sábado, 15 de maio de 2010

Sou do tempo...


Em 07/11/2007, recebi um e-mail do meu amigo e irmão José Maria de Matos.


Nele, o anexo “Recordar é Viver” falando que é DO TEMPO distante, chamado tempo do Onça, das Casas Pernambucanas, do buscapé, rojão e balão.


Do tempo do xarope São João, Melagrião, penicilina e neocid, Óleo de Fígado de Bacalhau, Emulsão de Scott e o Rhum Creosotado.


Do tempo da Cafiasprina, Biotônico Fontoura, Bicarbonato de Sódio, Sonrisal, Cibalena e Veramon.


Do tempo da lança-perfume, do confete e da serpentina, do carnaval de salão, da calça de tergal, boca-de-sino, da blusa ban-lon, do tecido terylene.


Do tempo de usar no cabelo brilhantina, laquê, glostora e do gumex.


Do tempo das matinês, dos seriados, filmes do Rin-Tin-Tin, Zorro e Tarzan.


Do tempo de disputar figurinhas no jogo de bafo, ler o almanaque Tico-Tico, assistir o humorístico Balança Mais Não Cai.


E o meu amigo Zé Maria emendava:


“Sou deste tempo e mais: do tempo do Zé Boióta, do Tuniquim, da Sá Lóida, do Zé Bento, do MALA (viu Dé), do Neguitinho, do Virgílio (grande sacana) no bom sentido, do PERILO, do Pinduca, do Campolino (morava na pensão do Sô Quinca), do Manga Rosa e seu violão, do Bar do Jésus Fernandes, das noitadas do Odilon Ribeiral, do Joca, da Cachoeira , das minhas cachaçadas intermináveis e terminava na "pracinha do Arlindo" esperando a Rua Santa Cruz passar, para que eu pudesse ir para casa. Bons tempos...”


Incontinênti respondi:


Amigo Zé Maria,


Também sou desse tempo, quando em Guidoval perambulava pelas ruas inúmeros “malucos-beleza” que não faziam mal a ninguém. Era o caso do Agripino (quem matou o coroné?) ou do Teteco, Quirino, ôsprum, ô Lôco, Ilda Quiabo, Zé das Latas.


Pensa que acabou. Cabô não.


Tem mais.


Os recadeiros Kael e Manoel da Sá Joaquina, o menino-teimoso Elpídio, o irrestível conquistador Fenderracha, nossos eternos tipos populares como o Mané Toma-Broa, o surdo Enéas, o negro Damião José, o sorridente “fumeiro” Tuniquim, o lenhador-glutão Joviano.


Bons tempos aqueles do '”falou tá falado” de Bié Linhares e “chuva chove no molhado” do Vovô Marcílio.


Das várias bandas de Música. A Lira Sapeense, Belarmino Campos e Francisco Batista. Os talentosos maestros Moysés Mineiro, José Cordeiro, Belarmino e Álbero Campos, Zé Negueta, Sô Tute, Luiz Pinheiro e Zé Balbino.


Os fantásticos instrumentistas Odilon Reis, Sô Nilo, João Queiroz (do Pinho), Zé Afra, Zé Boiota, Zé Manga Rosa, Zé Vieira (flautista), toda família do Juca Alfaiate e o bombardino do Zico Sapateiro (José Ferreira Cezar).


Os nossos cantores-seresteiros Jeová, Sô Lau, Josias do Pombal, Zé do Fio (Barão), José Occhi (Bijica), Bebeto Ramos, Landinho Estulano e Zé do Gil.


O que seria da história de Guidoval sem o Belo. O ferreiro Belo que colocava bilhetes na porta do seu estabelecimento como “Belo mudô, difronte do Trajano, dibaixo do Otaço” ou ainda “Belo saiu, Belo foi murçá, Belo não demora, Belo vórta já”?


E o ferreiro Sebastião Franco, Tatão Peru e Sebastião Papagaio. Até Angelino Moreira põe as suas asinhas em canecos, baldes e canecões.


E os nossos flamenguistas? A saudosa Nilza Ribeiro, toda família de João Matos, Severino Occhi, Artur Lagartixa, Vianelo (ancião) Silva, Natalino Dornelas e sua prole.


Tem ainda Adão Nogueira, (hoje mais Atleticano) Zé Júber (bebeu querosene) também mais Atleticano e Antônio Matos (hoje mais Cruzeirense), mas “Uma vez Flamengo, sempre Flamengo”.


E o bife acebolado do Bar do Oscar Occhi, os pastéis da D. Mimi Ramos, o picolé do Tarcisio?


E os nossos ZÉS? ZÉ do Brejo, Manga Rosa, Boióta, Afra, Bento, Timóteo, Negueta, Balbino, Fendederracha, Vieira, Bonifácio, Firmino, Pequeno, Braga, Dilermando, Cusati, Albino.


E as nossas MARIAS? Maria do Pombal, Lepoldo, Benzedeira, Triste, Caboclo, Tatanita, Sabiá, Pereira.


Onde anda a égua fora-do-prumo do Nicélio ou a charrete “com toldo” do Quizin Pinto.


Os ferradores de cavalo. Zé Bento e Sô “Gome” com os seus martelos, torquês, puxavante, ferradura e cravos.


Vale lembrar o conterrâneo Ascânio Lopes QuatorzeVoltas que foi para Cataguases e fez parte da “Revista Verde”?


E a beleza de nossas mulheres cantada em versos pelo Dr. Campomizzi que se casou com uma conterrânea nossa.


E as acirradas disputas políticas PR / PSD? E os “BENTOS”?


E os carreiros de bois. Zé Coelho meeiro do Vovô Ildefonso Gomes, Pedrinho Ribeiral, Xará, Zé e Cavaco do Sô Tão, Chico Laureano, Tida Venâncio e João Natale.


E o boi “Escovado” do João Vitório que dava galopes e esfregas nos toureiros que ousavam enfrentá-lo?


Os nosso salões de barbearia? Zé Ferreirinha, Elzo e Zé de Barros, Alan,Sô Nilo.


A lingüiça feita em álcool no Bar do Jésus Fernandes, mas bom mesmo para conversar fiado na sapataria do Silivestre que fingia trabalhar com a sua sovela (suvela)?


Bons tempos amigo José, tempos que não voltam mais.


Abraços a todos,


Dé do Zizinho do Marcílio (Caboré até debaixo d'água)


PS1:

A Larissa com apenas dois anos de vida já consegue a proeza de unir mais ainda as nossas famílias.

Ela, através do aniversário, me proporcionou um final de semana especial em sua casa, com hospitalidade e muito carinho.

Obrigado por sua amizade.


PS2:


Prezado Zé Maria,


Imperdoável.


Esqueci do Tião Josué. Fã incondicional da Corporação Musical Belarmino Camos. Partiturista, partitureiro, nenhuma dessas palavras estão nos dicionários, mas era o que ele fazia. Saía ao lado da Banda, carregando as partituras das peças a serem executadas, distribuindo-as e substituindo-as, quando necessário.


Tinha uma dicção que ficava a desejar e, além disso, falava muito depressa.


Sô Odilon Reis me contou que ele ia dizendo para o povo que estava ouvindo e assistindo o cortejo: “A Bâûnda do Belo é boa!!!”, “A Bûnda do Belo é boa!!!”, “A Bûûnda do Belo é boa!!!”.


Acrescento: “Realmente, a Bunda do Belo era boa!”.


A Madalena, irmã do Tião Josué, outra figurona, não tem figuraça no dicionário, eu gostaria de dizer figuraça. Pois bem a Madalena Josué no dia de seu aniversário saia às ruas avisando a todas da sua data natalícia, e é claro, pedindo presentes pela data, que era 29 de junho, Dia de São Pedro, “igualizinho” eu.


E o Dimas Jacaré, porteiro do cinema do Severino.


E o padeiro Pujonas, eterno reserva do 2º quadro do Cruzeiro.


Tenho um amigo, não vou dizer quem é, que em certa ocasião encontrou- o trabalhando numa padaria em Cataguases. Quis saber o que ele lá fazia? O simplório Pujonas respondeu: “Sou reserva de padeiro”.


Daí podemos concluir que quem nasce para reserva nunca chega a titular, a não ser no reino de Deus, que não comporta discriminação e acolhe a todos, de todas as raças e religiões.


E o Cuca???


“Tira o Cuca”, “Deixa o Cucaí”. “O Cuqué é ponta”. “ O Cuqué é linha”.


E o Odilon Pelé, Odilon Bioteca que dizia:“Este time não tem vestial”, “Este time não ditoria”.

Como esquecer da Pedra Misteriosa do Vianêis.


E as Bielas, as irmãs Bielas? A Olga sabe das Bielas.


Zé Maria, ando muito esquecido.


Abraços,



RESPOSTA DO ZÉ MARIA a este POST:

Cara,

Teletransportei-me no tempo e me encontro "andando" pelas ruas de nossa Guidoval sob a luz difusa da lua das noites frias.

Às vezes "encharcado" de Mé, outras,e quantas outras inebriado, sem saber, naquele tempo, da MAGIA do GUIDOVAL.

Rebusco na memória, casos passados, histórias contadas de geração em geração, calado,tomando uma CERVA gelada, uma lágrima furtiva rolando teimosa na face.

Recordações, saudades, amizades antigas, amigos que se foram, e permanecem sempre conosco (Cândido, Papai, Caburé, Zizinho, Cumprade Natalino, Sô Ita, Tito Dilermando, Sr. Astolfo, Severino, e mil mais, que fizeram e moldaram nossas vidas, com o exemplo.

A lágrima teima em rolar, e eu deixo,sorrio as vezes, e ela teima em rolar, rolar, molhando meu rosto e lavando o meu coração.

Um sábado de graças para mim.
Abraços,

Um comentário:

Plinio Augusto disse...

Oi Dé,

Vou além nesse tempo, sou do tempo do "Bromil,o amigo do peito" e do "Grindélia de Oliveira Júnior:oi!" que tinha um gingle curto, bonito e comunicativo. Me lembro também, lá pelos idos de 1959, de uma propaganda nas partes internas dos Bondes em Belo Horizonte que dizia: "Veja ilustre passageiro, o belo tipo faceiro que você tem ao seu lado. Mas quase morreu de bronquite! Salvou-lhe o Rhum Creosotado."
Sobre os carreiros, lembro-me ainda do Tataco que tinha uma junta de bois de "coice" que puxava o carro se empurrando mutuamente para o lado oposto. O nosso conterrâneo Professor Ronon Rodrigues, quando via algum casal de namorados caminhando e se inclinando ombro a ombro, ele dizia: "parecem com os bois do Tataco". Mas só quem conhecia esses bois que poderia entender a piada.
Fato mesmo é que em nossa querida terra tudo é história, na sua grande maioria alegre, história essa feita por gente muito simples e humilde, mas que deixou sua marca nessa vida. Sem contar com histórias ainda muito vivas, como o Mundico, o Bebeto Ramos e o Maurício do Sô Nhonhô.
É muito agradável poder relembrar coisas como as que estão expostas no BloGuidoval. Com certeza os guidovalenses são saudosistas no bom sentido. Não pretendendo que as coisas sejam como no passado mas, se alegrando por ter estado lá e estar aqui, agora e bem vivos para poder recordá-las.
Plinio Augusto de Meireles