segunda-feira, 19 de agosto de 2019

José Joaquim Nogueira


José Joaquim Nogueira

Recebi a triste notícia da morte do José Joaquim Nogueira, um amigo desde o tempo da infância e juventude.
Em 1963 fui seu vizinho na Rua Santa Cruz (Corta-Rabo), numa época em que as ruas eram pródigas em crianças. São contemporâneos dessa época, o seu irmão Álvaro, Cláudio e Clebinho do Chiquito Galdino, Joel do Coutinho, Zé Ângelo Foureaux (Bolinha), Paulinho do Benjamim, Braz do Calixto, Zé (Xereta) Oscar de Matos e os filhos do Sô João Matos: Luiz Gonzaga (Zagão), Chicão, Oscar (Belé), Paulo Alberto (Pulica).
Foram poucos meses, este primeiro contato, pois meus pais mudaram para Rua Coronel Joaquim Martins (Morro da Maria Sabiá) e depois para a Praça Getúlio Vargas (Niterói), por ser do lado de lá da ponte, que não existe mais, a enchente de 2012 a levou.
Em 1967, o José Geraldo da Silva (Zequinha do Pedro Dias), era o presidente do Grêmio Literário do Ginásio Guido Marlière. Empreendedor e dinâmico, o Zequinha liderou uma equipe para auxiliá-lo na realização de bailes para arrecadar recursos para a Formatura da Quarta Série Ginasial. Para o sucesso da empreitada contou com a colaboração criativa do Wilton Franco, Jorge Sobral Venâncio, meus vizinhos na Praça Getúlio Vargas. E da Rua Santa Cruz ajudaram o José Joaquim, Álvaro.
Começava uma amizade duradoura.  E a encorpar esta turma vieram se juntar Cláudio e Clebinho do Chiquito Galdino, Joel do Coutinho, Luiz Gonzaga (Zagão), Virgílio Luiz de Oliveira, Henrique Moreira Paz e Celso Coelho. E para não ficar um clube do Bolinha somaram-se as presenças femininas da Diana e Cristina, irmãs do José Joaquim, a Cleusa irmã do Cláudio e a sua tia Graça Oliveira, a Ângela, minha irmã. Esta sedimentando a “Turma da Santa Cruz”.
O Sr. Adão Nogueira, pai do José Joaquim, tinha uma fábrica de botinas que eram vendidas em toda a região. Eram famosas pela qualidade, preço e durabilidade. Quem modelava os calçados, recortando-os com um estilete, uma faca superafiada, era o habilidoso canhoto José Joaquim. Muitas vezes, nas minhas férias escolares, ficava na fábrica assistindo o José Joaquim trabalhando, concentrado na sua tarefa; enquanto eu, à toa, ouvia o Sô Adão contando histórias de Guidoval. Arrependo-me de não ter gravado estes causos, mas também, nesta ocasião, eu nem tinha um gravador.
         O Sô Adão possuía uma Rural Willys. O José Joaquim tinha carteira e disposição. E nós da TURMA tempo para gastar. Nos finais de semana saíamos a percorrer os cantos e recantos de Guidoval. Numa desses passeios, após a missa de domingo, fomos até a Fazenda de Santana com a intenção de subir até o topo da Serra. No primeiro contratempo, um bando de maribondos e uma touceira de samambaias-gigante desfizeram os nossos planos.
Este insucesso não nos roubou a vontade de subir até o cume da Serra de Santana. E numa segunda tentativa, mais preparados para a escalada, alcançamos o nosso objetivo. De apetrechos, levamos água, facão, binóculo e até violão. O Dr. Jair Dentista, pai do Jorge, ironizou: “subir a Serra tudo bem, mas para que levar um violão?”.

No percurso, durante a viagem, improvisamos uma música:
“Nós somos os pioneiros / Somos sempre os primeiros / A chegar.
Nós somos os violeiros / Somos sempre os primeiros  / A cantar”.

E emendávamos com uma música de propaganda da Coca-Cola, que fazia sucesso:

“Isso é que é / É a vida presente / Tudo que a gente sente / Tudo que a gente quer./
“Isso é que é (Coca-Cola)/É a vida presente (Coca-Cola é)/É o jeito de ser (Isso é que é).
Tudo que a gente quer./

Nesse tempo, Cláudio, Virgilinho, Henrique e eu arranhávamos um violão, o Jorge escaleta e o Wilton cantava. Faziam coro o José Joaquim, Álvaro, Joel, carregando um caderninho com letras de músicas. Não havia google, cifraclub, internet para pegar letras e cifras. Era na base do ouvido, mesmo. E saímos pelas ruas da cidade a fazer serenatas para namoradas, paqueras, amigos e amigas. Tenho guardado este caderno puído pelo tempo com as caligrafias dos amigos. O José Jaoquim registrou nele a música “Preciso aprender a ser só” de Marcos Valle & Paulo Sérgio Valle.

Em 1971, nossas vidas começavam a tomar rumos diferentes. O Wilton foi estudar na Bolívia, o Jorge em Juiz de Fora, o Zequinha prestes a se tornar Sub-Gerente da Caixa Econômica Federal. Alguns terminando o 2º grau e indo em busca de trabalho, outros dando prosseguimentos aos estudos, ingressando em universidades.
E numa dessas confabulações frequentes, praticamente diárias, marcamos um ENCONTRO para dez anos depois, à porta da Igreja Matriz de Santana, no dia consagrado à nossa Padroeira, 26 de julho.
E nesta data, quase todos, nos reencontramos na porta da igreja e depois fomos para a casa dos pais do José Joaquim, a residência do Sô Adão e Dona Ana. Ao lado do quintal, morava o Tio Bié, irmão da Dona Ana. Todos nós o tratávamos por TIO, um ser humano fantástico, autodidata, que sabia falar vários idiomas sem nunca ter frequentado uma escola para esta finalidade.
E no terreiro, nosso QUINTAL, que tantas vezes abrigou nossas conversas e confidências, “peladas” de futebol entre raízes de pés-de-manga e abacateiro, saboreamos churrasco e cervejas, mas principalmente uma prosa de amigos, em abraços fraternos, sorrisos de admiração e corações que se sabem perdoar as falhas alheias. Cantamos as mesmas músicas muitos anos atrás. Recontamos as mesmas histórias de tantas histórias, recitamos poesias, fizemos silêncio. ORAMOS.
Eu escrevi e li um texto que titulei de “Quintais da Vida”. Ele anda perdido nos escaninhos do meu quartinho, bagunçado, aguardando ser resgatado e quem sabe colocá-lo no BloGuidoval.
Fiz também uma música para marcar o acontecimento e deu o nome de “Amigos e Madrugadas”. Depois, em 2001, esta canção foi gravada por profisssionais de Belo Horizonte e está no meu CD “Gente & Terras Geraes”. No encarte dediquei “in Memorian Wilton Franco”, que faleceu, precocemente, em 27/10/1992.
A última vez que encontrei o amigo José Joaquim foi há uns seis meses atrás. Ele estava de mãos dadas com a Margarida, sua esposa; pareciam e eram um de casal de enamorados.
É muito triste a morte de um amigo. Que DEUS o acolha em seus braços, lhe dê abrigo e LUZ. Do José Joaquim continuarei a guardar as melhores lembranças. À Família, de tão queridos amigos, os meus Sentimentos, Solidariedade, Preces.



De pé: José Joaquim Nogueira, Wilton Franco, Cléber Oliveira, Tia Graça, Diana Nogueira
Sentados: Celso Pinto, Álvaro Nogueira, Jorge Sobral Venâncio, Joel do Coutinho e Dé Vieira
Fotografia tirada por José Geraldo da Silva (Zequinha do Pedro Dias)





De baixo para cima - (da esquerda para a direita)
Tia Graça, Cláudio, Henrique, Clévio, Celso, Dé e Álvaro.
Joel, Márcia, Zequinha, Wilton Franco (mãos abençoando), Cléber, José Joaquim.
Uma senhora não identificada e os meninos Clóvis e Aloísio (Nana).





Da esquerda para a direita:
Álvaro Nogueira, Dé Vieira, Virgilinho e Cláudio do Chiquito.
Sentado: Sinval da Ambulância

 Da esquerda para a direita:

Luiz Gonzaga de Matos (Zagão) e Ildefonso Dé Vieira




Califrafia de José Joaquim Nogueira em 30/06/1971,
da Música “Preciso aprender a ser só” de Marcos Valle & Paulo Sérgio Valle.


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