José Joaquim Nogueira
José Joaquim Nogueira
Recebi a triste notícia da morte do José
Joaquim Nogueira, um amigo desde o tempo da infância e juventude.
Em 1963 fui seu vizinho na Rua Santa
Cruz (Corta-Rabo), numa época em que as ruas eram pródigas em crianças. São contemporâneos
dessa época, o seu irmão Álvaro, Cláudio e Clebinho do Chiquito Galdino, Joel
do Coutinho, Zé Ângelo Foureaux (Bolinha), Paulinho do Benjamim, Braz do
Calixto, Zé (Xereta) Oscar de Matos e os filhos do Sô João Matos: Luiz Gonzaga
(Zagão), Chicão, Oscar (Belé), Paulo Alberto (Pulica).
Foram poucos meses, este primeiro
contato, pois meus pais mudaram para Rua Coronel Joaquim Martins (Morro da
Maria Sabiá) e depois para a Praça Getúlio Vargas (Niterói), por ser do lado de
lá da ponte, que não existe mais, a enchente de 2012 a levou.
Em 1967, o José Geraldo da Silva
(Zequinha do Pedro Dias), era o presidente do Grêmio Literário do Ginásio Guido Marlière. Empreendedor e
dinâmico, o Zequinha liderou uma equipe para auxiliá-lo na realização de bailes
para arrecadar recursos para a Formatura da Quarta Série Ginasial. Para o
sucesso da empreitada contou com a colaboração criativa do Wilton Franco, Jorge
Sobral Venâncio, meus vizinhos na Praça Getúlio Vargas. E da Rua Santa Cruz
ajudaram o José Joaquim, Álvaro.
Começava uma amizade duradoura. E a encorpar esta turma vieram se juntar Cláudio
e Clebinho do Chiquito Galdino, Joel do Coutinho, Luiz Gonzaga (Zagão), Virgílio
Luiz de Oliveira, Henrique Moreira Paz e Celso Coelho. E para não ficar um
clube do Bolinha somaram-se as presenças femininas da Diana e Cristina, irmãs
do José Joaquim, a Cleusa irmã do Cláudio e a sua tia Graça Oliveira, a Ângela,
minha irmã. Esta sedimentando a “Turma
da Santa Cruz”.
O Sr. Adão Nogueira, pai do José
Joaquim, tinha uma fábrica de botinas que eram vendidas em toda a região. Eram
famosas pela qualidade, preço e durabilidade. Quem modelava os calçados,
recortando-os com um estilete, uma faca superafiada, era o habilidoso canhoto José
Joaquim. Muitas vezes, nas minhas férias escolares, ficava na fábrica assistindo
o José Joaquim trabalhando, concentrado na sua tarefa; enquanto eu, à toa, ouvia
o Sô Adão contando histórias de Guidoval. Arrependo-me de não ter gravado estes
causos, mas também, nesta ocasião, eu nem tinha um gravador.
O Sô Adão possuía
uma Rural Willys. O José Joaquim tinha carteira e disposição. E nós da TURMA
tempo para gastar. Nos finais de semana saíamos a percorrer os cantos e
recantos de Guidoval. Numa desses passeios, após a missa de domingo, fomos até
a Fazenda de Santana com a intenção
de subir até o topo da Serra. No primeiro contratempo, um bando de maribondos e
uma touceira de samambaias-gigante desfizeram os nossos planos.
Este insucesso não nos roubou a vontade
de subir até o cume da Serra de Santana. E numa segunda tentativa, mais
preparados para a escalada, alcançamos o nosso objetivo. De apetrechos, levamos
água, facão, binóculo e até violão. O Dr. Jair Dentista, pai do Jorge, ironizou:
“subir a Serra tudo bem, mas para que levar um violão?”.
No percurso, durante a viagem,
improvisamos uma música:
“Nós somos os pioneiros / Somos sempre os primeiros / A chegar.
Nós somos os violeiros / Somos sempre os primeiros / A cantar”.
E emendávamos com uma música de propaganda da Coca-Cola, que
fazia sucesso:
“Isso é que é / É a vida presente / Tudo que a gente sente /
Tudo que a gente quer./
“Isso é que é (Coca-Cola)/É a vida presente (Coca-Cola é)/É o
jeito de ser (Isso é que é).
Tudo que a gente quer./
Nesse tempo, Cláudio, Virgilinho,
Henrique e eu arranhávamos um violão, o Jorge escaleta e o Wilton cantava.
Faziam coro o José Joaquim, Álvaro, Joel, carregando um caderninho com letras
de músicas. Não havia google, cifraclub, internet para pegar letras e cifras.
Era na base do ouvido, mesmo. E saímos pelas ruas da cidade a fazer serenatas
para namoradas, paqueras, amigos e amigas. Tenho guardado este caderno puído
pelo tempo com as caligrafias dos amigos. O José Jaoquim registrou nele a
música “Preciso aprender a ser só”
de Marcos Valle & Paulo Sérgio Valle.
Em 1971, nossas vidas começavam a tomar
rumos diferentes. O Wilton foi estudar na Bolívia, o Jorge em Juiz de Fora, o
Zequinha prestes a se tornar Sub-Gerente da Caixa Econômica Federal. Alguns
terminando o 2º grau e indo em busca de trabalho, outros dando prosseguimentos
aos estudos, ingressando em universidades.
E numa dessas confabulações frequentes,
praticamente diárias, marcamos um ENCONTRO para dez anos depois, à porta da
Igreja Matriz de Santana, no dia consagrado à nossa Padroeira, 26 de julho.
E nesta data, quase todos, nos
reencontramos na porta da igreja e depois fomos para a casa dos pais do José
Joaquim, a residência do Sô Adão e Dona Ana. Ao lado do quintal, morava o Tio Bié, irmão da Dona Ana. Todos nós o
tratávamos por TIO, um ser humano fantástico, autodidata, que sabia falar
vários idiomas sem nunca ter frequentado uma escola para esta finalidade.
E no terreiro, nosso QUINTAL, que tantas
vezes abrigou nossas conversas e confidências, “peladas” de futebol entre
raízes de pés-de-manga e abacateiro, saboreamos churrasco e cervejas, mas
principalmente uma prosa de amigos, em abraços fraternos, sorrisos de admiração
e corações que se sabem perdoar as falhas alheias. Cantamos as mesmas músicas muitos
anos atrás. Recontamos as mesmas histórias de tantas histórias, recitamos
poesias, fizemos silêncio. ORAMOS.
Eu escrevi e li um texto que titulei de
“Quintais da Vida”. Ele anda perdido
nos escaninhos do meu quartinho, bagunçado, aguardando ser resgatado e quem
sabe colocá-lo no BloGuidoval.
Fiz também uma música para marcar o
acontecimento e deu o nome de “Amigos e
Madrugadas”. Depois, em 2001, esta canção foi gravada por profisssionais de
Belo Horizonte e está no meu CD “Gente
& Terras Geraes”. No encarte dediquei “in Memorian Wilton Franco”, que faleceu, precocemente, em
27/10/1992.
A última vez que encontrei o amigo José
Joaquim foi há uns seis meses atrás. Ele estava de mãos dadas com a Margarida,
sua esposa; pareciam e eram um de casal de enamorados.
É muito triste a morte de um amigo. Que
DEUS o acolha em seus braços, lhe dê abrigo e LUZ. Do José Joaquim continuarei
a guardar as melhores lembranças. À Família, de tão queridos amigos, os meus
Sentimentos, Solidariedade, Preces.
De pé: José Joaquim Nogueira, Wilton
Franco, Cléber Oliveira, Tia Graça, Diana Nogueira
Sentados: Celso Pinto, Álvaro Nogueira, Jorge Sobral Venâncio, Joel do
Coutinho e Dé Vieira
Fotografia tirada por José Geraldo da
Silva (Zequinha do Pedro Dias)
De baixo para cima - (da
esquerda para a direita)
Tia Graça, Cláudio, Henrique,
Clévio, Celso, Dé e Álvaro.
Joel, Márcia, Zequinha, Wilton Franco (mãos abençoando), Cléber, José Joaquim.
Uma senhora não identificada e os meninos Clóvis e Aloísio (Nana).
Da esquerda para a direita:
Álvaro Nogueira, Dé Vieira, Virgilinho e Cláudio
do Chiquito.
Sentado: Sinval da Ambulância
Da esquerda para a direita:
Luiz Gonzaga de Matos (Zagão) e Ildefonso Dé Vieira
Califrafia de José Joaquim Nogueira em 30/06/1971,
da Música “Preciso
aprender a ser só” de Marcos Valle & Paulo Sérgio Valle.
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