sábado, 27 de julho de 2019

José Occhi (Bijica)


José Occhi (Bijica)

A Rua do Fundão (Sete de Setembro) é uma das principais artérias da nossa cidade. Tinha vários casarões. Um deles abrigou a Prefeitura Municipal e uma cadeia improvisada. Antes serviu para abrigar as Escolas Reunidas. E bem antes, este casarão, foi propriedade do Afonso Celso de Assis Figueiredo Júnior, o Conde Afonso Celso (professor, poeta, historiador e político brasileiro), um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Além deste casarão, o Conde Afonso Celso era proprietário da Fazenda Santana.
Pois bem, mas voltando ao casarão do Fundão. Em frente dele, nos idos de 1960, tinha a Barbearia do Sô Nilo, que além de fazer barba e cabelo, fazia a cabeça de muita gente, principalmente quando o assunto era música. Executava, com maestria vários instrumentos, com destaque para o violão, violino, cavaquinho, bandolim e banjo.
Assim que escurecia, início da noite, Sô Nilo guardava tesoura, navalha, giletes, aqua velva, talco, álcool, avental, pincel, pentes, cubas e potes, perfumes e lavandas. E tirava dos armários maracá, afoxé, pandeiro, reco-reco, caixa de som, amplificador, microfone e colocava-os à porta da sua barbearia. E iam chegando os cantores, ritmistas, público em geral, para assistirem ou participar de mais um show musical.
Eu, nesta época, criança, por vezes, escapulia da vigilância da minha mãe e ia espiar, à distância, este espetáculo gratuito, ao ar livre, na Rua do Fundão.
E me lembro de alguns dos artistas deste improvisado show. Sô Lau (Carlos Victor Pereira), cantava sambas, tocava pandeiro; Landinho Estulano cantava modinhas, tirava sons do afoxé; Josias do Pombal, além de cantor, era compositor, autor do “Footing no Fundão”, um samba sincopado; Bebeto Ramos e Zé do Gil também cantavam. O Jeová, voz de tenor, imitava o grande Vicente Celestino; o Zé Fio (Barão), voz tonitruante, cantava músicas de Jorge Veiga e Moreira da Silva. O Vicente do Dario, neto do Chico do Padre, imitava o Miltinho.
Frequentava também a barbearia, como aluno de do Sô Nilo, o Domingos Coelho da Silva, autor de uma das mais belas canções exaltando a nossa terra com o majestoso nome de “Guidovalense de Guidoval”. Outro que por vezes aparecia era o Zé Manga Rosa, um grande violonista.
O Sô Odilon Reis, alfaiate, coletor, exímio violinista, sempre aparecia dando uma canja aos ouvintes. Se déssemos sorte poderia ouvir o violão de João (Queiroz do Pinho)  a quem o Sô Nilo dedicou um belo chorinho. Esta sorte eu não tive.
E diante tantos músicos e cantores, um sempre referenciado e lembrado era o José Occhi, conhecido pelo apelido BIJICA, filho do Sô Orestes, um italiano que escolheu Guidoval para criar a sua Família eque tanto enriquece a história do nosso município.
Também não tive a sorte de ver o Bijica se apresentando na Barbearia do Sô Nilo. Só vim a conhecê-lo muitos anos depois, por volta de 1974, quando ele apareceu no Bar do Oscar Occhi, seu irmão. Estávamos em plena cantoria, Sô Nilo, Sô Odilon, Carminha do Virgílio, Professor Salim.
Assim que o Bijica entrou no bar fez-se um silêncio total. Era como se estivesse adentrado o recinto uma celebridade. E o Bijica era, para nós guidovalenses, uma celebridade. Todos o considerava a mais bela voz masculina de Guidoval. Depois do silêncio, foi uma troca geral de abraços entre amigos.
De todos os abraços, o que mais ficou retido na minha memória foi o do Maurício Queiroz, filho do Sô Nhonhô e Dona Zélia, amigos desde a infância e que há muito tempo não se viam.

ERA FESTA DE SANTANA, TEMPO DE CONFRATERNIZAR, ABRAÇAR OS AMIGOS, AGRADECER AS BENESSES DA PROVIDÊNCIA DIVINA, SOB A INTERCESSÃO DA PADROEIRA SANTANA.

Depois o Bijica deu cantou músicas que foram e eram sucesso na voz de Gilberto Alves, Nelson Gonçalves e Orlando Silva. E a voz do Bijica não ficava devendo nada a estes astros dos tempos do rádio.
A segunda vez que encontrei-me com o Bijica foi numa OUTRA Festa de Santana. No local onde é a residência do Márcio Barbosa era um lote vago que pertencia ao querido Dr. Mário Geraldo de Meireles. E neste local instalaram um barzinho improvisado onde tive a honra de acompanhar, ao violão, o Bijica.
E a terceira vez que foi em 1978, em plena terça-feira de carnaval, o Professor Ibsen Francisco de Sales (Salim) intimou-me a abandonar o baile momesco no “Clube Francisco Campos” para acompanhar o Bijica (José Occhi) numa serenata.
A princípio, tentei adiar o evento para um outro dia. Não consegui. Salim usou de argumento “ad populam” (*). “Foi golpe baixo mesmo, do tipo”não conte mais com minha amizade”, “nunca mais fale comigo”.
Cedi-me à sua lógica, renunciei-me à folia e fomos à serenata. O Bijica com a sua voz melodiosa, a mais bela da história de Guidoval, parecia o flautista de Hamelin. Quase metade dos foliões desistiu do folguedo para acompanhar e ouvir o Bijica.
No mínimo, sem exagero, uns 50 carnavalescos deixaram o salão para acompanhar a serenata, ouvir o Bijica.
Durante o percurso da serenata o cordão foi só aumentando. Sem dúvida, uma serenata memorável, patrocinada pelo romantismo e insistência do Salim, carregando um litro de conhaque e outro de campari para matar a nossa sede. 
Agora, a Prefeita Soraia inaugura o Bairro José Occhi (Bijica) com um conjunto habitacional de 120 casas. É uma homenagem ao Bijica, mas eu considero uma grande homenagem à toda Família Occhi.

A gratidão é um dos mais nobres sentimentos. Uma virtude.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Procissão de São Cristóvão - 25/07/2019


Procissão de São Cristóvão

Iniciada em 1948, tendo como pioneiro o Felício Siqueira (Neném do Felício) que adquiriu a imagem de São Cristóvão na cidade de Petrópolis.

Depois teve prosseguimento sob a coordenação do saudoso enfermeiro Renato Ramos e em seguida contou com a colaboração do seu irmão caminhoneiro Amaro Ramos Filho que percorria, à pé, todo o trajeto da procissão.

Nas últimas décadas sob a liderança do Alberto (Bebeto) Ramos a carreata aumentou, e muito, em número de veículos (automóveis, caminhões e motos).

Em 2006 foram 297 automóveis, 5 caminhões e 52 motos.

Este ano não teremos a presença física do BEBETO RAMOS que faleceu no dia 28/06/2019, mas espero que outros motoristas ou devotos de São Cristóvão mantenham esta tradição de Fé.


Oração a São Cristóvão

Ó São Cristóvão, que atravessastes a correnteza furiosa de um rio com toda a firmeza e segurança, porque carregáveis nos ombros o Menino Jesus, fazei que Deus se sinta sempre bem em meu coração, porque então eu terei sempre firmeza e  segurança no guidão do meu carro e enfrentarei corajosamente todas as correntezas que eu encontrar, venham elas dos homens ou do espírito infernal.

São Cristóvão, rogai por nós.

terça-feira, 23 de julho de 2019

Dr. Ronaldo Ribeiro dos Santos

Dr. Ronaldo Ribeiro dos Santos

Falarei tudo que souber de bom de um homem”, muitas vezes ouvi o meu amigo Ronaldo, o Dr. Ronaldo Ribeiro dos Santos, pronunciar esta frase. Ele se referia ao aforismo de autoria do escritor, filósofo e poeta estadunidense Ralph Waldo Emerson. A frase encontrava-se no interior do ônibus do Sô Elísio Avidago, um grande empreendedor guidovalense.
Falarei tudo que souber de bom de um homem” é o que tentarei fazer nas próximas linhas sobre o meu saudoso amigo Ronaldo que me chamava de jornalista, numa fina ironia em forma de elogio.
Em 1962 éramos vizinhos na antiga Rua Conde da Conceição, hoje João Januzzi. A casa dos seus pais, o comerciante Jésus Ribeiro e a Professora Aracy Franco, acolhia a criançada de toda a região. Tinha uma pista, uma cancha, um cantinho para se jogar “birosca”, a popular bolinha-de-gude.  E na varanda, aos fundos, tinha uma mesa de pingue-pongue, tamanho profissional. Foi nesta mesa que vi o Ronaldo jogando contra o Sérgio Vieira, um carioca, sobrinho da Professora Ivone da Conceição Vieira Pereira, a Dona Ivone do Sô Tuninho Estulano, o maior goleador e artilheiro do Cruzeiro de Guidoval.
O estilo de jogo do Ronaldo era agressivo, um craque nas cortadas. Já o jogo do Sérgio era defensivo. Usava uma raquete especial, recoberta de borracha. Defendia as cortadas devolvendo a bola com muito efeito. Ora vencia o Ronaldo, ora vencia o Sérgio. Partidas memoráveis que ainda guardo na memória. É desse tempo que me vem a primeira lembrança do Ronaldo.
Nessa época, o Ronaldo tinha uns 16 anos, um adolescente e eu uma criança de 10 anos. O Ronaldo já estudava fora. Passou por Visconde do Rio Branco, Colégio Dom Helvécio em Ponte Nova, depois Juiz de Fora e Rio de Janeiro, onde formou-se em Medicina.
Outra recordação que guardo do Ronaldo é do dia 25 de julho de 1967. Nesta data, o grande amigo, em comum, Marcus Cremonese apresentou o seu memorável poema “De como eu amo uma cidade”. Uma ode à nossa Guidoval.
O evento foi no cinema do Severino Occhi. E juntos, acompanhando o Marquim Cremonese, os inseparáveis amigos Ronaldo Ribeiro, Oscar Matos, Vanderlei Vieira e Fabiano (Bim do Manezim).
Uma das paixões do Ronaldo era música. Sempre atualizado com os movimentos musicais. No início da década de 60 surgia a bossa nova com os gênios João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Carlos Lyra e Menescal. Os conjuntos vocais Os Cariocas, Tamba Trio, Zimbo Trio, Os Bossa Três, Jorge Autuori Trio. E o Ronaldo tinha discos de vinil desta turma toda.
Não satisfeito apenas com a Bossa Nova, Ronaldo enveredou pelo Jazz e Blues. E a paixão maior de todas pelo Frank Sinatra o “The Voice”.
Um grande elogio à inteligência do Ronaldo quem me fez foi o meu outro grande amigo Dr. Jorge Sobral Venâncio. Disse-me ele que o Ronaldo estava à frente do seu tempo. O Jorge revelou-me que tentava acompanhar o ecletismo musical do Ronaldo. Quando o Jorge começo a gostar de Bossa Nova o Ronaldo já percorria as trilhas do Jazz, do Blues, para finalmente desaguar no cancioneiro de Sinatra.
Ronaldo curtia filosofia, literatura, música, culinária e vinhos. Quando muito jovem andou flertando com o Comunismo, doença juvenil que curou com leitura e experiência de vida.
Nos últimos tempos exaltava o Olavo de Carvalho. Recomendava-me ler os seus livros e artigos. Li alguma coisa. Não gostei.  Era um entusiasta dos EUA.
Indicou-me a leitura do livro “Os Magnatas” de Charles R. Morris. Comprei. Li. Gostei. O livro descreve os inventores da supereconomia americana, os pais do capitalismo: Andrew Carnegie (siderurgia), John D. Rockefeller (Petróleo), Jay Gould (Ferrovias) e J.P. Morgan (Banco). Recomendo a leitura.
Bom filho, irmão e amigo, quando a sua mãe, a Professora Aracy Franco Ribeiro dos Santos, precisou de atendimento médico, fechou o seu consultório médico, desmarcou consultas, refez a sua agenda, e veio cuidar da mãe.  
Adquiriu a Fazenda que pertenceu ao Sr. Eduardo Occhi. Esta vida de fazendeiro nos finais de semana o pôs em contato com os agricultores da região.  E vendo que desses lavradores enfrentava o nosso sol com a cabeça desprotegida comprou um chapéu  e o presenteou, recomendando-lhe o uso constante para se resguardar da ação dos maléficos raios ultravioletas.
No Rio de Janeiro, um gerente da Caixa Econômica Federal desburocratizou os famigerados processos de financiamento do seu apartamento. Como agradecimento o Ronaldo convidou-o e a família para passar um fim de semana em Guidoval.
Lourdes, minha esposa, e eu pegamos carona nesta recepção, pois o Ronaldo, nos vendo na cidade, nos convidou para almoçar em sua casa. E lá fomos provar a doce hospitalidade da Dona Aracy e um indescritível Arroz com Suã feito pela mestre culinária Iraci do Cuca. A ela cabe, sem trocadilho, o título de Mestre-Cuca. A refeição foi servida pela simpatia da Simone. À mesa, além da anfitriã, Rosa Occhi e Conceição Áurea. Um bom vinho português nos acompanhou numa tarde de prosear instigante e inteligente sobre música, literatura e coisas menos importantes. Garanto que o casal de cariocas jamais esquecerão desta hospitalidade. Eu não me esqueço. Aliás, hospitalidade é uma marca da nossa gente. Será que vem dos franceses, da D. Maria Victória Rosier, esposa de Guido Marlière?
Outro que sempre contou com este acolhimento afetuoso foi o seu amigo Lívio Maia, arquiteto, mineiro radicado no Rio de Janeiro. Viviam às turras por divergências ideológicas. O Lívio um Comunista convicto, o Ronaldo um Capitalista radical.
Conflitos que arranhavam a admiração recíproca. Os amigos não são perfeitos, mas em sendo amigos de fato, defeitos passam a inexistir.
Com o Ronaldo aprendi a saborear o que ele chamava de “Boudin avec Banane”, que na verdade nossa, mineira, é simplesmente “chouriço com banana”, mas realmente é muito bom para acompanhar um bom vinho.
A última vez que vi o Ronaldo, em vida, foi na véspera de seu aniversário em julho dia 22 de julho de 2013. Fomos visitá-lo no Rio de Janeiro. Estava hospedado e aos cuidados da zelosa irmã Marília. Debilitado pela doença, mas com um brilho nos olhos de quem merece a eternidade.
Hoje, dia 23/07/2019, Ronaldo completaria 73 anos de idade. Que DEUS continue abrigando a sua alma.
Algum poeta já disse, repito: “Um amigo não morre, vira estrela!”

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Professor Ibsen Francisco de Sales (Salim)


Professor Ibsen Francisco de Sales (Salim)

A primeira lembrança que guardo do Professor Ibsen Francisco de Sales vem do final de 1963. Eu tinha 11 anos e o professor nascido em 29 de janeiro de 1920 já completara 43 anos de idade.

Ele e o ex-prefeito José Pinto de Aguiar (Zequinha do Casin) criaram um cursinho preparatório para “Admissão” ao Ginásio.

Terminava eu o 4º ano do grupo escolar com a querida Profª Élvia Reis de Andrade. E com os ensinamentos destes Mestres ingressei-me, em 1964, no Ginásio Guido Marlière fundado pelo Professor Ernani Rodrigues.

E neste educandário tive o privilégio de ter o Professor Ibsen Francisco de Sales lecionando Português.

A sala era composta de alunos novatos e veteranos, repetentes contumazes. Ia de desatentos a rebeldes, de tímidos a bagunceiros. Nada que uma boa reprimenda não controlasse a classe. Aos mais afoitos ameaçava-lhes bater com uma gigantesca vara de talo ubá que lhe fazia companhia. Intimidação esta nunca levada a efeito, mas o suficiente para acalmar petulantes e assim poder explanar as suas inesquecíveis aulas. Para se ter idéia do encantamento dessas aulas, até hoje são rememoradas por saudosos alunos.

Em 1965 fui estudar no Colégio Agrícola de Rio Pomba, mas quando em férias em Guidoval e aparecia uma oportunidade eu corria para assistir às suas aulas. Quem não se lembra das encenações e histórias como a do “ME DÁ MEU ANEL...” e outras invenções de sua mente criativa.

Quando ouvia alguém dizer “PRA MIM FAZER”, Salim bronqueava desesperado, dizendo: “MIM NÃO FAZ NADA”. Aprenda de uma vez por todas: “PARA EU FAZER.”

Ia esquecendo-me de dizer que apesar do nome IBSEN, provavelmente em homenagem ao grande dramaturgo norueguês, era mais conhecido pelo apelido SALIM, alcunha adquirida, creio que, na infância.

Tempo passou, e de criança cheguei à adolescência, tornando-se amigo do Salim na boemia, prosa, versos e canções. E no início dos anos 70, em noitadas no Bar do Tio Oscar Occhi, juntos com Sô Nilo, Sô Odilon Reis, Carminha do Virgílio, poeta José Geraldo, Zim do Sô Nego e muitos outros amigos, proseávamos e cantávamos.

Um dos pontos alto do que poderia ser considerado um “sarau musical” era quando o Salim recitava “Rapsódia Negra”. Ele transformou o fantástico texto Martins Fontes, uma prosa em poesia onamatopéica.

Em 1.999, no site que fiz para a nossa Guidoval, criei o “Cantin do Salim” que pode ser acessado no link abaixo:


Nos próximps posts colocarei no Facebook no Grupo “Quintal de Guidoval” algumas informações sobre o meu saudoso amigo SALIM.

Em 19 de junho de 2001, enviei uma correspondência à 14ª Câmara Municipal de Guidoval sugerindo aos vereadores, que exerciam o mandato à época, o nome do Professor Ibsen Francisco de Sales para receber o “Título de Cidadão Guidovalense”. E na Festa de Santana, daquele ano, a nossa Câmara Municipal lhe homenageou outorgando-lhe o merecido título benemérito.

O Professor Salim já andava adoentado e não pode comparecer à cerimônia e foi representado pelo saudoso conterrâneo Ivo Câncio dos Reis, esposo da sua sobrinha Glorinha.

No dia 17 de setembro de 2001, minha mãe telefonou dizendo do falecimento do grande mestre Salim. Não pude comparecer ao enterro. Rezei minhas fracas, mas sinceras, orações por sua alma.

Que DEUS O TENHA E O GUARDE SEMPRE.

 
(Professor Ibsen Francisco de Sales e irmãos)