quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

UTCL: Retorno aos tempos de lixão?

Sobram irresponsabilidades quando o assunto é tratamento do lixo em Guidoval

escrito por Rodrigo Marques de Oliveira

Guidoval possui uma Usina de Triagem e Compostagem de Lixo, UTCL. Por ser elo importante na cadeia da reciclagem, deve operar plena e regularmente e ser obediente às leis ambientais, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos munícipes.

Porém, ao longo dos últimos anos, a grande quantidade de lixo produzido pela cidade, somado ao mau gerenciamento da coleta vinha desalinhando a correta operação da UTCL municipal. Como resultado, a usina está parada desde dezembro.

Mas, o incêndio ocorrido em dezembro, sobre o qual fez-se o boletim de ocorrência e foi acompanhado pela polícia não é ou foi a causa da sua (dela) estagnação. Sem menosprezar o incidente (...), conscientemente sabe-se que um telhado de poucas dezenas de metros quadrados não precisa de muitos dias para ser refeito. Ainda mais quando a prefeitura recebe o apoio financeiro proveniente do ICMS ecológico. Guidoval recebe entre 11 e 14 mil Reais por mês de incentivo para investir nas questões ambientais. Haja vista o registro da UTCL junto ao Conselho de Política Ambiental (COPAM), sob o número 033/1998/02/2000. Portanto, não há razão para se cruzar os braços e se passar por “coitadinho”. Tão pouco cometer crimes ambientais sob a alegação de um incêndio.

Com o fadado acontecimento e a aliada falta de observância das leis, a UTCL de Guidoval padece a passos largos. A seqüência de desordem e crimes ambientais impressiona.

Indo aos fatos. Dias após o incêndio, todo o lixo molhado e queimado foi removido. Infelizmente, a decisão tomada foi enterrar tudo o que foi retirado de dentro da usina, em valas abertas a meio caminho entre ela e o Rio Xopotó. É sabida a quantidade de olhos d’água que surgem naquela região no período de muita chuva. Se existe uma usina cuja finalidade é atuar sobre a questão do lixo e se existe uma área limitada para tal, por que retirar o lixo desta área de controle e enterrá-lo às margens do rio!?

Mais. Parte do lixo coletado diariamente na cidade vinha sendo enterrado em frente ao terreno da usina em covas abertas e cobertas a revelia. Foi o que se verificou no fim de dezembro e persistiu em janeiro.

Até o fechamento desta edição, nenhuma medida havia sido tomada para recompor o telhado da UTCL, atingido pelo fogo. Mesmo se tratando de um telhado modesto, feito de materiais vendidos a preços muito acessíveis e tendo a garantia do recebimento do ICMS ecológico. A prensa motorizada, utilizada para construir fardos de material reciclável foi esquecida sob o tempo, sujeita a sol e chuva. Se não foi totalmente danificada pelo fogo, sê-lo-á pela irresponsabilidade e descuido por não tê-la abrigado das intempéries após a queda do telhado.

Mais. Quando ocorreu o incêndio, o pátio de compostagem possuía diversas leiras de composto em tratamento. Dois dias depois, estava vazio. Se havia composto imaturo e potencial contaminador, pra onde foram levados? Composto é composto. Deve ser tratado, portanto no pátio de compostagem. Deve ser cuidado até chegar ao ponto ideal de ser levados para agricultura, jardins de praças, etc, sem o risco de contaminação. Se foi enterrado em valas irregulares, houve crime ambiental. Se encaminhado para a área de rejeito, reduziu grandemente a vida útil da usina. Além de ser um erro grave de protocolo da administração, segundo estabelecido pela Fundação Estadual do Meio Ambiente -Feam.

Mais. Outra parcela do lixo recolhido ao logo dos últimos dias foi lançada entre o escritório da usina e o seu pátio de reciclagem. Outra parcela seguiu para a área de rejeitos, comprometendo a vida útil. São toneladas de lixo tratados de forma irregular diariamente.

O gerenciamento do lixo tem deixado a desejar. Minimamente, os munícipes esperam o reconhecimento das cumulativas e inaceitáveis falhas ocorridas num mundo onde o acesso a informação é tão rápido e livre. Também espera-se, “pra ontem” a correção desta lamentável situação. Há falta de treinamento e conhecimento claros. E será sobre a população que recairão as agruras desses malefícios causados ao meio ambiente. Ou alguém conseguiu se esquecer da enchente de 2008?! Sobre a administração recairá a austeridade das leis administrativas e ambientais se o norte não for retomado.

Guidoval trocou um valioso cenário de destaque, de exemplo pela usina de compostagem que tinha há alguns anos; por um cenário de lixão, de desobediência às leis da natureza e às leis dos homens. Coligiu um troféu que não merece comemoração.

Acompanha esta matéria uma foto datada de dezembro de 2004 que mostra a mesma usina, tratada à época como um cartão postal guidovalense. Um lugar bonito. Ótimo para se visitar e aprender! Com funcionamento exemplar. Havia leiras de composto, sem rastro de líquido escorrendo, devidamente identificadas com suas plaquetas de controle. Não havia a presença descontrolada de vetores transmissores de doenças. Na cobertura, as baias estavam com os materiais separados e prensados aguardando sua comercialização. Era freqüentemente visitada por turmas escolares. Engrandecia e formava cidadãos.

Saudades de quando a UTCL guidovalense funcionava assim... A matéria publicada no jornal, fria e tácita e por mais detalhista, não causa a surpresa real do que se observa pessoalmente. O sentimento de desrespeito ao homem e a natureza, a tristeza, o ato retrógrado...

É uma crítica. E que ela sirva de propulsão e bússola para corrigir a rota para que voltemos a crescer. Cada um não pode agir isoladamente e sob a mesquinhez da politicagem como bem entender. E/ou decidir o que fazer conforme suas próprias loucuras.

Não há desculpas por nenhum dos atos praticados. E também, como já se ouve, “melhorias estão por vir, por isso está sendo feito assim temporariamente”, não justifica nada. Trabalhadores deste município madrugam e enfrentam dias pesados de trabalho. Não vê com bons olhos o desrespeito aos impostos, às leis, ao dinheiro público abandonado de uma hora para outra.

Olhe a bandeira desta república. Vê suas cores. E lê a faixa central “Ordem e Progresso”. Belas atitudes devem ser pensadas. Sempre haverá correções a serem feitas, mesmo em obras acabadas. E é preciso avançar, melhorar.

Discordo que inexista pouco dinheiro nesta nação. Entendo que o que falta é sabedoria para dar continuidade a obras criadas em prol do bem comum e serenidade para empreender, gerenciar e por em prática as boas idéias de vanguarda.

Em tempo: é também um crime contra a saúde do homem fazer com que os agentes de saúde urbana (os “lixeiros”) recolham o lixo pela cidade tendo que ficar pondo um apito na boca para sinalizar que estão “passando”. Convenhamos!

Reincidência

Não é a primeira vez que a prefeitura lança lixo fora do lugar tendo uma usina para separar e controlar o lixo municipal. Já o fez em janeiro de 2005 e janeiro de 2009. E em ambas as ocasiões, a UTCL estava funcionando perfeitamente.

O Movimento Ecológico Guidovalense interveio, solicitando o cancelamento imediato do lançamento do lixo no lugar inadequado e pedindo a sua destinação adequada. Felizmente foi atendido naquelas duas situações.


FOTOS PARA ILUSTRAR O ARTIGO

FOTO1: 21/12/2009: Incêndio destrói parte do telhado que cobre as baias de material separado.

FOTO 2: Dois dias após o incêndio, todo material havia sido recolhido e enterrado irregularmente.

FOTO 3: O composto orgânico imaturo também foi removido (o porquê não se sabe!) e destinado de forma irregular.


FOTO 4: 15/01/2010: Num contra-senso, valas foram abertas e o lixo passou a ser enterrado em frente à usina. Ao fundo das fotos, há poucos metros de onde o lixo foi enterrado, está o rio Xopotó.

FOTO 5: 22/01/2010: Lixo lançado entre o escritório da UTCL e o pátio de compostagem, sem nenhum controle.

FOTO 6: Janeiro de 2005: Lixo é lançado no planalto, bem próximo à torre de TV e telefonia. À esquerda e ao sopé deste planalto há uma mina, próximo ao campo do Cruzeiro. O MEG solicitou o recolhimento.
FOTO 7: Janeiro de 2009: Lixo é lançado próximo ao córrego da cachoeira de Santa Edwiges, na entrada da cidade. Atrás do palco de shows da Festa do Guidovalense. Motivo: enchente dificultou o acesso à usina. O que não procedia era a permanência do lixo naquele lugar alguns meses após a enchente. O MEG solicitou o seu recolhimento.

FOTO 8: Usina com funcionamento exemplar em dezembro de 2004.

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