sábado, 14 de janeiro de 2012

Histórias de Guidoval

                                            escrito por Maria José Baía Meneghite

Num tempo bem distante, onde a utilização de veículos era um luxo só permitido aos mais abastados, o problema de transporte era perfeitamente resolvido com um bom cavalo, animal de grande valia naquelas paragens onde o progresso ainda caminhava a passos bem lentos. Pelo que sei, lugarejos pequenos como era na época "o Sapé" conseguiram  elevar-se à categoria de  cidade,  mas o tão desejado desenvolvimento demorou um pouco a dar as caras por lá.
Deixando de lado as considerações sobre o progresso, devo dizer que a história aconteceu no lugarejo denominado Ribeirão Preto, situado   entre Sapé, hoje Guidoval e Guiricema.
     Naquele tempo, um casamento ou batizado era garantia de festa, comida boa, farta e uma oportunidade de reunir parentes e vizinhos, coisas que mais e mais se escasseiam devido ao corre-corre em que vivemos.Nos dias atuais  os casamentos, ainda são motivos de grandes festas e  devido à pompa com que são preparados definitivamente deixaram de lado a simplicidade  dos antigos festejos. Estes, ficaram só na memória de quem os assistiu ou deles ouviu falar como eu. Mas voltando ao batizado quero esclarecer que meu avô com quem tive pouco contato devido a seu prematuro falecimento, era homem de hábitos e costumes que fugiam aos padrões convencionais. Explico: Não era muito dado à dureza do campo.Deixava tudo para depois e não fosse a garra de minha avó, mulher forte, descendente de europeus, muito inteligente e culta, a vida teria sido bem mais difícil. Com relação aos hábitos diferentes do Sr. Pergentino, uma de suas manias, era deixar que os filhos crescessem para depois batizá-los, dois, três ou mais numa mesma data. Minha mãe fez parte de uma destas levas quando já havia completado 14 anos. Corria o ano de 1942,  uma manhã ensolarada de primavera, o cortejo do batizado solenemente entrava na pequena Sapé de Ubá, hoje Guidoval, exibindo seus melhores cavalos e suas melhores indumentárias.Minha mãe, Mariana, logo chamou a atenção de um rapaz que estava perambulando pelos arredores da sapataria do Sr. Nestor. Seu Nestor, percebendo o interesse do rapaz e  tendo nas mãos uma sandália branca,indagou: ô Dionízio, sabe de quem é esta sandália?  É da filha mais nova do Pergentino,  que vai ser batizada hoje com 14 anos! O rapaz ficou intrigado e resolveu retardar sua volta para casa e esperar o batizado para confirmar o que o Nestor havia dito. Assim fez, esperou o batizado.
     O cortejo já aguardava na casa do Tio Otacio e da tia Dagmar o horário marcado para o batizado na antiga igreja de Santana. Na hora marcada, todos entraram na igreja e com grande devoção à Mãe Santana, participaram da cerimônia.
     Ao final, dirigiram-se aos cavalos que amarrados em frente a igreja esperavam pacientemente. Seguiram rumo a Ribeirão Preto onde os esperava um lauto almoço. Dionízio seguiu à distância pois morava um pouco mais à frente mas não participou da festa por ser um completo desconhecido.
     Não será preciso explicar que o destino se encarregou do resto. Tempos depois Dionízio e Mariana se casaram. O casamento foi realizado em Guiricema e obedeceu ao mesmo ritual do batizado: todo o cortejo à cavalo.
      Segundo relato de minha mãe, ela, a noiva, vestia um traje branco (roupa especial para cavalgar)impecável e conduzia seu animal com carinho e elegância, pois cavalgava muito bem.Chegando a Guiricema, dirigiu-se à casa de conhecidos  para se trocar  e em seguida entrar na pequena igreja vestida de noiva. A volta foi  como de costume: todos seguiram para o pequeno sítio do meu avô Pergentino da Costa Barros,  onde um   banquete os aguardava   não faltando  a tradicional leitoa assada em forno de barro, e diversas iguarias como se usava em festas de casamento.Minha mãe sabia como ninguém descrever os pormenores da festa e talvez seja este o motivo pelo qual esta história sempre esteve atrelada às minhas memórias afetivas.  Embora dela não tenha participado, eu a ouvi várias vezes, contada por  meu pai e mesmo pela minha mãe. Hoje eles não estão mais aqui mas tenho certeza que o destino os aproximou e eu acredito numa frase de autor que não conheço que diz: "O destino decide quem passa por nossas vidas.O coração decide quem fica"...

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