anos, o Executivo se encontra imerso em uma de suas piores crises. Mas, afinal de contas, até que ponto a inflexão da economia nacional ou os problemas políticos atuais influenciaram na imagem do País no contexto global? Motivada por esta pergunta, a Folha de Pernambuco entrevistou o historiador e professor da Universidade de Brasília (UNB),  Antônio José Barbosa, que traçou um panorama das relações internacionais protagonizadas pelo governo brasileiro. Em sua visão, a atuação do País é “irrisória”, e carece de visão estratégica.

Como avalia a atuação do governo brasileiro, dentro do contexto internacional atual?
Nestes últimos anos, perdemos a oportunidade de estreitar laços comerciais com as economias que se tornaram mais dinâmicas na América Latina, que é o caso do Chile, do Peru e o próprio México. Não por acaso, são esses os três países que estão no tratado Transpacífico, que vai, na verdade, se transformar no grande eixo da economia mundial nos próximos anos. Lá no passado antigo, o mediterrâneo foi o eixo da economia mundial. Desde a idade moderna, o atlântico ocupou este espaço, mas agora o futuro aponta para o Pacífico. Mas é claro, nós estamos de costas e provavelmente vamos perder mais essa chance de integração econômica, efetivamente globalizada, se nós não mudarmos a nossa concepção de política, profundamente marcada por um viés ideológico, que já não faz mais sentido.


Após os recentes ataques terroristas em Paris, a presidente Dilma fez um discurso se colocando à disposição para colaborar com a luta contra o terror. Qual a sua opinião sobre a importância dela no cenário global?
A relevância de Dilma no cenário internacional é pífia. Realmente, ela fez esse discurso diante do grupo do G20. Mas, de fato, a importância do Brasil neste contexto vem perdendo cada vez mais força. Ela até melhorou. Antes dos ataques, Dilma tinha falado que era preciso dialogar com os grupos terroristas. Mas agora adotou um discurso mais coerente. Independente disso, ela vem perdendo força mesmo. Na verdade, desde o início do governo de Lula, o País não tem crescido muito em termos de relações internacionais, apesar de ter se inscrito como a sexta potência mundial, alguns anos atrás. Eu acho que o Lula tem sido um exemplo luminoso do quadro de decadência geral da politica internacional.


No início dos anos 2000, governos como o de Lula, Hugo Chaves (Venezuela), Evo Morales (Bolívia) e José Mujica (Uruguai) ganharam força e traçaram novas formas de cooperação regional. Mas, diante do cenário atual, podemos dizer que a esquerda perdeu força, no contexto latino americano?
Esse ciclo efetivamente está no fim. Não precisa olhar para a Venezuela, que está acabando como País, está se desmilinguido. Não precisa olhar para a Argentina, que foi a mais exitosa economia da América Latina durante boa parte do século XX, mas se transformou nesse quadro que a gente vê hoje. Já o Brasil, com o governo Lula, se esgotou de uma forma até amorasa. No Brasil, em particular, nós vamos reiniciar um novo ciclo, eu acho, aprendendo alguma lição.


Esse declínio está relacionado à falta de novas lideranças carismáticas?
Exatamente, há uma crise de falta de liderança, de gente que saiba pensar que saiba agir, que tenha consciência do papel histórico que representa, da importância dos cargos que estão ocupando. Essa gente não tem mais noção, perdeu-se muito. Nesse cenário, a figura de um sujeito esperto, como é o Lula, faz a diferença. Mas, durante os oito anos de mandato dele, a economia mundial surfou nas melhores ondas que você pode imaginar. Ninguém falou de crise nesse período. Pelo contrário. O preço das “commodities” foram lá em cima e o País se beneficiou disso, ao ponto de Barack Obama (presidente do EUA) dizer que Lula era o cara, porque ele representava os países emergentes. Só que não havia fundamento nenhum nisso, não havia sustentação. Tanto é que o Brasil está vivendo esse quadro que você vê hoje. Praticamente tudo que o governo defendeu, em termos de politica internacional, hoje ele perdeu.


O Brasil ingressou nos BRICS (Bloco econômico formado por (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e vetou a criação da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas, que tinha os EUA como principal ator). O senhor considera essa postura um erro?
Na época de Itamar Franco, a assinatura da ALCA já era questionada. Isso é algo que diz respeito ao hemisfério ocidental, ao continente americano. A criação da ALCA, se ela viesse a acontecer, até poderia representar algo importante, mas isso é tudo no campo da hipótese. Mas o Brasil teve uma posição firme naquele momento e conseguiu, junto com outros países, impedir que uma determinada proposta americana continuasse. Não sei se foi um erro, porque a ALCA nunca chegou a existir. Mas não concordo com a estratégia de usar um argumento contra a ALCA com fundo apenas ideológico, com aquela velha ideia do imperialismo. Isso é um primarismo incabível, inconcebível no atual estágio da economia mundial e da própria história.


A dicotomia entre direita e esquerda prejudicou os acordos internacionais?
Na verdade, Lula é pragmático. Ele nunca foi de esquerda, nunca vai ser esquerda. Ele quer fazer uso do poder e, de preferência, levar alguma vantagem material. A concessão que o Lulapetismo fez, as esquerdas de uma forma geral, sobre aquelas esquerdas mais atrasadas, mais cristalizadas num passado que não existe mais, foi na politica externa. Mas, na politica interna, ele não tomou nenhuma atitude. O que salvou o Brasil, no primeiro mandato de Lula, foi exatamente o fato do Ministro Palocci ter seguido a politica econômica da estabilidade, traçada pelo governo anterior. Com a ideia de apoiar Cuba, por exemplo, a velha esquerda morria de alegria, vibrava. Mas no âmbito da política interna, Lula sabe muito bem que um programa de esquerda colocado em prática arrebentaria com a estrutura do País.


Os programas sociais, como o Bolsa Família, ajudaram no fortalecimento da imagem do País no exterior? O Brasil conseguiu atingir os Objetivos do Milênio, traçado pela ONU, que pregavam a redução da pobreza, entre outros critérios…
Primeiro, os programas de transferência de renda foram inaugurados em governos anteriores. Foi no governo de Fernando Henrique (PSDB) que esses programas ganharam mais consistência, como por exemplo a famosa Bolsa Escola, que foi difundida por todo Brasil. Qual foi o mérito do primeiro governo de Lula? Inteligentemente, ele concentrou todos esses programas já existem em um só, que seria o Bolsa Família. Mas, sempre pensando em uma grande jogada de marketing, ele transformou todos os programas assistencialistas em um “programão”, ampliando um pouco o número de famílias contempladas. Isso, durante um bom tempo, deu resultado. Mas um programa de transferência de renda como este tem um limite. Ele chega até um determinado ponto. Na verdade, não houve uma efetiva absorção desse colossal número de pessoas que viviam na pobreza para a chamada classe media. Hoje, estamos assistindo exatamente uma reversão desse caso. Todos os especialistas apontam para o fato de que, nesse quadro de crise que estamos vivendo, vai haver retorno de milhões de brasileiros para a situação anterior. Infelizmente, não vejo boas perspectivas para o futuro próximo.


Acha que o quadro de crise brasileira foi influenciado pelo cenário global? Ou está mais relacionado à postura adotada pelo governo?
Vamos terminar 2015 de um jeito ruim. Temos a perspectiva de um 2016 muito ruim, com possibilidades baixíssimas de investimentos. Sem investimento, vamos viver naquela de tapar buracos, mas sem nada muito bem sistematizado. Acho que nos vamos demorar alguns anos para sair desse retrocesso, até porque tem coisas que não dependem da gente. Agimos mal nesses últimos anos, em termos econômicos. Erramos nas escolhas feitas. O “Lulopetismo” errou. Por outro lado, vamos ter que esperar a retomada do crescimento mundial. Quando a gente fala de globalização nós não estamos falando de uma entidade espiritual, alguma coisa que está aí vagando pelos ares, não. É uma realidade bem concreta. Não há nenhum País que consiga viver fora dessa grande teia, que é a economia globalizada. Dependemos também de que a economia mundial se recupere. Já tem sinais de que, em alguns lugares, isso já está acontecendo.


A aprovação do ajuste fiscal e o fim das pautas-bomba contribuirão com a retomada do crescimento?
O que estou observando, nesse momento, é que existem setores muitos responsáveis da oposição. O PSDB, por exemplo, adotou uma postura mais responsável nessa semana. O senador Aécio Neves, de certa maneira, tem deixado isso bem claro. Diz que a oposição tem de aceitar dialogar com o governo, sobre pautas que são fundamentais para o País. Acho uma atitude responsável.


Qual seria o impacto de um impeachment da presidente Dilma ou da cassação de Eduardo Cunha na imagem do Brasil lá fora?
Zero, por várias razões. Primeiro, porque o Brasil não tem esse peso no cenário internacional. Segundo, porque o País já demonstrou para o mundo que ele tem maturidade institucional suficiente para superar esse tipo de problema. Em 1992, fizemos o impeachment de um presidente legitimamente eleito e o vice assumiu. No dia seguinte, como diz o eclesiástico, o sol nasceu de manhã e se pôs à tarde, ou seja, a vida continuou absolutamente normal.