Desde pequena ouvia as pessoas cantarem, na igreja, nas festas de
Sant'Ana, assim: Ó sinhá Sant'Ana, sua
casa cheira, cravos e rosa, lê,lê, flor de laranjeira!
Eu cantava junto e chorava de emoção, sem saber exatamente porque
chorava, mas a musicalidade e o coro de vozes me tornavam emotiva, enquanto a
imagem dela era carregada pelo corpo da igreja até seu altar.
Eu ia pra casa e ficava pensando: “seria tão bom que todas as casas, inclusive a de minha avó cheirassem a
cravo, rosa e flor de laranjeira”.
Essa música nunca me saiu da cabeça, muitas vezes me peguei e ainda
me pego cantarolando, sem saber por quê.
Hoje, sei que cravo, rosa e flor de laranjeira são a simplicidade,
a mistura que transcende a alma e chega até quem é capaz de senti-las
como conforto e certeza de que muito além dos cheiros está a capacidade de
transformar tudo com a força do poder de quem sabe que esta alquimia chega de
forma reconfortante.
Esta alquimia está acontecendo hoje em nossa terra, com o mutirão
da limpeza, que quer colorir Guidoval e certamente em cada rolo que desce
pelas paredes carregados de cores diversas, está sendo fixada a mistura, não só
de cores, mas também de cravo, rosa e flor de laranjeira, para de verdade
a nossa querida terra deixar de cheirar a lama e barro, para reacender o cheiro
da casa de Sant'Ana, o cheiro que tudo muda, tudo transforma, o cheiro que é
capaz de ficar para sempre, como resposta a quem pensava que nossa terra estava
acabada, destruída, mas não, a mão de Sant'Ana, o cheiro da casa de Sant'Ana é
que vão trazer de volta a alegria e a força para nosso povo se levantar e
recomeçar.
Acho que vou me levantar junto com Guidoval e
então caminharemos de braços dados, assim que eu puder ir até lá e
cantarmos juntos a canção de Sant'Ana.
O Chopotó cresceu, cresceu, lambeu as margem furioso, falou grosso,
assustou a todos mas não levou consigo a alma de nosso povo
escrito por Maria das
Graças Santos Carmo
Ela é sobrinha do Mundico, filha da Aparecida e do saudoso
Benjamin da “Força & Luz”.
Em 2000, ela lançou o livro “Na Contramão da Vida”.
Escreva mais, Gagaça.
Um comentário:
Maria das graças,
Seu texto é muito bonito e fala ao coração de quem o lê.De cara identifiquei-me com ele,primeiro por ser um texto que desperta o que há de melhor em nossa alma: a sensibilidade.Segundo que,sendo guidovalense,batizada naquela igreja de Guidoval,não poderia deixar de me emocionar
Abraços,
Maria José Baía Meneghite
Jornal Leopoldinense
Leopoldina MG
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