Dr. Ronaldo Ribeiro
dos Santos
“Falarei tudo que souber de bom de um homem”,
muitas vezes ouvi o meu amigo Ronaldo, o Dr. Ronaldo Ribeiro dos Santos,
pronunciar esta frase que o saudoso empreendedor guidovalense Elísio Avidago afixou
no interior do seu ônibus/jardineira que fazia o trajeto Guidoval-Ubá.
O
autor do aforismo é o escritor, filósofo e poeta estadunidense Ralph Waldo
Emerson, a quem o Ronaldo admirava.
Hoje, 23 de julho, é dia do seu
aniversário do Ronaldo, quando faria 68 anos. Infelizmente não temos a sua
presença física para comemorarmos esta data especial. Registro aqui a minha
lembrança, saudade e prece a sua alma.
“Falarei tudo que souber de bom de um homem”
relembrando que em meados da década de 70, o meu amigo Ronaldo fez um Manifesto
Ecológico distribuindo ao povo guidovalense um impresso, escrito num papel
amarelo, num texto de Marcus Cremonese, que transcrevo abaixo.
Canário da Terra
"Possue ainda grandes
mattas virgens, povoadas de passarinhos, onde o machado, o fogo e a
imprevidência imperdoável dos homens, tem destruído este grande thesouro do
nosso paiz".
(Antonio de Assis
Martins: no Almanak Administrativo Civil e Industrial da Província de Minas –
Geraes, do anno 1.869 para servir no anno de 1.870)
Com o trecho acima, há 120 anos, o
cronista do império demonstrava sua preocupação pelo destino da natureza
mineira. Há poucos anos o Rio Chopotó abrigava lontras, capivaras e pacas –
isso sem falar nos bagres, traíras, acarás, cascudos, piaus e lambaris que,
praticamente, foram exterminados sob nossas vistas. Destino igual teve o"canário
da terra", que poderia ser o símbolo da cidade, tal a sua
abundância.
A visão atual do ecossistema mundial
é grave. Envolve risco na utilização da energia atômica, poluição sonora e do
ar, queimadas, chuvas ácidas, alteração da camada de ozônio, alternância de
secas e enchentes, agressão aos mares, destruição de florestas e rios,
proliferação de insetos e propagação de doenças infetco-parasitárias, abuso na
utilização de agrotóxicos, etc.
Alguns ecologistas consideram que,
habitando as pequenas cidades, pássaros e pequenos animais poderão ter,
eventualmente, maior proteção ambiental. Nos últimos meses algumas dezenas de
canarinhos da terra foram criados em cativeiro. É claro que, se em liberdade
este número seria muito maior.
Nossa cidade já foi riquíssima em
arquitetura e recursos naturais.
Os canarinhos soltos hoje, se protegidos pela sociedade firmarão nosso interesse em resgatar o mínimo possível do nosso passado.
Os canarinhos soltos hoje, se protegidos pela sociedade firmarão nosso interesse em resgatar o mínimo possível do nosso passado.
Jogue canjiquinha de arroz e de milho no
seu quintal. Sempre no mesmo lugar.
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Através
de um e-mail, o Marquim Cremonese me explicou como surgiu este MANIFESTO ECOLÓGICO.
"Eu morava em Santa Teresa e o
Ronaldo Ribeiro no Cosme Velho. Um dia ele apareceu lá em casa e me disse mais
ou menos assim: "Marquinho, em meio às muitas outras coisas da nossa
terra que já se perderam, uma delas ainda pode ser salva: é o canário da
terra". O canário é uma das paixões do Ronaldo (as outras duas são o Tom
Jobim e o jazz). Ele instituiu o canário como símbolo da fauna do Sapé. Marcou
para um certo dia (não me lembro, faz muito tempo) e promoveu uma espécie de
"ato cívico", na praça, quando foram soltos um grande número de
canários, criados em gaiolas, para que eles pudessem voltar às matas, procriar,
e continuar colorindo o cenário, e encantando os ouvidos de todos com o seu
canto. Isso foi há mais de quinze anos. Mas era preciso conscientizar a
população sobre o que estava sendo planejado; do contrário seriam apenas mais
canários soltos para caírem de novo nos alçapões e voltarem para as gaiolas.
Muitos dos canários, acostumados a comer em cativeiro, sentiriam dificuldades
no início, para encontrar suas próprias fontes de alimento. Daí seria
necessário, de novo, mais conscientização no sentido de a comunidade facilitar
a alimentação dos pássaros. Para explicar o seu plano e levar adiante o ato
cívico, o Ronaldo me pediu que eu redigisse umas "mal-traçadas" linhas,
que seriam impressas num panfleto. E saiu esse texto. Mesmo à distância, dei a
minha pequena colaboração no sentido de, pelo menos tentar, salvar o canarinho
da extinção. Mas, de fato, toda a ideia e a maioria das palavras que eu escrevi
(ou transcrevi) ali são do Ronaldo Ribeiro."
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