domingo, 4 de março de 2012

texto de Maria das Graças Santos Carmo


Desde pequena ouvia as pessoas cantarem, na igreja, nas festas de Sant'Ana, assim: Ó sinhá Sant'Ana, sua casa cheira, cravos e rosa, lê,lê, flor de laranjeira! 

Eu cantava junto e chorava de emoção, sem saber exatamente porque chorava, mas a musicalidade e o coro de vozes me tornavam emotiva, enquanto a imagem dela era carregada pelo corpo da igreja até seu altar. 

Eu ia pra casa e ficava pensando: “seria tão bom que todas as casas, inclusive a de minha avó cheirassem a cravo, rosa e flor de laranjeira”.

Essa música nunca me saiu da cabeça, muitas vezes me peguei e ainda me pego cantarolando, sem saber por quê.

Hoje, sei que cravo, rosa e flor de laranjeira são a simplicidade, a mistura que transcende a alma e chega até quem é capaz de senti-las como conforto e certeza de que muito além dos cheiros está a capacidade de transformar tudo com a força do poder de quem sabe que esta alquimia chega de forma reconfortante.

Esta alquimia está acontecendo hoje em nossa terra, com o mutirão da limpeza, que quer colorir Guidoval e certamente em cada rolo que desce pelas paredes carregados de cores diversas, está sendo fixada a mistura, não só de cores, mas também de cravo, rosa e flor de laranjeira, para de verdade a nossa querida terra deixar de cheirar a lama e barro, para reacender o cheiro da casa de Sant'Ana, o cheiro que tudo muda, tudo transforma, o cheiro que é capaz de ficar para sempre, como resposta a quem pensava que nossa terra estava acabada, destruída, mas não, a mão de Sant'Ana, o cheiro da casa de Sant'Ana é que vão trazer de volta a alegria e a força para nosso povo se levantar e recomeçar. 

Acho que vou me levantar junto com Guidoval e então caminharemos de braços dados, assim que eu puder ir até lá e cantarmos juntos a canção de Sant'Ana. 

O Chopotó cresceu, cresceu, lambeu as margem furioso, falou grosso, assustou a todos mas não levou consigo a alma de nosso povo

escrito por Maria das Graças Santos Carmo

Ela é sobrinha do Mundico, filha da Aparecida e do saudoso Benjamin da “Força & Luz”.

Em 2000, ela lançou o livro “Na Contramão da Vida”.
Escreva mais, Gagaça.

Um comentário:

Anônimo disse...

Maria das graças,

Seu texto é muito bonito e fala ao coração de quem o lê.De cara identifiquei-me com ele,primeiro por ser um texto que desperta o que há de melhor em nossa alma: a sensibilidade.Segundo que,sendo guidovalense,batizada naquela igreja de Guidoval,não poderia deixar de me emocionar

Abraços,
Maria José Baía Meneghite
Jornal Leopoldinense
Leopoldina MG