quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

FÉRIAS EM GUIDOVAL

(1ª parte)

Do Senadinho em Guidoval o meu irmão Marcílio me telefona. De prosa com o Renatinho, me diz que ele está cobrando um artigo para o Jornal Saca-Rolha. Pergunto se é para “escrever a favor ou contra?”. Pode ser a favor responde o intrépido Renato, contra pode deixar comigo.

O mesmo ínclito Renatinho que um dia me recitou a poesia “Cântico Negro” de José Régio que termina assim: Não sei por onde vou, Não sei para onde vou, Sei que não vou por aí!”. Assim me decidi por escrever sobre o que vi nesses dias que passei em janeiro na nossa terrinha.

Reencontrei vários amigos. O primeiro abraço foi no Virgilinho que ouvia embevecido o filho Fabiano tocando cajon (pronuncia-se carron) na Praça Santo Antônio, junto com o Lucas Pinheiro (violão) e Danilo Rufino (violão e voz). Havia uma multidão ouvindo a “Música na Praça”.

Ouvir uma boa música, um excelente programa, diferente do que ocorre pelas madrugadas quando carros com sons ensurdecedores, barulhos e algazarra, perturbam a paz dos moradores da Praça e adjacências. Um caso de polícia. E ninguém toma providência, inclusive a polícia.

Ainda na pracinha escuto o neto do grande maestro Belarmino Campos, João Bosco, o maior bodoqueiro dos meus tempos de criança, contando histórias como do dia em que ele se negou a pagar o ingresso do filme de faroeste, pois o mocinho morrera no final. Onde se já viu! Não tem a menor graça índio e mexicano matando John Wayne e Buck Jones.

O João Bosco falou que o homem mais valente que conheceu foi o Nenego (Dr. Albro Ribeiral) quando numa audiência mandou um juiz se calar, chamando-o de mentiroso. Disse também que maior beque do Cruzeiro foi o Zé Maria Matos.

Foi ouvindo essas e outras reminiscências que da pracinha pude ver que sumiram com a cabeça do Dr. Ozanan Coelho no pequeno monumento-obelisco. Logo o nosso grande governador tão zeloso, cristão e de vida ilibada vir perder a cabeça em Guidoval”, gracejou o Marcellus.

Vi também com tristeza a placa do poema “De como eu amo uma cidade” sendo corroída pelas intempéries, cocô de pardais e mãos desumanas.

Não tive a oportunidade de me encontrar com o nosso prefeito Élio Lopes que estava viajando. Gostaria de lhe sugerir para abrigar o poema no “Centro Cultural José Bressan”, isto depois de uma boa recuperada na placa. Assim o poema ficaria protegido dos bichos que voam e dos animais que rastejam.

Guidoval é a nossa casa! A pracinha o nosso espaço gourmet integrando cozinha, sala de jantar, terreiro e varanda onde encontramos os amigos, colocamos a conversa em dia, deliciando-se com um cascudo no Chiquitin, bolinho de bacalhau da Maria do Mazin, cerveja gelada no Gilmar e Carlinhos do Fiim Kiel, bares que circundam a praça.

Foi na mesa de um desses barzinhos que relembramos do craque Eloir Máximo e de como a estrela do sucesso não quis iluminar o seu caminho como ele merecia. Por coincidência no dia 12/01/2010 o site Jornal Leopoldinense noticiava “Eloir: um cidadão que merece respeito”, parte duma matéria que o Jornal de Guidoval publicou em Novembro/2003.

Ainda na pracinha, paro para conversar com o Braz do Zé Firmino pajeando o netinho Diogo. Se o DNA do garoto honrar o avô e o tio Silvestre teremos daqui uns anos um atleta vestindo a camisa do nosso Cruzeiro branco-e-preto, quiçá até mesmo do mengão.

O amigo Dr. Ronaldo Ribeiro, passeando na cidade, me convida para almoçar em sua casa. Lá fomos, minha esposa Lourdes e eu, provar a doce hospitalidade da Dona Aracy e um indescritível Arroz com Suã feito pela mestre culinária Iraci do Cuca. A ela cabe, sem trocadilho, o título de Mestre-Cuca. A refeição foi servida pela simpatia da Simone. À mesa, além da anfitriã, Rosa Occhi e Conceição Áurea. Um bom vinho português nos acompanhou numa tarde de prosear instigante e inteligente sobre música, literatura e coisas menos importantes.

Aliás, hospitalidade é uma marca da nossa gente. Será que vem dos franceses, da D. Maria Victória Rosier, esposa de Marlière?

(2ª parte)

Quase todos os dias, eu e a Lourdes, andamos pelas ruas da cidade. Uns 6 km em uma hora. Queimar as calorias é preciso. Nossa caminhada já vai para mais de 31 anos de casados completados no Dia de São Sebastião.

No trajeto vamos conversando, revendo e cumprimentando conterrâneos. Na Rua do Campo: Xará, Miguel Alonso, José Carlos do Sô Lau, Félix Urgal, Messias, Abílio, Zé Carlos (Popota). Muitos outros.

Vejo a Dona Maria Leopoldo sentada à sombra da varanda da sua casa. Para não interromper a caminhada, penso “depois volto e abraço a Dona Maria”.

E cumpro o meu pensar. Retorno em outra hora. Converso com a centenária parteira. Registro-a numa fotografia.

Algumas pessoas ficam mais bonitas e sábias com o tempo. É o caso da Dona Maria Leopoldo. Bondosamente pede para que eu sente ao seu lado. Diz que é para eu pegar um pouco dos 103 anos que ela completará em 08 de outubro vindouro. Pego as suas mãos macias e sedosas que tantas vidas ajudaram a vir ao mundo. O tempo perto de Dona Maria parece não ter pressa. O tempo tem as suas preferências.

Seguindo a andança, na Avenida Sebastião Ignácio da Costa (Trajano Viana), a sorridente Luiza Preta faz questão de relembrar que o meu pai, Zizinho do Marcílio, construiu e doou as dez primeiras casas da avenida aos mais necessitados. Ela foi uma das contempladas. A sua gratidão me comove. A gratidão é virtude dos bem-aventurados.

Não vejo mais a sua vizinha Dona Zulmira. Claro, ela subiu ao céu. Deus escolheu um melhor lugar para lhe acolher.

E é caminhando que observo, vejo que a nossa cidade está mais feia, mesmo a gente olhando com os melhores olhos de quem ama imensamente a sua terra.

E aí, faz sentido a campanha “Por uma Guidoval mais bonita”. Aproveito para parabenizar a todos que estão participando deste movimento.

E se não bastasse a degradação de alguns locais (visual, arquitetônica e urbanística), agora veio a COPASA disposta a transformar nossa cidade num imenso queijo suíço, cheio de buracos horrorosos, abarrotados por hidrômetros, cuja função, além de enfear a cidade, é tornar as contas de água mais salgada. Só espero que a água não continue salobra e que um dia possamos beber o precioso líquido sem “coliformes e escherichia coli”.

Está cheio de hidrômetros nas paredes externas das casas. É assim na Esquina, Rua João Januzzi.



No Fundão, à porta do imóvel do José Júber, instalaram uma marafunda de hidrômetros. Um despropósito. Um atentado ao bom gosto. Não haveria uma melhor solução estética? Claro que sempre há uma forma de se poluir menos visualmente.

A COPASA é uma grande empresa, com ações na BOVESPA e até no exterior. Tem compromissos com os seus acionistas. Guidoval é só mais um negócio.

Uma placa na entrada da cidade diz que a “Implantação do Sistema de Abastecimento de
Água de Guidoval” termina em janeiro/2010 a um custo de R$558.981,67.

É com parte dessa grana que esburacam as paredes externas das residências da nossa cidade? Já andei por diversas cidades mineiras e nunca vi tanto disparate visual. Nós merecemos isso? Claro que não!

Guidoval precisa de um bom arquiteto, urbanista, paisagista. Com um pouco dinheiro e criatividade pode-se mudar a cara da cidade.
Um gramado ali, uma flor aqui, uma tinta de cal acolá. Praças e casas pintadas, passeios e meios-fios recuperados, lotes vagos cercados, conscientização na coleta seletiva de lixo. Ação integrada entre o executivo, legislativo, área educacional, setores religiosos, empresários, comerciantes, trabalhadores, todos em prol do município. Deixar divergências políticas apenas para as campanhas eleitorais.

Uma idéia simples é pintar uma faixa amarela, de 1,5 metros de largura, fazendo uma passarela para pedestres na Rua Padre Baião. Centenas de estudantes sobem e descem dia-e-noite a Rua do Campo para estudarem na Escola Mariana de Paiva e “Cid Vieira”. Depois, educar os motoristas a respeitarem esta faixa. E é claro os pedestres andarem nesta faixa.

Alguns guidovalenses usam este trajeto para “jogging”. Esta faixa pode se estender até Avenida na Vila Trajano, inclusive com marcas de 100 em 100 metros. Talvez, possa até ser um incentivo aos nossos conterrâneos a fazerem caminhadas. Tentar reduzir o colesterol e triglicérides, controlar a pressão, melhorar a sistema circulatório. Diminuir gente nos postos de saúde.

"Sapo não pula por boniteza, mas por precisão”, escutou Guimarães Rosa em suas jornadas pelo sertão.

(continua em outro POST)

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