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Belo Horizonte, tarde da noite de 20/03/1987
Chego em casa e a Lourdes me recebe, lágrimas nos olhos e, como uma bomba, me dá a notícia de supetão: “Padinha morreu”.
Um nó de incredulidade me sufoca a garganta. Não quero, não devo, não posso acreditar.
Uma prece mal rezada brota dos meus sentimentos. É pouco. Muito pouco.
É quase nada. Padinha merece muito mais que uma simples oração.
A Lourdes não sabe detalhes da tragédia. Apenas que foi um acidente de carro.
Pouco depois, minha irmã Sueli telefona. Voz embargada, em prantos, diz “perdemos o Padinha”. Morte prematura.
Padinha tinha apenas 31 anos. A mesma idade da mana Sueli. Nasceram no mesmo dia e ano. Consideravam-se como irmãos gêmeos.
Antônio - do Dia Santo - de Pádua - 13 de junho de 1955.
Santo Antônio, Padroeiro da Conciliação. Devoto.
Padinha de muitos, incontáveis, amigos.
Olho o meu violão encostado no canto da sala. Com ele acompanhei várias vezes o Padinha cantando a música “Minha História” de Lupiscinio Rodrigues.
Não há músicas na morte. Não há poesia na morte. A morte não tem sensibilidade, não tem explicações.
Ficamos sabendo que a Dona Zilda Mendonça, mãe da Padinha, também estava no carro. Estava internada em estado grave. Depois veio a falecer.
Dona Zilda, grande educadora, professora de meu pai Zizinho do Marcílio no grupo escolar (Escolas Reunidas).
Meu pai ficou órfão com poucos meses de vida.
Muito do que ele tinha de bom e nobre aprendeu com Dona Zilda.
Ele tinha orgulho em afirmar isto.
Eu mantenho este orgulho. Benditas professoras!
Tento me consolar e penso:
Padinha já deve de estar no Paraíso, pertinho de Deus e entes queridos: Sô Orestes, Sô Eduardo, dos amigos Natalino Dornelas e Ronaldo do Landinho.
Me vêm pormenores, particularidades do coração humano, bondoso, fiel do Padinha. Amizade marcante, o constante bom humor.
O sorriso eterno. A energia de viver.
De ajudar, participar, envolver-se com Guidoval.
Colaborando com o Jornal Saca-Rolha, criando o GuidoGole, ajudando o Meia-Meia, a Calouros do Samba, os times União e Cruzeiro de Guidoval.
Por onde andou, divulgou uma Guidoval que só os mais sonhadores conseguem enxergar. Em Araçuaí, Juiz de Fora sempre exaltando a nossa cidade.
Comparecendo aos eventos da AGBH e aonde que fosse chamado.
Relembro dos churrascos improvisados no quintal da casa de seus pais, sempre trazendo novos e eternos amigos.
Padinha do Banco do Brasil. PT de carteirinha. Vascaíno por hereditariedade. Atleticano por opção, consciente.
Padinha do ping-pong. Campeão. Grande campeão.
O aluno exemplar no Grupo Escolar Mariana de Paiva, pequeno ator das grandes festas cívicas escolares.
Grande , pequeno polegar, Padinha, a quem eu chamava carinhosamente de Pádua, termino estas saudosas linhas com o Salmo 22 (Salmo de Davi):
1. O Senhor é meu pastor, nada me faltará.
2. Em verdes prados ele me faz repousar. Conduz-me junto às águas refrescantes,
3. restaura as forças de minha alma. Pelos caminhos retos ele me leva, por amor do seu nome.
4. Ainda que eu atravesse o vale escuro, nada temerei, pois estais comigo. Vosso bordão e vosso báculo são o meu amparo.
5. Preparais para mim a mesa à vista de meus inimigos. Derramais o perfume sobre minha cabeça, e transborda minha taça.
6. A vossa bondade e misericórdia hão de seguir-me por todos os dias de minha vida. E habitarei na casa do Senhor por longos dias.
SAUDADES PÁDUA!
(texto retirado em parte de apontamentos e anotações que fiz à 01 hora e 4 minutos da madrugada do dia 21/03/1987)
PS:
Antônio de Pádua Occhi (Padinha) virou enredo da Calouros do Samba, emprestou o seu nome à Quadra Esportiva de Guidoval e agora a AABB de Juiz de Fora, em sua homenagem, nominou de Guidoval a sua equipe de FUTSAL.
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