Por muito tempo pesquisei o paradeiro da Família Bartholo.
Em 2006 localizei o Ruy, neto do José Bartholo. Ele trabalhava no Beto Carrero Word
e me mandou o livro “Respeitável Público
- os Bastidores do Fascinante Mundo do Circo” escrito pelo seu pai Ruy
Bartholo.
Em agradecimento a sua gentileza mandei-lhe a carta abaixo,
junto com o meu CD “Gente & Terras
Geraes”.
Belo
Horizonte, 26 de maio de 2006
Prezado Ruy,
Com
muita satisfação recebi, ontem, o livro escrito por seu pai. Imediatamente comecei
a lê-lo e só parei ao final, emocionando-me em diversas partes. A história de
seu pai é muito rica e daria um excelente filme. Tem ação, romance, drama,
aventura e até comédia.
O
Marcos Frota ou você mesmo poderiam interpretá-lo, com direção do Jayme
Monjardim, numa produção do Beto Carrero.
Vou
relembrar, rapidamente, alguns episódios como percorrer todo este Brasil, em
cima de pranchas de barco e até carro de boi. A cobra cascavel que quase picou
seu pai, a primeira apresentação e queda no rola-rola, as várias destruições e os
eternos recomeço do circo, estudou na juventude com o cantor Roberto Carlos no
Espírito Santo, o “pega” de caminhão de dois circo com capotamentos, o amor à
primeira vista de seu pai por sua mãe Loriete, o parto difícil de sua irmã
Jacqueline, a narrativa do seu casamento e depois o de Jacqueline, o acidente do
elefante com a sua irmã Jane, a epopéia da novela “Ana Raio e Zé Trovão”, a
persistência e visão empresarial de seu pai, a dedicação e adoração de seu pai pela
sua família, a compra dos elefantes, o conto-do-vigário, o transporte dos EUA
para o Brasil. A triste e traumática separação dos irmãos Bartholo, e mais e
muito mais fatos que aconteceram na exuberante vida de Ruy Bartholo.
Todos
estes fatos, entremeados com belas cenas circenses, e aí poderia até se
utilizar artistas do Orlando Orfei, Circo Garcia, Tihany, ente outros para engrandecer
e embelezar o filme com todo o charme que o circo possui. Não tenho dúvida que
seria um filme emocionante e de grande aceitação popular.
Depois
poderia até percorrer o país exibindo-se o filme debaixo de uma lona de circo. Mas
isto tudo que estou dizendo é só uma fantasia, delírio de quem admira o mundo
circense. “Sonhar não custa nada”, disse um poeta no samba-enredo da Escola de
Samba Mocidade Independente de Padre Miguel.
Abraços,
Ildefonso
PS:
No livro de seu pai, dentre as
várias emoções que senti, uma foi quando à página 36, do livro, ele escreve
sobre a minha cidade:
“Jamais
vou esquecer de Guidoval, uma pequena cidade mineira, onde um forte temporal
atingiu o circo, que não resistiu e foi ao chão, as madeiras quebradas e o pano
todo rasgado. Ainda estávamos meio aturdidos, olhando os estragos, quando
ouvimos a voz do padre Oscar pelo alto-falante, conclamando todo o povo da
cidade a nos ajudar a reerguer o circo.
-
Povo de Guidoval – gritava ele. – Vamos ajudar o Bartholo (meu pai). Temos que
levantar este pequeno circo que tantas alegrias nos trouxe. Toda ajuda será
bem-vinda!
E,
imediatamente, antes que sequer nos déssemos conta do que estava acontecendo,
dezenas de mulheres afluíram ao local onde o circo jazia destroçado no chão, empunhando
agulhas e linhas para remendar o pano rasgado.
Enquanto
isso, chegavam os homens, munidos de serrotes, pregos e martelos, que
prontamente se puseram a consertar tábuas, cruzetas e grades.
Tudo
ficou novinho em folha, e naquela mesma noite ainda fomos homenageados no
cine-teatro da cidade, com um show de
cantores locais. Mais parecíamos heróis voltando ao lar depois da batalha! Foi
realmente uma experiência incrível.
Em
Guidoval, o padre vendia ingressos para o circo ma hora da missa de domingo,
quando a igreja estava lotada.
-
Vamos ao circo – dizia ele. – Enquanto eu rezo, as Filhas de Maria vão vender
os ingressos.
E
o padre era convincente, pois todos compravam para ajudar, até mesmo aqueles
que já tinham entrada permanentes, o que fez com que o circo ficasse uma
maravilha, em pleno período de chuvas, quando normalmente estaria sem público.
Guidoval era a cidade dos sonhos de
qualquer circense da época e, se pudéssemos, teríamos ficado lá para sempre.
Mas o circo tinha de seguir o seu caminho, para levar sua alegria a outras
paragens e, assim, cumprir seu destino.”
Depois à página 106 ela volta a citar minha cidade:
“Olhando
aquele desastre, me lembrei de Guidoval, onde o padre pedira ajuda à população
da cidade pelo alto-falante da igreja para reerguer o circo”. Mas ali era
diferente; a cidade era muito grande e tudo acontecera de madrugada.”
# # # # # #
Como se pode ver, minha pequena
cidade ficou guardada na memória de seu pai e registrada com carinho neste
livro que conta a história de um circo no Brasil.
# # # # # #
Prezado Ruy,
Queira dar um grande e carinhoso
abraço ao seu pai em nome de toda população de Guidoval que também não esquece
o “Circo Teatro Irmãos Bartholo”.
No próximo número do “Jornal de
Guidoval” iremos falar de seu pai e do livro que ele escreveu.
Abraços,
Ildefonso