domingo, 30 de abril de 2017

Um pouco sobre a música Fascinação



FASCINAÇÃO
Com Elis Regina

Os sonhos mais lindos sonhei
De quimeras mil um castelo ergui
E no teu olhar, tonto de emoção
Com sofreguidão mil venturas previ...

O teu corpo é luz, sedução
Poema divino cheio de esplendor
Teu sorriso prende, inebria e entontece
És fascinação, amor

Com Nat King Cole

It was fascination I know,
and it might have ended
Right there at the start,
Just a second glance,
Just a brief romance,
and I might have gone on my way,
Empty hearted

It was fascination I know,
Seeing you alone
in the moonlight above,
Then I touched your hand
and next moment
I kissed you,
Fascination turned to love...

# # # # # # #

Com Edith Piaf

Je t'ai rencontrée simplement,
Et tu n'as rien fait pour chercher à me plaire,
Je t'aime pourtant
D'un amour ardent,
Dont rien, je le sens, ne pourra me défaire.
Tu seras toujours mon amante
Et je crois à toi comme au bonheur suprême.
Je te fuis parfois, mais je reviens quand même.
C'est plus fort que moi: Je t'aime!


Um pouco sobre a música FASCINAÇÃO


    A música original chama-se “Fascination” e é uma popular canção francesa escrita em 1905 por Maurice de Féraudy (1859-1932) e Dante Pilade “Fermo” Marchetti (1876-1940).

Em  1943, Armando Louzada traduziu a canção para o português,  sendo interpretada por Carlos Galhardo,   em gravação feita no mesmo ano.

A música esteve presente na trilha das novelas “Fascinação” (1998 – duas gravações: Carlos Galhardo e Nana Caymmi), “O Profeta” (2006 - Elis Regina) e “O Casarão” (1976 - Elis Regina).
Em 1976, no aclamado álbum "Falso Brilhante", Elis Regina fez o seu registro da canção.

"Fascinação" tornou-se, desde então, uma das interpretações mais reconhecidas de Elis.

Mais tarde, Nana Caymmi  regravou a canção para a telenovela do mesmo nome,  exibida em 1988 pelo SBT.

Em 2007, a versão em francês integrou a trilha-sonora de "La Môme"  (no Brasil, Piaf - Um Hino ao Amor), filme baseado na vida de Edith Piaf. 

Quando Armando Louzada fez a versão, incluiu uma segunda parte, cantada com a mesma linha melódica da primeira parte, que é mais conhecida:

Escrita em 1905, Fascinação  foi traduzida para a língua inglesa por Dick Manning em  1932.

Em 1957 foi interpretada por Jane Morgan na trilha-sonora do filme estadunidense "Love in the Afternoon"  (no Brasil, Amor na Tarde), estrelado por Audrey Hepburn.  A canção foi mais tarde regravada por Dinah Shore, Nat King Cole e pelo maestro francês Paul Mauriat. 

terça-feira, 11 de abril de 2017

Carnaval, Quaresma e Semana Santa (Penitência, Promessa ou Jejum)



Carnaval, Quaresma e Semana Santa
(Penitência, Promessa ou Jejum)

No carnaval de 1976, a pedido do Tilúcio, eu fiz o primeiro samba-enredo para Agremiação Calouros do Samba homenageando o ritmista “Henriquinho” cujo refrão repetia o seu bordão “És filho de Medeiros, Sim Senhor!
Depois fiz outros sambas. Sempre falando da nossa gente, das coisas da nossa terra.
ü  Domingos (1978)
ü  Salve, ó Chopotó! Salvem o Chopotó (1979)
ü  Guido, este vale é teu (1980)
ü  Vestígios e Falência de nossas Festas, Cultura e Tradições (1982)

E foi no carnaval de 1976, mais precisamente numa quarta-feira de cinzas, dia 03 de março, que finda a folia momesca no Clube Francisco Campos, após o toque da tradicional marchinha “Cidade Maravilhosa”, amanhecendo o dia, fomos para o Bar da Esquina comentar as paqueras, os foras, os “amassos”, os beijos roubados e fugidios.
Empanzinados de bebidas alcoólicas, pedimos ao Tarcísio Caetano água mineral, sem gás, para acompanhar a conversa.
À mesa, amigos de infância: os irmãos Ronaldo e Roberto Vieira do Geraldo Didu; Gonzaga e Jorginho (Cariá) do Duzin Vieira; o Téia do Bié Linhares, o Adautinho do Adauto Ribeiral. Pode ser que tivessem presentes outros amigos, mas no momento me fogem à memória.
E a prosa se estendeu, prolongou, fluiu... Por volta das 8 horas da manhã, cansados de beber água pedimos uma cerveja. E mais uma e mais outra e outras mais...
Sei que cheguei em casa por volta das duas horas da tarde. Levei uma homérica bronca do Zizinho do Marcílio, meu saudoso pai. Tinha ele toda razão. Os pais sempre têm razão, mas só descobrimos isto muito tarde.
Só acordei na tarde de quinta-feira. De ressaca, até moral, pela reprimenda paterna. Consegui murmurar para os meus botões “ficarei sem beber na Quaresma”.
E foram dias difíceis para quem estava acostumado a beber, todos os dias, umas cervejinhas e até pinga, caipirinha e conhaque.
Mantive em segredo a minha intenção. Não contei a ninguém. Cumpri a promessa que fizera a mim mesmo. Não tinha nenhuma conotação religiosa, penitência ou jejum.
Acho que eu queria mesmo era dar um descanso ao fígado e, talvez, saber o quanto eu estava dependente do álcool.
Não foi fácil. Passados uns 15 dias começou uma coceira pelo corpo, comichão, prurido, cabufira. Deve ter sido a falta de álcool no organismo. Cheguei a rabiscar um calendário com contagem regressiva para saber quantos dias faltavam para terminar a abstinência.
Agora, passados mais de 41 anos, continuo com este ritual de não beber durante a quaresma. Não mais padeço pela privação da bebida alcoólica. Passo por este período com tranquilidade mesmo que vez ou outra eu tenha o desejo de beber uma cerveja ou uma taça de vinho.
Sobrevivi a aniversários, festas de casamentos, bufês especiais, temporadas em praia, batizados e velórios. Tudo isto a seco.
Ao longo deste tempo, muitos amigos me acompanharam nesta empreitada. Alguns desistiram no meio da caminho. Um solidário, até o fim, nesta privação foi o amigo “Milin” filho do saudoso Tatão Peru. Este amigo para abastecer o nosso primeiro gole, armazenou cachaça dentro de um coco-da-baía e o deixou descansar quietinho no fundo da caixa d’água da sua casa. O primeiro brinde com a preciosa bebida ocorreu no extinto Bar Kai-Terra no Fundão. Ainda guardo, na memória, o delicioso gosto da “água que passarinho não bebe”. O sabor do primeiro gole foi indescritível.
Nunca considerei sacrifício ficar este intervalo de tempo sem ingerir álcool. Beber a minha cerveja preferida é um dos bons prazeres que a vida me reserva. Mas não tem preço amanhecer o dia sem os efeitos de uma carraspana.
Acontece que dentro de nós habitam um “capetinha” e um “querubim” intrometendo-se a todo instante na nossa vida.
Depois de uns 25 anos ficando sem beber, da Quarta-feira de Cinzas ao Sábado da Aleluia, o “traquinas” que mora em mim envenenou-me dizendo que “quaresma são 40 dias e você fica 46 sem beber?”.
Recorri aos dicionários Aurélio e Houaiss. Consta:
“Os 40 dias que vão da quarta-feira de cinzas até domingo de Páscoa, destinados, pelos católicos e ortodoxos, à penitência; quarentena” (Aurélio)   e   “período de 40 dias, da Quarta-Feira de Cinzas até o Domingo de Páscoa” (Houaiss).
ERRO do Aurélio e do Houaiss. São quarenta e seis dias da Quarta-feira de Cinzas até o Sábado de aleluia.
Para melhor me esclarecer fui à Bíblia editada pela CNBB e que eu converti em livro digital (ebook). Encontrei 195 citações com a palavra “quarenta”, mas não há nenhuma referência à palavra QUARESMA que sequer é citada na Bíblia.
Consultei o Google e o melhor conceito que encontrei para QUARESMA foi “começa na Quarta-feira de Cinzas e termina no Domingo de Ramos, anterior ao Domingo de Páscoa”.
E complementa com “durante os quarenta dias que precedem a Semana Santa e a Páscoa, os cristãos dedicam-se à reflexão, à conversão espiritual e se recolhem em oração e penitência para lembrar os 40 dias passados por Jesus no deserto e os sofrimentos que ele suportou na cruz”(...).
“Cerca de duzentos anos após o nascimento de Cristo, os cristãos começaram a preparar a festa da Páscoa com três dias de oração, meditação e jejum. Por volta do ano 350 a Igreja aumentou o tempo de preparação para quarenta dias e foi assim que surgiu a Quaresma.”(...)
“O dia da Páscoa foi estabelecido por decreto do Primeiro Concílio de Niceia (ano de 325 D.C), devendo ser celebrado sempre ao domingo após a primeira lua cheia do equinócio da primavera (no Hemisfério Norte) e outono (no Hemisfério Sul).”
O “traquinas”, o anjo gênio do mau, estava correto em sua altercação. Quaresma, quarenta dias. O “Anjo da Guarda” que me protege não conseguiu contra-argumentar. Tivemos que nos resignar e aceitar as evidências.
Assim, há uns 15 anos que abreviei o primeiro gole para o Domingo de Ramos.
Já não sinto as coceiras de antigamente. Não elaboro calendário para contagem regressiva. Tornou-se fácil passar este tempo sem ingerir bebidas alcoólicas. Tem me feito muito bem ao corpo e a alma.
Emagreço uns quatro quilos. Ou desincho alguns litros?
Os exames de sangue apontam melhora, substancial, do colesterol, glicose, triglicéride, ácido úrico.
É um negócio tão bom, mas tão bom, que eu deveria seguir o conselho bem-humorado de meu pai que dizia ”meu filho, porque você não bebe na Quaresma e fica o resto do ano sem beber ?”.
A observação é pertinente. Vou pensar no caso. É uma possibilidade.

(texto escrito durante a Quaresma de 2017)