segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Mortes estúpidas

O texto abaixo eu escrevi em 19/10/2005 e mandei aos meus amigos por e-mail.
Estávamos às vésperas do REFERENDO sobre ARMAS DE FOGO. Infelizmente fui voto vencido.

Uma das funções do Poder Legislativo é elaborar leis. Este referendo é uma fuga desse poder que tem estrutura administrativa, assessorias técnicas, consultorias com profissionais graduados, mestres e doutores nas mais diversas áreas de conhecimentos. Pode ele ainda contar com recursos financeiros para pesquisar e analisar profundamente o problema em âmbito nacional e mundial. Mas parece que no Brasil os políticos não buscam soluções, eles preferem ser “problemas”. Tiraram o corpo fora dessa questão e jogaram para a população decidir se “O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?” Não tenho, nunca tive e nem pretendo ter armas de fogo. Só posso responder SIM.

A revista ISTOÉ listou sete razões para o SIM e sete para se votar NÃO. O BLOG do NOBLAT apresentou 10 argumentos para o SIM e o NÃO. A revista ÉPOCA fez uma reportagem equilibrada sobre “10 mitos sobre as armas”. A revista VEJA, a mesma que acabou com a carreira de Ibsen Pinheiro e tantos outros absurdos, tendenciosamente defendeu o NÃO. Parece até matéria paga.

A propaganda do NÃO diz que “tirar arma de fogo do cidadão não vai resolver o problema de segurança”. Não vai mesmo, como também não irá resolver o cidadão ir a uma loja comprar armas.

Os defensores do SIM dizem “é um equívoco dizer que uma arma de fogo nos protege.” Concordo, fosse assim iria me cercar de um arsenal de armas de todos os calibres.

Bandidos sempre irão comprar armas, com proibição ou não. Afinal são bandidos. Precisam de armas para exercer o seu ofício de criminoso. Irão buscá-las no contrabando, em lojas autorizadas ou não e até mesmo se abastecendo das armas de incautos civis.

Gente de bem não precisa de armas. Gostaria de ser "gente de bem".

Sou do tempo que se que tiver “meeeeeessmo” que brigar, que seja no braço como nos bons tempos de criança. Apanhei e bati. Que o diga Paulinho do Beijamin, Antônio Capeta e o querido e saudoso primo Mané Bezerra.

Quantas histórias ou pessoas você conhece que mataram por ciúmes, brigas de trânsito, um pedacinho ou latifúndio de terra, uma desavença besta qualquer.

Acrescentem-se os jovens que pegam as armas dos pais e saem por aí atirando a esmo, sem contar nas mortes causadas por disparos acidentais.

A história está repleta de “mortes estúpidas”. Vamos rememorar.

Pensava, eu, que os Estados Unidos de John Wayne tivera dois presidentes assassinados. A INTERNET me revelou quatro.

O presidente Abraham Lincoln assassinado em 14/04/1865 por John Wilkes Booth. O presidente James Abram Garfield baleado por Charles J. Guiteau em 02/07/1881. Mortalmente ferido, agonizou na Casa Branca por semanas morrendo em 19/09/1881. O presidente William McKinley ferido a bala na cidade de Búfalo (NY) em 06/09/1901. Em Dallas, 22/11/1963, o Presidente Kennedy morreu vítima de duas balas, uma na garganta e outra na cabeça.

Ainda sobre os EUA, do bang-bang, existem mais quatro presidentes que sofreram atentados, mas não morreram. Foram Andrew Jackson, Harry Truman, Gerald Ford e Ronald Reagan.

Essa mesma sorte não teve o líder pacifista Martin Luther King assassinado em 04/04/1968.

Em Manhattan, Nova Iorque, no dia 08/12/1980, um louco varrido que se dizia fã, nos roubou o prazer das inúmeras músicas que ainda iria compor o genial John Lennon.

Um fanático, em 13/05/1981, quase matou o Papa João Paulo II, debilitando-o e reduzindo-lhe, com certeza, alguns preciosos anos de sua vida. O suicídio de Getúlio Vargas, 24/08/1954, com arma de fogo, começou com um tiro no pé do Carlos Lacerda no famoso atentado da Rua Toneleros em 05/08/1954. O estudante anarquista sérvio Gravilo Princip em 28/06/1914 assassinou o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austríaco. Foi o estopim para o início da Primeira Guerra Mundial e daí a Segunda Guerra Mundial.

Em Guidoval, em 02/02/1957 emboscaram e mataram o Cel. Joaquim Martins quando abria a porta principal de sua fazenda. Ainda em Guidoval, em 10/07/1938 assassinaram o meu Tio Francisco Marcílio Vieira, irmão do meu Vô Marcílio.

Das diversas vítimas assassinadas no país, em defesa do meio-ambiente, basta lembrar de Chico Mendes em 22/12/1988 e Irmã Dorothy em 12/02/2005.

Na noite de 03/11/1999, com uma submetralhadora, Mateus da Costa Meira, 24 anos, estudante de medicina, entrou num cinema em São Paulo e passou a atirar na platéia. Matou três pessoas e feriu cinco.

Até agora não contei uma boa história sobre arma de fogo. Não tenho para contar.

O programa “Linha Direta” da Rede Globo vive de histórias violentas. Não fosse a cooperação das armas de fogo, praticamente ele não existiria e nem falta me faria, o programa e as armas.

ARMA DE FOGO nunca me fez falta e não será agora que sentirei falta delas.

Fico imaginando como votaria nesse referendo o Papa João Paulo II, Madre Teresa de Calcutá, Betinho, Vinicius de Moraes, Cecília Meireles, Pixinguinha e Tom Jobim?

Conjeturo como votaria Bush, Mussolini, Jair Bolsonaro, Margareth Thatcher e Hitler? A propósito recebo vários e-mails dizendo que Hitler desarmou a população. O que foi a Juventude Hitlerista? Uma organização paramilitar que treinava jovens alemães. Para quê? Para rezar? A porrete? Xô nazismo!!!

Dá para supor que se o SIM for aprovado, alastrarão pelo país clubes de “tiro esportivo” para burlar a lei e continuar comprando-se armas. É o jeitinho brasileiro.

Presumo que se o NÃO for vencedor muitos partidários desta opção irão às ruas comemorar “dando tiros e vivas”. É a vida, é a morte.

Pela primeira vez vejo católicos, protestantes, judeus, espíritas, mulçumanos, budistas, todas as religiões comungando de um mesmo ideal. Todos defendem o SIM. Será por quê? Serão contra a vida? A favor da violência? Pode até ser uma santa inocência, utópica ingenuidade dos que buscam e querem a paz.

Se o meu voto pudesse voltar no tempo e salvasse pelo menos uma única vida das que mencionei anteriormente, ou protegesse quaisquer outras vidas estupidamente tiradas por uma arma de fogo, ele já teria valido a pena.

Como ainda não conseguimos voltar no tempo pelo menos vou tentar me redimir para o futuro. Vou votar SIM.

E alerto: “Não faça de seu voto uma arma, a vítima poderá ser você.

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