quarta-feira, 25 de junho de 2014

O Morro da Sá Lódia



O Morro da Sá Lódia

No meio do caminho tinha um morro. Tinha um morro no meio do caminho.

Começo assim porque entre todos os laços que me unem a minha terra natal, está o morro da Sá Lódia.

Pode parecer banal!

Buscar uma rima para ele? Difícil!... Mas não importa, pois Sá Lódia rima mesmo é com infância, sonho, emoção, brincadeira de criança e até mesmo coração. Meu coração!

Ele ainda era descalço como eram todas as ruas de Guidoval, mas era tudo o que eu queria, pois quando ali passava, acompanhada por minha avó ou sozinha, era nos seus veios rasos ou profundos, desenhados pela água da chuva que escorregava morro abaixo que eu, na minha inocência de criança, mas já sonhadora e cheia de imaginação, escondia os meus segredos ainda inocentes, mas só meus! Minhas vontades frustradas! Meus desejos irrealizáveis como me livrar da letra espelhada que me perseguiu no primeiro ano de escola! Minhas visões fantásticas criadas durante a noite! 

Rabugices! Até "O Piano de Lili", quando fui para o segundo ano de escola, deixei guardado nos veios do morro da Sá Lódia...

Era nele que eu encontrava o labirinto perfeito para guardar tudo o que eu já vivera; tudo o que era sonho e segredos da minha imaginação.
 
Era pelo morro da Sá Lódia que eu subia com passos firmes para ir à escola, encontrar a mestra D. Odete Vieira, aquela que com verdadeiro amor me ensinou, com sabedoria e magia os valores iniciais da minha vida. Era por ele que passava para ir à casa de Sant'Ana , nos fins de semana com minha avó, ou à loja da dona Sinhaninha, todos os dias - precisasse ou não- comprar alguma coisa para vó feinha. Lá estava tudo que realizava os sonhos de uma criança.

Parecia casa de boneca! Na loja da dona Sinhaninha eu deixava nossas cartas para o papai noel.

Por que falar do morro da Sá Lódia? Muitos devem estar se perguntado. É que nos tempos de hoje, só me resta costurar sonhos, brincar de bordar histórias, de desatar nós e laços que ainda me unem ao morro da Sá Lódia, pois o que eu não carreguei comigo quando vim de lá, ainda está, certamente, dentro dos veios e labirintos da terra antiga que , hoje, coberta de asfalto, não tenho como resgatar.

Mas a imagem de Sá Lódia, responsável pelo nome daquele morro,continua envolta em simplicidade e sabedoria de uma figura humana sem igual, e que jamais vai se perder, pois ela veio comigo.

Nenhum comentário: