domingo, 17 de março de 2019

07 - SERTÃO PROIBIDO


07 - SERTÃO PROIBIDO

A primeira ordenação sacerdotal na Igreja Matriz de Santana é do Padre Felipe Caetano da Silva em 26/07/1966.
Em 30/01/1967 termina o mandato do saudoso prefeito Francisco Moacir da Silva, de grandes melhoramentos ao município como calçamento de ruas, iluminação da Ponte Raul Soares, ampliação da rede de esgoto e captação de água pluvial, perfuração de novos poços artesianos, construção de escolas rurais, sendo que o ponto alto de sua administração foi a Criação e Instalação do "Ginásio Estadual Guido Marlière", fazendo uma adaptação do Prédio do “Asilo dos Pobres” doado ao estado de Minas pela Diocese de Leopoldina, sob a aprovação do Padre Oscar. No dia 25/07/1967, o criativo poeta Marcus Cremonese faz uma homenagem a Guidoval, a Santana e a todos guidovalenses apresentando o seu poema “De como eu amo uma cidade” no Cinema do Severino Occhi, que tudo sabia de marketing. Senão vejamos. Deixava uma greta de cortina aberta para se ver parte final do filme. Pelo basculante semi-aberto da Rua Sacramento um agrupamento de pessoas assistia trecho do filme. Sem mais nem menos a fita era interrompida, hora de se vender os deliciosos picolés que lotavam o freezer do bar. Garotos, em troca do ingresso, percorriam as ruas da cidade segurando uma tabuleta artisticamente escrita anunciando o nome do filme em cartaz. Saudades do cinemascope, do operador Geraldo Pereira, do porteiro Dimas Jacaré, do cinema do Severino, João Marceneiro e Zimbim (José Diomiciano Soares). Faz enorme falta um centro cultural.
Em 1968 morre o consagrado escritor Lúcio Cardoso que chegou a afirmar ao “Jornal do Brasil”: “Guidoval é a mais mineira de todas as cidades”. Esta sentença que nos envaidece é fruto das longas conversas que Lúcio Cardoso manteve com um de nossos ferreiros, quando por aqui passou.
Seria o ferreiro Sebastião Franco (avô do Dr. Wilton) ou Sebastião Almeida (pai do caminhoneiro Milim) ou Sebastião Pereira (pai da Eneida do Zim do Sô Nego)?
Ou seria o Belo que colocava bilhetes na porta do seu estabelecimento como “Belo mudô, difronte do Trajano, dibaixo do Otaço” ou ainda “Belo saiu, Belo foi murçá, Belo não demora, Belo vórta já”?
Tempos que não voltam mais.
Encerro a segunda parte deste artigo citando “Esta é a terra que Deus prometeu e do amor plantastes a raiz” , verso do meu samba “Guido, este vale é teu”.
(Fim da segunda parte – publicada no Jornal de Guidoval em Março/2006)

Estamos em “1968” que, de acordo com o livro do jornalista Zuenir Ventura, é “o ano que não terminou”. O mundo vive grandes transformações políticas, éticas, sexuais e comportamentais, rebelião de estudantes em Paris, Primavera de Praga, passeata dos cem mil pela morte do estudante Edson Luís na UFRJ, prisão dos estudantes da UNE em Ibiúna.
Por alguns centésimos de segundos o atleta José Alan Máximo (melhor goleiro da história de Guidoval, na opinião de muitos, inclusive a minha) não consegue se classificar para participar da Equipe Brasileira nas Olimpíadas no México.
O obscurantismo da ditadura militar edita o AI-5 em 13/12/1968. Em síntese podia-se decretar Estado de Sítio, recesso do Congresso, Assembléias e Câmaras de Vereadores. Suspender a garantia de HABEAS CORPUS e direitos políticos de quaisquer cidadãos. Intervir nos Estados e Municípios. Proibir de freqüentar determinados lugares, ter a liberdade vigiada. Ou seja, não mais se podia nem conversar fiado na “ESQUINA”.
A morte, normalmente, traz grande dor. Não foi diferente em 09/12/1969, quando um trágico acidente fez toda cidade chorar a perda de quatro conterrâneos de uma só vez: Iolanda Bressan da Costa, Nair Bressan da Costa, Vereador Sebastião Inácio da Costa e Vereador Natalino Dornelas de Oliveira, Presidente da Câmara Municipal e o principal candidato a prefeito na eleição vindoura.
O regime de exceção não consegue calar a irreverência de alguns jovens guidovalenses que nos botequins levantavam copos de cerveja e davam “Viva à Rússia”, como consta na Ata da Câmara de 16/08/1970. Não eram comunistas nem subversivos, manifestavam insatisfação contra o golpe de 64. Só isso, mas dedos-duros de plantão denunciavam aos militares qualquer arroubo juvenil.
Nas eleições municipais de 15/11/1970 a Professora Carmem Cattete Reis Dornelas foi a primeira mulher a ser eleita vereadora em nossa cidade. Teve a maior votação até à época conseguida por um edil. O ingresso na política da nossa grande educadora foi a forma que ela encontrou de homenagear o marido, Natalino Dornelas, falecido menos de um ano antes. Por duas legislaturas honrou a nossa Câmara Municipal com criatividade, dedicação e sabedoria.
No dia 23/03/1971 morre Padre Oscar de Oliveira um dos maiores benfeitores de nossa terra. Liderou os católicos, participou ativamente da vida do município. Vieram vários sucessores: Pe. Venício, Pe. João Beentys, Pe. Cassemiro, Pe. Antônio, Pe. Catarino, Pe. Jorge Passon, Pe. José Carlos Ferreira Leite, Pe. Semer e Frei Adriano. Todos com obras e realizações, mas nada que se compare à administração do Paroquiato de Padre Oscar que construiu a nossa monumental Igreja Matriz de SANTANA e a bela TORRE, a qual batizou de “IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA”.

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