O Morro da Sá Lódia
No meio do caminho tinha um morro. Tinha um morro no meio do
caminho.
Começo assim porque entre todos os laços que me unem a minha
terra natal, está o morro da Sá Lódia.
Pode parecer banal!
Buscar uma rima para ele? Difícil!... Mas não importa, pois
Sá Lódia rima mesmo é com infância, sonho, emoção, brincadeira de criança e até
mesmo coração. Meu coração!
Ele ainda era descalço como eram todas as ruas de Guidoval,
mas era tudo o que eu queria, pois quando ali passava, acompanhada por minha
avó ou sozinha, era nos seus veios rasos ou profundos, desenhados pela água da
chuva que escorregava morro abaixo que eu, na minha inocência de criança, mas
já sonhadora e cheia de imaginação, escondia os meus segredos ainda inocentes,
mas só meus! Minhas vontades frustradas! Meus desejos irrealizáveis como me
livrar da letra espelhada que me perseguiu no primeiro ano de escola! Minhas
visões fantásticas criadas durante a noite!
Rabugices! Até "O Piano de
Lili", quando fui para o segundo ano de escola, deixei guardado nos veios
do morro da Sá Lódia...
Era nele que eu encontrava o labirinto perfeito para guardar
tudo o que eu já vivera; tudo o que era sonho e segredos da minha imaginação.
Era pelo morro da Sá Lódia que eu subia com passos
firmes para ir à escola, encontrar a mestra D. Odete Vieira, aquela que com
verdadeiro amor me ensinou, com sabedoria e magia os valores iniciais da minha
vida. Era por ele que passava para ir à casa de Sant'Ana , nos fins de semana
com minha avó, ou à loja da dona Sinhaninha, todos os dias - precisasse ou não-
comprar alguma coisa para vó feinha. Lá estava tudo que realizava os sonhos de
uma criança.
Parecia casa de boneca! Na loja da dona Sinhaninha eu
deixava nossas cartas para o papai noel.
Por que falar do morro da Sá Lódia? Muitos devem estar se
perguntado. É que nos tempos de hoje, só me resta costurar sonhos, brincar de
bordar histórias, de desatar nós e laços que ainda me unem ao morro da Sá
Lódia, pois o que eu não carreguei comigo quando vim de lá, ainda está,
certamente, dentro dos veios e labirintos da terra antiga que , hoje, coberta
de asfalto, não tenho como resgatar.
Mas a imagem de Sá Lódia, responsável pelo nome daquele
morro,continua envolta em simplicidade e sabedoria de uma figura humana sem
igual, e que jamais vai se perder, pois ela veio comigo.
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