Dr.
Ronaldo Ribeiro dos Santos
”Falarei tudo que souber de bom de um homem”,
muitas vezes ouvi o meu amigo Ronaldo, o Dr. Ronaldo Ribeiro dos Santos,
pronunciar esta frase. Ele se referia ao aforismo de autoria do escritor, filósofo e poeta
estadunidense Ralph Waldo Emerson. A frase encontrava-se no interior do ônibus
do Sô Elísio Avidago, um grande empreendedor guidovalense.
”Falarei tudo que souber de bom de um homem”
é o que tentarei fazer nas próximas linhas sobre o meu saudoso amigo Ronaldo
que me chamava de jornalista, numa fina ironia em forma de elogio.
Em 1962 éramos
vizinhos na antiga Rua Conde da Conceição, hoje João Januzzi. A casa dos seus
pais, o comerciante Jésus Ribeiro e a Professora Aracy Franco, acolhia a
criançada de toda a região. Tinha uma pista, uma cancha, um cantinho para se jogar
“birosca”, a popular bolinha-de-gude. E
na varanda, aos fundos, tinha uma mesa de pingue-pongue, tamanho profissional. Foi
nesta mesa que vi o Ronaldo jogando contra o Sérgio Vieira, um carioca,
sobrinho da Professora Ivone da Conceição Vieira Pereira, a Dona Ivone do Sô
Tuninho Estulano, o maior goleador e artilheiro do Cruzeiro de Guidoval.
O estilo de jogo do
Ronaldo era agressivo, um craque nas cortadas. Já o jogo do Sérgio era
defensivo. Usava uma raquete especial, recoberta de borracha. Defendia as
cortadas devolvendo a bola com muito efeito. Ora vencia o Ronaldo, ora vencia o
Sérgio. Partidas memoráveis que ainda guardo na memória. É desse tempo que me
vem a primeira lembrança do Ronaldo.
Nessa época, o Ronaldo
tinha uns 16 anos, um adolescente e eu uma criança de 10 anos. O Ronaldo já
estudava fora. Passou por Visconde do Rio Branco, Colégio Dom Helvécio em Ponte
Nova, depois Juiz de Fora e Rio de Janeiro, onde formou-se em Medicina.
Outra recordação que
guardo do Ronaldo é do dia 25 de julho de 1967. Nesta data, o grande amigo, em
comum, Marcus Cremonese apresentou o seu memorável poema “De como eu amo uma cidade”. Uma ode à nossa Guidoval.
O evento foi no
cinema do Severino Occhi. E juntos, acompanhando o Marquim Cremonese, os
inseparáveis amigos Ronaldo Ribeiro, Oscar Matos, Vanderlei Vieira e Fabiano
(Bim do Manezim).
Uma das paixões do
Ronaldo era música. Sempre atualizado com os movimentos musicais. No início da
década de 60 surgia a bossa nova com os gênios João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius
de Moraes, Carlos Lyra e Menescal. Os conjuntos vocais Os Cariocas, Tamba Trio,
Zimbo Trio, Os Bossa Três, Jorge Autuori Trio. E o Ronaldo tinha discos de
vinil desta turma toda.
Não satisfeito
apenas com a Bossa Nova, Ronaldo enveredou pelo Jazz e Blues. E a paixão maior
de todas pelo Frank Sinatra o “The Voice”.
Um grande elogio à
inteligência do Ronaldo quem me fez foi o meu outro grande amigo Dr. Jorge
Sobral Venâncio. Disse-me ele que o Ronaldo estava à frente do seu tempo. O
Jorge revelou-me que tentava acompanhar o ecletismo musical do Ronaldo. Quando
o Jorge começo a gostar de Bossa Nova o Ronaldo já percorria as trilhas do
Jazz, do Blues, para finalmente desaguar no cancioneiro de Sinatra.
Ronaldo curtia
filosofia, literatura, música, culinária e vinhos. Quando muito jovem andou
flertando com o Comunismo, doença juvenil que curou com leitura e experiência
de vida.
Nos últimos tempos
exaltava o Olavo de Carvalho. Recomendava-me ler os seus livros e artigos. Li
alguma coisa. Não gostei. Era um
entusiasta dos EUA.
Indicou-me a leitura
do livro “Os Magnatas” de Charles R. Morris. Comprei. Li. Gostei. O livro
descreve os inventores da supereconomia americana, os pais do capitalismo: Andrew Carnegie (siderurgia), John D. Rockefeller (Petróleo), Jay Gould (Ferrovias) e J.P. Morgan (Banco). Recomendo a
leitura.
Bom filho, irmão e
amigo, quando a sua mãe, a Professora Aracy Franco Ribeiro dos Santos, precisou
de atendimento médico, fechou o seu consultório médico, desmarcou consultas,
refez a sua agenda, e veio cuidar da mãe.
Adquiriu a Fazenda
que pertenceu ao Sr. Eduardo Occhi. Esta vida de fazendeiro nos finais de
semana o pôs em contato com os agricultores da região. E vendo que desses lavradores enfrentava o
nosso sol com a cabeça desprotegida comprou um chapéu e o presenteou, recomendando-lhe o uso
constante para se resguardar da ação dos maléficos raios ultravioletas.
No Rio de Janeiro,
um gerente da Caixa Econômica Federal
desburocratizou os famigerados processos de financiamento do seu apartamento.
Como agradecimento o Ronaldo convidou-o e a família para passar um fim de
semana em Guidoval.
Lourdes, minha
esposa, e eu pegamos carona nesta recepção, pois o Ronaldo, nos
vendo na cidade, nos convidou para almoçar em sua casa. E lá fomos provar a
doce hospitalidade da Dona Aracy e um indescritível Arroz com Suã feito pela mestre culinária Iraci do Cuca. A ela cabe, sem trocadilho, o título de Mestre-Cuca.
A refeição foi servida pela simpatia da Simone. À mesa, além da anfitriã, Rosa
Occhi e Conceição Áurea. Um bom vinho português nos acompanhou numa tarde de
prosear instigante e inteligente sobre música, literatura e coisas menos
importantes. Garanto que o casal de cariocas jamais esquecerão desta
hospitalidade. Eu não me esqueço. Aliás, hospitalidade é uma marca da nossa
gente. Será que vem dos franceses, da D. Maria Victória Rosier, esposa de Guido Marlière?
Outro que sempre
contou com este acolhimento afetuoso foi o seu amigo Lívio Maia, arquiteto, mineiro
radicado no Rio de Janeiro. Viviam às turras por divergências ideológicas. O
Lívio um Comunista convicto, o Ronaldo um Capitalista radical.
Conflitos que
arranhavam a admiração recíproca. Os amigos não são perfeitos, mas em sendo amigos de fato, defeitos
passam a inexistir.
Com o Ronaldo
aprendi a saborear o que ele chamava de “Boudin
avec Banane”, que na verdade nossa, mineira, é simplesmente “chouriço com
banana”, mas realmente é muito bom para acompanhar um bom vinho.
A última vez que
vi o Ronaldo, em vida, foi na véspera de seu aniversário em julho dia 22 de
julho de 2013. Fomos visitá-lo no Rio de Janeiro. Estava hospedado e aos
cuidados da zelosa irmã Marília. Debilitado pela doença, mas com um brilho nos
olhos de quem merece a eternidade.
Hoje, dia
23/07/2019, Ronaldo completaria 73 anos de idade. Que DEUS continue abrigando a
sua alma.
Algum poeta já disse, repito: “Um amigo não morre, vira estrela!”
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