segunda-feira, 5 de abril de 2010

DR. MÁRIO GERALDO DE MEIRELES

No ano do centenário do seu nascimento
escrito por Dr. Plínio Augusto de Meireles

Hoje, dia 15 de março de 2010, assistia à tardinha, lá pelas 16 horas, a um programa levado ao ar pelo Canal Brasil, uma retrospectiva da vida pessoal e artística de um dos nossos mais talentosos e admirados artistas de teatro, cinema e televisão, o memorável Paulo Gracindo (Pelópidas Guimarães Brandão Gracindo).

Foi uma reportagem bastante ampla e detalhada, com inúmeros depoimentos de seus colegas artistas, produtores e diretores teatrais, filhos e amigos. Percorreu-se toda a sua trajetória pessoal e artística até o seu passamento aos 84 anos de idade, em 04/09/1995, no Rio de Janeiro, completando neste ano 99 anos do seu nascimento.

Assisti com grande interesse a esse programa, admirador que fui do talento e habilidade a
rtística desse grande ator brasileiro. Essa reportagem também me levou à lembrança do meu quase esquecido pai, que dedicou a maior parte da sua vida às lides médicas na cidade de Guidoval, minha terra natal, que eu tenho sempre na lembrança e que de algum tempo para cá posso ter notícias quase ao vivo, graças à um dos seus melhores e mais dedicados cidadãos, o Ildefonso José Vieira, o Dé do Zizinho do Marcílio, através do BloGuidoval.

Lembrei-
me de que no corrente ano, precisamente no dia 8 de abril, terão decorridos cem anos da data do seu nascimento. Hoje cada vez mais se vai escasseando o número de pessoas que se lembram dele. Muitos dos seus grandes amigos, como ele, já se foram e chegará um dia em que será lembrado por muito poucos na cidade de Guidoval onde não se tem nenhuma referência à sua pessoa e à sua passagem por lá.

Morará apenas na lembrança de alguns habitantes mais idosos e, sem dúvida, na dos seus filhos e parentes próximos, aos quais represento nesta mensagem. Revendo os meus arquivos, encontrei um artigo sobre nosso pai no Jornal “O DIVINESIANO” datado de setembro de 1986, quando era seu Redator o Senhor Jacinto Teixeira Sobrinho, em Divinésia - MG.

Esse artigo foi escrito pelo nosso conterrâneo João Coelho e retrata de maneira concisa a sua trajetória nessa existência. Transcrevo-o, a seguir, ipsis litteris:

“DR. MÁRIO GERALDO DE MEIRELES

Há pessoas que passam por este mundo e daqui se despedem deixando totalmente em branco a página da vida. Outras, porém, surgem como verdadeiros meteoritos, deixando marcas indeléveis no caminho por onde tenham passado. Tão aproveitável é a existência de tais criaturas que, ao deixar-nos, fica-nos irremediável saudade. O Dr. Mário foi uma dessas estrelas radiantes que brilhou nos céus de nossa terra.

Natural de Visconde de Rio Branco, filho do ilustre casal Joaquim Correa de Meireles e Amélia de Moura, ali nasceu aos oito de abril de mil novecentos e dez. Cursou o primário na cidade natal, o secundário em Cataguases e o superior na Universidade Federal de Minas Gerais, colando grau em 1933. Profissional apaixonado pela carreira escolhida clinicou em Argirita, Ubá, Dores do Turvo e, finalmente, Guidoval, para onde veio em 1938.

Respirando o nosso ar, sentia-se bem e dava sinais de amor à nossa terra. Isso demonstrava no trato ameno a toda nossa gente, sem nenhuma discriminação.


Pretos e brancos, ricos e pobres, religiosos e ateus, correligionários e não companheiros, todos recebiam a mesma atenção e o mesmo sorriso do ilustre doutor.

No seu consultório comparecia o rico opulento com farto numerário e o infeliz desventurado sem um tostão no bolso. Ambos eram acolhidos com a mesma doçura daquele olhar sereno. Em face desse procedimento, o nosso facultativo não acumulou riquezas materiais, tendo conquistado, porém, o legítimo patrimônio, aquele que se leva para o outro lado da vida, autografado pela gratidão dos sofredores.

Casado com dona Ida Marotta, da vizinha cidade de Dores do Turvo, com ela teve três filhos: Plínio Augusto, Aulo Marcos e Luiza Amélia, todos formados e muito bem encaminhados na vida, graças à formação exemplar que lhes deram os pais.


Em 1957, Dr. Mário fazia em Belo Horizonte o curso de Sanitarismo, assumindo, em seguida, a chefia do Posto de Saúde desta cidade, função em que se aposentou. No campo político era moderado, humano e batalhador em prol do bem comum. Foi o primeiro presidente da Câmara Municipal de Guidoval.

Em 1961, em justa homenagem aos serviços prestados, era agraciado com o título de cidadão guidovalense. Uma prova de grande amor por nossa gente deu-nos o Dr. Mário após aposentar-se. Mesmo tendo fixado residência em Belo Horizonte ao lado dos filhos, aqui comparecia, ora semanal, ora quinzenalmente, para atender aos seus queridos clientes. As pessoas úteis e boas deveriam viver para sempre. Mas não é assim. Elas também são chamadas pelo Criador.
O Dr. Mário teve o seu dia marcado. No dia treze de agosto de 1984, aconteceu a despedida desse mundo. Foi difícil conformar-se. Até a natureza chorou. Ainda hoje parece que estamos assistindo a uma consulta do médico amigo, que foi o retrato perfeito de um homem de bem. As boas obras imortalizam o homem. Dr. Mário tornou-se para nós imortal.

Não há uma só pessoa de seu tempo que não tenha guardado consigo a imagem perfeita de suas virtudes. O prefeito municipal, no desejo de perpetuar a grande memória, criou um posto de saúde rural com o nome do respeitável médico, já que essa era sua paixão maior.”
JOÃO COELHO


Esse artigo da lavra de João Coelho, datado de 1986, realmente homenageia ainda hoje a pessoa do nosso saudoso pai e vale ser reeditado por ocasião do centenário do seu nascimento. Da minha parte como filho, as minhas lembranças retrocedem a tenra idade. Pelo menos com seis ou sete anos, lá pelos idos de 1945/46.

Morávamos num sobrado, já demolido, situado na esquina da rua do Fundão com rua do Campo, sede atual da agência do Banco do Brasil. Era um imóvel de propriedade do Senhor Juca Damato, a quem eu e meus irmãos chamávamos de Vovô. Esse sobrado internamente era dividido em duas moradias, uma das quais ocupada pelos proprietários.

Este sobrado pela frente nas duas ruas citadas, tinha piso térreo nos fundos, pela porta da cozinha, na época com uma área de uns de 20metros quadrados. Além da parte ocupada por um grande fogão a lenha, a outra maior era ocupada no piso de tijolo cercado por grade de madeira, por uma criação de porquinhos da índia (Cavia cobaia), que chegou a contar com cerca de mais de sessenta exemplares, entre adultos e filhotes.

Sobre quase toda a extensão da criação de porquinhos da índia havia um grande girau de bambu, com o ripado a curta distância, suficiente para apoiar folhas de amoreira abertas, sobre as quais eram colocadas as larvas de bicho-da-seda que meu pai criava neste local. Essas larvas tinham um apetite voraz e diariamente tinham que ser recolocadas novas folhas até que se iniciasse a formação dos casulos de fios de seda.

Para alimentar esses seres com apetite pantagruélico, meu pai contava com a ajuda de dois adolescentes, o Jesus do Seu Américo Varela e o José Marcelino, que vasculhavam os arredores de Guidoval, diariamente, em busca das amoreiras existentes, retornando com enormes cestas de folhas na garupeira das bicicletas. Com certeza meu pai não chegou a ser “um grande sericicultor”, mas se divertiu um pouco, mesmo gerando um grande trabalho de limpeza do local para a minha mãe.

Em dias de tempestade violenta, como se via naquela época em Guidoval, meu pai saía a cavalo, debaixo de chuva pesada, com capa de boiadeiro, para atender doentes em roça distante. Acontecia às vezes de o relógio bater meia noite e meu pai não chegava.

A preocupação, então, alcançava a casa vizinha. Nessas horas uma porta ao meio do sobrado se abria e as duas moradias se comunicavam internamente. Nessa ocasião a Vovó Rosa, esposa do Vovô Juca Damato, minha mãe, a tia Jacira, irmã da minha mãe, e a tia Gildinha, esposa do meu tio Máriozinho, se entregavam à oração, queimando ramos secos bentos na Semana Santa e acendendo velas a São Jerônimo e Santa Bárbara, pedindo proteção para o meu pai, que acabava chegando são e salvo, apenas todo encharcado pela chuva e suportando o peso da capa de lã molhada.

Essa cena se repetiu muitas vezes e meu pai nunca deixou de atender a um pedido de socorro de quem o necessitasse. Só não gostava de fazer partos que ficavam, na nossa cidade, por conta da Vó Elisa e a sua filha Vó Maria, esta última ainda viva, completando no corrente ano, cento e três anos de vida, lúcida e saudável.

Apenas as orientava quando solicitado. Alguma vez não dava para chegar a tempo e o paciente estava morrendo. Nessas ocasiões era comum que quem estivesse por perto pusesse uma vela acesa na mão do moribundo, com o fim de iluminar-lhe o caminho a seguir. Meu pai contou-nos que, em uma dessas oportunidades, quando atendia a um senhor idoso em roça distante, pelo qual não se tinha mais nada a fazer, solicitou à então quase viúva uma vela para pô-la na mão do moribundo.

Mas naquela casa não havia velas e a senhora lhe respondeu que só tinha lamparinas a querosene. Ele então não hesitou em acender uma delas e colocá-la nas mãos daquele que estava de partida. Este, ainda em um último momento de lucidez disse: “é doutor, morrendo e aprendendo!”. E foram estas as suas últimas palavras antes de fechar definitivamente os olhos para esta existência.

Hoje, com todos os recursos que a ciência moderna oferece, na tentativa de prorrogar a partida, na grande maioria das vezes, as últimas palavras de um moribundo não são ditas naquele momento. Nessa Ocasião, geralmente ele costuma estar todo entubado e sem condição de proferir uma só palavra ou até mesmo um aceno com as mãos, as quais, além de canuladas para tratamento endovenoso, podem estar até amarradas para se evitar movimentos indesejados.

Em seu consultório, como já foi dito no artigo do João, compareciam pessoas de todas as posses. Aqueles muito pobres e sem condição para pagar o pequeno valor da consulta agradeciam presenteando-o com um frango, uma leitoa ou um cabrito na época do natal ou ano novo, ou ainda mesmo dando-lhe um filho para batizar. Por vezes presenciei a sua chegada em “carro de praça” do Belé, do Lico Peru ou do Benigno, vindo de uma viagem à roça para atender a um doente.

Ao chegar, o responsável pelo doente, pagava a corrida de carro ao “chofeur” e dizia ao meu pai: “Dr. Mário, depois acerto com o senhor”; e sabe-se lá por quanto tempo depois! Com certeza, o maior número dessas viagens foi feita no carro do Lico, que permaneceu por mais tempo com “carro de praça” em Guidoval. Em algumas delas o carro não conseguia chegar até o local desejado por falta de estrada. Nesse ponto já estava a postos uma pessoa com dois cavalos e o meu pai chegava ao local em montaria. Numa dessas viagens aconteceu uma coisa curiosa que nos foi contada por ele.

Ao retornar em noite bem escura até onde havia deixado estacionado o carro, o responsável pelo doente disse ao meu pai: “Dr. Mário, o senhor pode ir sozinho nesse cavalo e soltá-lo lá que ele vem parar aqui em casa. Mas, como meu pai se envolvia com a política local, tinha também seus receios. Não era incomum na época as tocaias para políticos influentes, não importando quão queridos fossem. Ao ouvir um barulho por perto, se antecipou e disse: ”aqui é o Dr. Mário Meireles. Boa Noite.”

E, qual não foi sua surpresa ao receber como resposta um belo relincho. Era um cavalo solto no pasto à beira da cerca. Dizia-se antigamente um velho ditado “quem fala muito dá bom-dia a cavalo”. “Aí meu pai se lembrava da estória e falava: “ bom-dia não dei, mas dei boa-noite a cavalo.”

Talvez, somente ainda a tia Gildinha sabe é que, por vezes, quando um paciente tinha uma doença crônica grave, necessitando permanecer em Guidoval para um tratamento mais demorado, este, não tendo condições de se hospedar na única pensão da cidade, a da Dona Maria Pereira, o meu pai o hospedava em nossa casa, como foi o caso de uma moça com uma ferida crônica na perna, que lá esteve por mais de um ano, e outra com tuberculose pulmonar, cujo tempo de tratamento eu não me lembro, sem contar com os parentes que faziam uso freqüente dessa hospedagem para o mesmo fim.

No ano de 1953 meu pai tentou fundar um Hospital em nossa cidade. Chegou mesmo a lançar uma pedra fundamental, construindo-se um prédio onde, no dia 8 de junho, foi inaugurado um pequeno ambulatório na Praça Santo Antonio, local onde residia até pouco tempo o Vasquinho Gonçalves e sua mulher Carminha. Essa inauguração contou com o apoio irrestrito do Senhor Gilberto Henriques, então Coletor Estadual e membro ativo na nossa Paróquia de Santana onde presidia Associação de Congregados Marianos e a Conferência São Vicente de Paula.

Contou também com a bênção das instalações pelo Padre Oscar de Oliveira, discurso do Advogado e Professor Sebastião Lisboa e Banda de Música. Esse Ambulatório recebeu uns poucos móveis adequados ao cumprimento de sua função inicial, até a implantação definitiva do Hospital. As duas camas e as roupas de cama, ao que me lembro, foram doadas pela Dona Zélia de Seu Nhonhô.

Abrigou alguns pacientes de menor gravidade, ou então de passagem, para serem encaminhados ao Hospital São Vicente de Paula da Cidade de Ubá. Nele trabalharam como enfermeiros o Renato Ramos e o Glenarvan Gonçalves da Cruz, e a Shirley do Sô Gil, como secretária para todas as demais tarefas. Uma lei municipal chegou a ser aprovada em 24 de maio de 1954, considerando o hospital uma entidade de utilidade pública, como informou à minha tia Gildinha o Senhor Marcílio Farias.

Esse ambulatório teve curta duração. Talvez, por questões políticas da época, decidiu-se também construir, concomitantemente, um asilo para idosos desamparados. Como os recursos eram escassos, nem uma coisa nem outra logrou chegar a seu termo.

Foi uma pena. Meu pai ficou bastante decepcionado, e até hoje a cidade não tem seu hospital. Mas na vida do meu pai em Guidoval, mesmo com muito trabalho e algumas desilusões, havia também muita alegria e brincadeiras junto aos amigos. Por muitas vezes chegava ao seu consultório, em horário de atendimento, um pobre coitado vindo buscar um martelinho de desempenar vidro ou uma espingarda de matar veado na curva, sempre a mando do Virgilio ou do Mundico.

Também uma história me foi contada há uns nove ou dez anos atrás pelo Dr. José Lincoln, um médico que trabalhou em Guidoval nos anos 40 e início dos 50. Salvo engano, pouco antes do final da Segunda Guerra, o Delegado de Polícia de Ubá intimara para depor na sua Delegacia naquela cidade, o meu pai, o Dr. José e o Padre João Chrisóstomo.

Todos pelo crime de serem simpatizantes do Plínio Salgado, fundador do Partido Integralista. Em sua narrativa o Dr. José disse-me que ele e o meu pai chegaram mais cedo a Ubá e ficaram tomando cerveja, num bar próximo à delegacia, enquanto esperavam pelo Padre. Algum tempo depois chegou Padre João com uma enorme mala e eles o perguntaram se pretendia fugir. Ele respondeu que não. Apenas havia se precavido para o pior.

E disse: da última vez que estive aqui o delegado me prendeu e eu passei fome, frio e sede. Agora trouxe cobertor, biscoitos e água para qualquer eventualidade. Por ocasião das festas de Santana, o ponto inicial era o levantamento do mastro com o retrato da Padroeira e o acendimento de uma enorme fogueira bem na esquina da Rua do Campo com a Rua do Fundão e a Ponte sobre o Rio Xopotó.

O mastro de madeira e o quadro com a Padroeira ficavam guardados sob os cuidados do Senhor Dionísio Maciel que o conduzia com uma de suas filhas até o local para o seu hasteamento. Bem antes de ser levantado o mastro, no início da noite, muitas pessoas, principalmente guidovalenses residentes em outras cidades, vinham à casa do meu pai para fazer uma visita e aproveitar a oportunidade para assistir o levantamento de uma das janelas do sobrado.

Entre esses visitantes tínhamos os irmãos Mendonça (Zé, Romeu, Mauro, Rosita, Rosalina e Vênus), o Euro Arantes, às vezes a Dona Nicolina e o Seu Inácio, o Pedrinho Vieira sempre presente, o Bebeto Ramos, a Rute da Dona Jovita, Tatão Mendes, o Roberto e o Ronald do Seu Aurélio da Coletoria Estadual e muitos outros de quem não me recordo. Como ali rolava uma cerveja e uma cachacinha, também aparecia música e salgadinhos (pasteis, lingüiça frita, pernil e cabrito assado etc.), tudo preparado pela Dona Ida com a ajuda da tia Gildinha.

Assim, tinha também o Sô Nilo, no banjo, cavaquinho e violão; o Seu Odilon Reis no violão e violino; o Zé Mendonça no violão, cantando sempre a valsa Neusa para acalmar o ciúme da sua mulher de mesmo nome, e, às vezes, o Bem Hur da Dona Jovita do Chico do Padre. Depois do levantamento do mastro continuava ainda por muito tempo a festa na casa do meu pai e fora, junto à fogueira, dança de Congados e Caboclinho.

Lá pelas tantas da madrugada saíamos os músicos e cantores, principalmente o Bebeto Ramos, e alguns acompanhantes, em serenata pelas ruas da cidade. Lembrando-se de que entre os músicos estava eu com o meu Acordeom Scandalli Azul de 120 baixos, tocando na oportunidade lindas valsas e sambas canção apaixonantes.

Quando o meu tio Máriozinho foi morar na Praça Santo Antonio, levou meu pai e minha mãe para morar com ele. Para ali também se transferiu a nossa festa que, tempos depois, serviu para inspirar a criação do Dia do Guidovalense. Essa narrativa sobre a festa de Santana, com certeza, os que só fizeram menos de 55 aniversários provavelmente nunca ouviram falar. Mas foi assim.

Em 1952, meu pai e o Senhor Sebastião Cruz, fundaram o jornal “Cidade de Guidoval”, que tinha por fim a defesa dos interesses comuns do município, lembrando-se de que, embora mantivessem uma amizade pessoal, eram politicamente adversários. O primeiro adepto do antigo PR e o segundo do PSD.

Também nesse ano aconteceu a fundação do Ginásio Guido Marlière em nossa cidade, de saudosa lembrança, pelo Professor Ernani Rodrigues, com o lançamento da Pedra Fundamental no dia 1º de maio. Dado o interesse geral da comunidade o seu funcionamento se iniciou logo em março de 1953, contando com três turmas, da primeira à terceira série.

Na primeira, freqüentaram alunos selecionados que iniciavam o curso ginasial. Na segunda e terceira séries, alunos guidovalenses transferidos de colégios de localidades vizinhas como Ubá, Cataguases e Leopoldina. O meu pai também foi professor nesse colégio, lecionando as matérias de Inglês e Ciências Naturais. Realmente Guidoval foi a cidade muito querida do meu pai. Ali ele viveu seus melhores momentos, criou e educou seus filhos, somente se mudando para Belo Horizonte, depois de aposentar-se, devido aos enfartos do miocárdio sofridos em 1963.

De 1968 até a sua morte prestou assistência médica voluntária nas Obras Sociais da Catedral da Boa Viagem em Belo Horizonte. No dia 13 de agosto de 1984, como o fazia diariamente, assistiu à missa na citada catedral às sete horas da manhã e trabalhou no seu voluntariado até as 10,00 horas. Pouco tempo depois se deslocou a pé pela Avenida Afonso Pena, em direção à Rua dos Tamoios, onde tomaria um ônibus para retorno à sua casa no Bairro Pompéia.

Mas, exatamente em frente à Igreja de São José, tombou morto na calçada, vitimado por um enfarto fulminante, pouco depois das 10,30 horas, vinte e um anos depois dos primeiros.

Como relatado no artigo do João Coelho, estava sempre presente em Guidoval, não somente através de suas viagens periódicas, mas também em se reunindo aos domingos com guidovalenses de todas as idades em Belo Horizonte, como o Bebeto Ramos, o Mirandinha, o meu irmão Aulo, o Vicente da farmácia, o Paulo Emílio e Luiz Fernando do Zizinho Simões, o Zequinha do Pedro Dias, o José Damato Filho quando estava em BH, seu filho Flávio Damato, entre outros. Essas reuniões de tomar cerveja e jogar conversa fora se iniciaram no Quibe Lanche, na Rua Espírito Santo em BH, depois foi para o Bar Tio Patinhas na Rua Goiás e por último no Samambaia na Avenida Brasil com Francisco Sales.

Depois da sua morte essas reuniões continuaram por algum tempo e até punham na mesa um copo vazio em sua homenagem e lembrança. Com toda certeza meu pai teve uma vida modesta, mas bem vivida e, no meu modo de ver, muito feliz, cumprindo bem nessa existência sua tarefa de trabalho e formação de sua família.


Foi um exemplo de dedicação, amor e seriedade para nós seus filhos.

Brasília, 15 de março de 2010

Plínio Augusto de Meireles
Aulo Marcos de Meireles
Luiza Amélia de Meireles

3 comentários:

Anônimo disse...

Caro Dr. Plínio,
Muito bonita a história do Dr. Mário.Já ouvi do meu tio alguma coisa sobre o Dr. Mário.Meu tio mora em Cataguases,está perto de fazer 90 anos e embora sua memória recente não seja das melhores, suas lembranças sobre o povo de Guidoval,sua família(famiia Costa Barros)são muito interessantes.
Um grande abraço
Maria José Baía Meneghite

Jornal Leopoldinense,
Leopoldina,M.G.

Thais Veiga disse...

Boa noite, meu nome é Thaís Veiga e em busca de documentos de meus antepassados para o meu processo de reconhecimento da Cidadania Italiana, encontrei a certidão de óbito de meu tataravô (trisavô) João Jannuzzi, esposo de Maria Caputo Jannuzzi. Quem atestou a morte de meu Trisavô João Jannuzzi, foi o Dr Mario Geraldo de Meireles. Minha avó sempre me conta estórias do meu trisavô e de Guidoval, mas sua memória falha muitas das vezes. Por exemplo, ela citou que ele possuía um cinema. Procurando pela internet, cheguei ao Cinema Garibaldi, situado na Rua Sete de Setembro. O senhor se recorda ou ouviu falar desse cinema?
Parabéns pela linda homenagem ao seu pai.
Abraços

Unknown disse...

Bonita a história de seu pai Plínio. Perfeita e bem escrita a narrativa. Abraços Flavio Ernandes.