sexta-feira, 21 de maio de 2010

Lendas, factóides e mentiras do Futebol


O jornalista Álvaro Fraga comete algumas impropriedades na matéria que ele escreveu para o jornal “Estado de Minas’, dia 15 de maio, à página 20 do primeiro caderno, intitulada “Quando a teimosia entra em campo”.


A primeira meia-verdade, o que equivale a uma meia-mentira, é que a Copa de 1962 no Chile foi talvez a mais tranquila campanha da Seleção Brasileira em todos os tempos, sob o comando do técnico Aymoré Moreira. Sem polêmicas, sem reclamações. Nem mesmo a contusão de Pelé mudou a história de sucesso. Amarildo o substituiu e Garrincha assumiu a responsabilidade de conquistar o bicampeonato”.


O jogo Brasil e Espanha realizado no dia 06/06/1962. A Espanha fez 1 X 0 aos 35 minutos do primeiro tempo.


Aos 25 minutos do segundo tempo Nilton Santos fez um pênalti, mas malandramente deu passos à frente como quem não quer nada e árbitro marcou falta fora da grande área.


Na cobrança desta falta, a defesa brasileira rebateu e o grande Puskas marcou um gol de bicicleta, anulado pelo juiz como se fosse jogada perigosa, que não houve. O juiz marcou foi perigo de gol que realmente aconteceu.


Quase em seguida, aos 27 minutos, é que o Brasil empata com um gol de Amarildo. A vitória por 2 X 1 só foi conseguida aos 41 minutos.


Com uma vantagem de dois gols, a Espanha dificilmente deixaria de ganhar a partida e o Brasil seria eliminado da competição. E adeus bicampeonato.

Ainda teve uma expulsão do Garrincha no jogo com o Chile e ele jogou na partida seguinte.


Há quem diga de um pênalti cometido pelo Djalma Santos na partida final com a Thecoslováquia. Mas nesta partida o Brasil foi tão superior que com ou sem pênalti a seleção brasileira ganharia a partida.

A segunda meia-verdade é a informação incompleta Vicente Feola se rendeu às pressões de todos os tipos e chegou a convocar três seleções, além de insistir com jogadores veteranos e outros de pouca capacidade, como o lateral Rildo. Para piorar, Pelé se machucou e o Brasil foi um fiasco, enterrando o sonho do tri.”


Na verdade, formaram-se quatro seleções. Uma para cada cor da bandeira nacional. Tinha o time branco, verde, azul e amarelo.


Foram convocados 47 jogadores:

Fábio - São Paulo, Gilmar - Santos, Manga - Botafogo, Ubirajara - Bangu e Valdir - Palmeiras (goleiros); Carlos Alberto Torres – Santos, Djalma Santos – Palmeiras, Fidélis – Bangu, Murilo – Flamengo, Édson Cegonha – Corinthians, Paulo Henrique – Flamengo e Rildo – Botafogo (laterais); Altair – Fluminense, Bellini – São Paulo, Brito – Vasco, Ditão – Flamengo, Djalma Dias – Palmeiras, Fontana – Vasco, Leônidas – América/RJ, Orlando Peçanha – Santos e Roberto Dias – São Paulo (zagueiros); Denílson – Fluminense, Dino Sani – Corinthians, Dudu – Palmeiras, Edu – Santos, Fefeu – São Paulo, Gérson – Botafogo, Lima – Santos, Oldair – Vasco e Zito – Santos (apoiadores); Alcindo – Grêmio, Amarildo – Milan, Célio – Vasco, Flávio – Corinthians, Garrincha – Corinthians, Ivair – Portuguesa de Desportos, Jair da Costa – Inter de Milão, Jairzinho – Botafogo, Nado-Náutico, Parada – Botafogo, Paraná – São Paulo, Paulo Borges – Bangu, Pelé – Santos, Servílio – Palmeiras, Rinaldo – Palmeiras, Silva – Flamengo e Tostão – Cruzeiro (atacantes).


O Rildo não era um Nilton Santos, mas era um lateral razoável, jogou apenas uma partida contra Portugal e marcou o único gol do Brasil nesta partida que a nossa seleção perdeu por 3 X 0. Rildo não foi responsável pelo fiasco do Brasil.


E eu, como flamenguista convicto, não tenho nenhum motivo para defender atleta do Botafogo.


O Manga, sim, outro botafoguense, um dos grandes goleiros da história brasileira, falhou

clamorosamente em dois gols do time português.


E “Pelé não se machucou”, foi caçado em campo pelo zagueiro Vicente. Foi machucado pela defesa de Portugal. Pelé terminou a partida sem condições de andar. Naquele tempo não podia substituir jogador durante a partida.


E Portugal tinha um bom time, tanto que ficou em 3º lugar na competição.


Quanto a insistir com jogadores veteranos, dos jogadores que foram à Inglaterra seis se tornaram tricampeões no México, quatro anos depois.

São eles Brito, Gérson, Jairzinho, Tostão, Pelé e Edu.


E por último uma inverdade cruel, mentira que repetida mil vezes, toma ares de verdade. Refiro-me à citação sobre a Copa de 1970 no México.


O jornalista escreveu “Pelé e Tostão, os dois maiores craques brasileiros na época, foram o alvo da teimosia do técnico João Saldanha, que disse que eles não poderiam atuar juntos. O treinador chegou a deixar Pelé na reserva, mas acabou substituído por Zagallo, que escalou a dupla, montou um time fantástico e se sagrou tricampeão.”


O João Saldanha nunca falou que Pelé e Tostão não podiam jogar juntos.

É balela, lendas que vão se criando no futebol.


O João Saldanha foi chamado para técnico da seleção brasileira para disputar as eliminatórias para a Copa de 70.


Para a base da seleção ele convocou um misto de jogadores do time do Santos mais do Botafogo e acrescentou o Tostão.


A primeira providência foi escalar os titulares e os reservas de sua seleção.

A Seleção titular tinha cinco jogadores do Santos (Pelé, Carlos Alberto Torres, Edu, Djalma Dias e Joel Camargo); três do Botafogo (Gerson, Jairzinho e Rildo), dois do Cruzeiro (Tostão e Piazza) e o goleiro Felix do Fluminense.


A imprensa apelidou a seleção como as “feras do Saldanha”, ao invés dos mansos “canarinhos”.


João Saldanha dirigiu a Seleção Brasileira de 07/04/1969 a 14/03/1970.

Foram 17 partidas. Em todas elas o Pelé jogou.

Foram 15 vitórias e duas derrotas em amistosos. Um contra o time do Galo por 2 X1 em 03/09/1969 e outra contra a Seleção da Argentina por 2 X 0 em 04/03/1970.


Foram marcados 52 gols e levou 14 gols.


Tostão e Pelé formaram a dupla de ataque em 14 partidas.

Tostão machucou o olho em 24/09/1969 e não jogou as três últimas partidas comandadas por João Saldanha.


Tostão foi o artilheiro das Eliminatórias com 9 gols em 6 partidas, uma média de 1,5 gol/partida, talvez a mais alta da seleção brasileira em Eliminatórias.

Outra lorota é o boato o João Saldanha dissera que o Pelé estava cego.


É mentira, ele nunca disso isso.


É só reler a reportagem que o grande jornalista Geneton Moraes fez com o João Saldanha em 04/07/1983 onde ele declara:

"Pelé, a meu ver, nunca teve problema de vista. Ele enxerga mais do que nós.” (...) Aquela história deve ter surgido dentro do SNI ... Quem tinha problema de vista na seleção era Tostão e, ainda assim, fiz Tostão ser convocado à força. Quando ele foi se operar em Houston, no Texas, eu convoquei só vinte e um - e não vinte e dois jogadores, porque sabia que na operação de Tostão havia mais charlatanismo e publicidade do que propriamente uma lesão. Quanto a Pelé, não tive nenhum problema. Os retrospectos estão aí. Todas as partidas em que fui treinador ele jogou. Nunca fiz um pronunciamento daqueles sobre a vista de Pelé por duas razões. Uma é que seria injusto: sou leigo e não entendo. Nós só tínhamos uma preocupação quanto à boa visão: com os goleiros. Dos goleiros, a gente exige que tenham uma visão igual aos exames que são feitos com os aeronavegadores, os pilotos de aviação. Quanto aos demais jogadores, o campo visual é tão vasto que nós nunca nos preocupamos. O importante é que enxerguem a bola. E Pelé enxergava! A segunda razão é que não sou burro. Se eu vejo o cara jogar e ser o melhor jogador do mundo, eu vou dizer "não"? Nunca ele foi barrado por mim. Ao contrário: eu o defendia. Houve uma época em que Pelé não era tão querido nem tão publicitário. Era um simples jogador do Santos. E o Santos não "vendia" em São Paulo. Quem vende lá é Palmeiras, é Corinthians, é São Paulo. O Santos, não. É um time de cidade pequena. Então, ele não era bem visto lá. A onda não era em cima de mim: era em cima de Pelé. Eu e Pelé já conversamos sobre essa coisa e rimos. Digo: foi um troço torpe. Desafio qualquer um que jamais tenha lido ou ouvido de mim qualquer coisa a esse respeito! "Nós tivemos vários jogadores homossexuais da melhor qualidade.Craques que dormiam com homem" Não sou idiota. E por que eu iria fazer algo tão gratuito, se ele não me devia nem eu a ele? Somos bons amigos".


Quem relutou em escalar juntos Pelé e Tostão foi o Zagallo.

O primeiro ataque do time comandado por Zagallo nas três primeiras partidas era formado por Jairzinho, Roberto Miranda, Pelé e Paulo César Caju.

Na quarta e quinta partida entrou Dario Peito de Aço no lugar de Roberto Miranda.


Na sexta partida (26/04/1970) começou com Tostão que depois foi substituído por Pelé.


Só na sétima partida começaram jogando Pelé e Tostão que foi substituído por Dario. O mesmo ocorrendo na oitava partida.


Na nona partida começou com Tostão e Pelé que depois foi substituído pelo Dario.


Na décima partida Pelé foi substituído por Roberto Miranda.


Só na décima primeira partida, jogo de abertura do Brasil na Copa do Mundo do México, m 03/06/1970, contra a Tchecoslováquia é que Pelé e Tostão jogaram juntos toda a partida.


Ainda bem que Zagalo descobriu a tempo que Pelé e Tostão poderiam jogar juntos.


É preciso que se corrija esta injustiça contra o João Saldanha, mais que técnico, um grande comentarista, analista e amante do futebol.


João Saldanha morreu durante a Copa do Mundo de 1990 na Itália.


Também aquela seleção do Lazaroni era de matar qualquer um, o que não era o caso do grande jornalista João Saldanha.

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