domingo, 4 de novembro de 2012

Salve Guidoval por Lindomar da Silva



Salve Guidoval

Lindomar da Silva (*)

Depois da tempestade, se não vem bonança, vem a esperança. Foi o que aconteceu em Guidoval, neste ano ímpar de 2012.
No início do ano, veio a tempestade que inundou a cidade e transbordou as páginas dos jornais, com inúmeras perdas e danos. Agora, em outubro, veio a esperança, vestida de amarelo e desenhada na delicadeza das formas e gestos femininos.
Nos dois momentos singulares, estive presente na cidade. Em janeiro, vi com os próprios olhos a dimensão da destruição causada pelo transbordamento do rio Xopotó, que barulhando noite e dia, também viu a cidade crescer e invadir as suas margens e imagens naturais.
Como filho da terra, e há mais de vinte e poucos anos morando em Belo Horizonte, articulei junto à Editora RHJ, que publica meus livros infantojuvenis, e doamos livros literários para as bibliotecas de Guidoval. “As crianças têm o direito de continuar sonhando e fantasiando, sempre!”
Em outubro, também estive em Guidoval e segui a multidão pelas ruas esburacadas, sinuosas e estreitas da cidade, com bandeiras amarelas em punho e ao vento.
As casas, algumas ainda sem cores, em consequência da inundação, traziam nos telhados de barro, nas paredes de tijolos à vista, nas janelas e portas de madeira o amarelo da esperança e provavam que ali dentro, por entre as ruínas e os escombros, os sonhos eram coloridos.
Como a bonança não veio, conforme reza o ditado popular, a população foi às urnas, no dia e hora marcados, e confirmou, na ponta do dedo, o desejo de mudança.
Os guidovalenses não subverteram somente o antigo ditado popular que diz que depois da tempestade, vem a bonança. Subverteram também a velha tradição política da cidade.
Desde sua emancipação, em 1948, Guidoval foi governada por homens. Somente agora, no dia sete de outubro de 2012, pela primeira vez na história do município, uma mulher se elege prefeita. E Soraia é o seu nome.
Ainda marcada profundamente pelo desastre natural e político, a cidade - indignada, mobilizada, pacífica - amarelou de uma ponta a outra, rural e urbana, sem medo de ser feliz.
Nesse dia sete de outubro, e vista do alto, a cidade era uma gema de ovo trêmula dentro dos vales verdejantes das Gerais. Até o azul do céu sobre Guidoval era tímido, como que prevendo, nas alturas e lonjuras da distância, novos tempos para a região.
Com isso, e mais uma vez, Guidoval subverteu o conhecido ditado popular que diz que amarelar é recuar, é desistir, é recear. A cidade provou para si mesma, e para os corações partidos, que amarelar é um gesto de coragem, grandeza e determinação.
Que venha, agora, ainda que tardia, a bonança para todos os guidovalenses presentes e ausentes. E salve Guidoval!
(*) O conterrâneo Lindomar da Silva é professor e escritor de vários livros infatojuvenis, dentre eles “A cidade e o Rio” e “A Casa de Maria” publicados pela Editora RHJ.

Nenhum comentário: