Circo Bartholo
No final dos anos 50 o Circo
Bartholo apresentando-se em nossa cidade foi destruído por um forte temporal. O
povo de Guidoval, hospitaleiro e solidário, ajudou a reconstruir o circo.
Considero esse gesto de grandeza dos guidovalenses um marco na nossa história.
Há tempos venho procurando
notícias sobre o Circo Bartholo. Enfim, consegui contatar a família através de
Ruy Bartholo Júnior, domador de elefantes no famoso Parque Temático Beto
Carrero Word. Disse-me que o pai, Ruy, tem um hotel na cidade, está adoentado,
sofreu três derrames, mas que Graças a Deus vem, aos poucos, se recuperando.
Em 1999, seu pai escreveu o
livro “Respeitável Público - Os bastidores do fascinante mundo do circo”.
Recebi um exemplar e li imediatamente a epopéia do Gran Circus Bartholo.
Dentre as várias emoções que
senti lendo o livro, uma foi descrita nas páginas 36 e 37, quando se fala de
nossa terra. Texto que transcrevo abaixo:
“Jamais vou esquecer de Guidoval, uma pequena cidade mineira,
onde um forte temporal atingiu o circo, que não resistiu e foi ao chão, as
madeiras quebradas e o pano todo rasgado. Ainda estávamos meio aturdidos,
olhando os estragos, quando ouvimos a voz do padre Oscar pelo alto-falante,
conclamando todo o povo da cidade a nos ajudar a reerguer o circo.
- Povo de Guidoval - gritava ele. Vamos ajudar o Bartholo (meu
pai). Temos que levantar este pequeno circo que tantas alegrias nos trouxe.
Toda ajuda será bem-vinda!
E, imediatamente, antes que sequer nos déssemos conta do que
estava acontecendo, dezenas de mulheres afluíram ao local onde o circo jazia
destroçado no chão, empunhando agulhas e linhas para remendar o pano rasgado.
Enquanto isso, chegavam os homens, munidos de serrotes, pregos e
martelos, que prontamente se puseram a consertar tábuas, cruzetas e grades.
Tudo ficou novinho em folha, e naquela mesma noite ainda fomos
homenageados no cine-teatro da cidade, com um show de cantores locais. Mais
parecíamos heróis voltando ao lar depois da batalha! Foi realmente uma experiência
incrível.
Em Guidoval, o padre vendia ingressos para o circo na hora da
missa de domingo, quando a igreja estava lotada.
- Vamos ao circo - dizia ele. Enquanto eu rezo, as Filhas de
Maria vão vender os ingressos.
E o padre era convincente, pois todos compravam para ajudar, até
mesmo aqueles que já tinham entradas permanentes, o que fez com que o circo
ficasse uma maravilha, em pleno período de chuvas, quando normalmente estaria
sem público.
Guidoval era a cidade dos sonhos de qualquer circense da época e,
se pudéssemos, teríamos ficado lá para sempre. Mas o circo tinha de seguir o
seu caminho, para levar sua alegria a outras paragens e, assim, cumprir seu
destino.”
Uma das grandes qualidades do ser humano é a gratidão. Foi o que
Ruy, filho do velho Bartholo demonstrou no livro que escreveu. Que viva,
sobreviva o circo, o riso, a cordialidade, hospitalidade e solidariedade.
escrito por Ildefonso DÉ Vieira
(publicado no Jornal de Guidoval -
Jul/2006)
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