Atendendo
um pedido do Dr. Ronaldo Ribeiro dos Santos
Uns tempos atrás, final do ano de
2012, estava na casa da minha mãe Dona Tita (Maria Madalena Vieira) um envelope
com um bilhete e um folheto que o meu amigo Dr. Ronaldo Ribeiro dos Santos deixara
para que eu tomasse providências.
Meses
depois, uma doença traiçoeira tirou a vida do querido amigo. O envelope,
bilhete e folheto desapareceram no meio da papelada, desorganizada, que
cultivo.
Agora,
recentemente, tentando dar uma ordem a tantos papeis, encontrei a encomenda que
o Dr. Ronaldo deixou com a minha mãe.
Abaixo, transcrevo o bilhete:
"Caro Dé,
Que tal você incluir este
folheto na página WEB de Guidoval?
Mas coloque que é de autoria
exclusiva do nosso amigo Marcus Cremonese.
Não mencione o meu nome.
É uma boa homenagem ao nosso
amigo, não?
E uma boa surpresa também.
Abraço,
Obrigado
Ronaldo"
E tardiamente, mas sempre em
tempo, cumpro o pedido do amigo.
Mas não vou omitir que a ideia foi única e exclusiva dele.
Abaixo, transcrição do folheto:
Canto
Segundo
"Possue ainda grandes mattas
virgens, povoadas de passarinhos, onde o machado, o fogo e a imprevidência
imperdoável dos homens, tem destruído este grande thesouro do nosso paiz".
(Antonio
de Assis Martins: no Almanak Administrativo Civil e Industrial da Província de
Minas – Geraes, do anno 1.869 para servir no anno de 1.870)
Com o trecho acima, há 120 anos, o
cronista do império demonstrava sua preocupação pelo destino da natureza mineira.
Há poucos anos o Rio Chopotó abrigava lontras, capivaras e pacas – isso sem
falar nos bagres, traíras, acarás, cascudos, piaus e lambaris que,
praticamente, foram exterminados sob nossas vistas. Destino igual teve o "canário
da terra", que poderia ser o símbolo da cidade, tal a sua abundância.
A visão atual do ecossistema mundial
é grave. Envolve risco na utilização da energia atômica, poluição sonora e do
ar, queimadas, chuvas ácidas, alteração da camada de ozônio, alternância de
secas e enchentes, agressão aos mares, destruição de florestas e rios,
proliferação de insetos e propagação de doenças infetco-parasitárias, abuso na
utilização de agrotóxicos, etc.
Alguns ecologistas consideram que,
habitando as pequenas cidades, pássaros e pequenos animais poderão ter,
eventualmente, maior proteção ambiental. Nos últimos meses algumas dezenas de
canarinhos da terra foram criados em cativeiro. É claro que, se em liberdade
este número seria muito maior.
Nossa cidade já foi riquíssima em
arquitetura e recursos naturais.
Os canarinhos soltos hoje, se protegidos pela sociedade firmarão nosso interesse em resgatar o mínimo possível do nosso passado.
Os canarinhos soltos hoje, se protegidos pela sociedade firmarão nosso interesse em resgatar o mínimo possível do nosso passado.
Jogue canjiquinha de arroz e de milho no seu
quintal. Sempre no mesmo lugar.
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O texto
acima foi escrito por Marcus Cremonese (possivelmente em meados da
década de 70) a pedido do Dr. Ronaldo Ribeiro. Impresso num papel AMARELO foi
distribuído ao POVO GUIDOVALENSE.
Logo abaixo,
transcrição de e-mail do Marquim da Beth da Nossa Senhora da Conceição
da Capela de Cima (vulgo Rio Novo), contando como surgiu este MANIFESTO
ECOLÓGICO. É bom que se diga que bem antes de se tornar (quase que) moda e
politicamente correto defender o nosso HABITAT.
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" Eu morava em Santa Teresa e o
Ronaldo Ribeiro no Cosme Velho. Um dia ele apareceu lá em casa e me disse mais
ou menos assim: " Marquinho, em meio às muitas outras coisas da nossa terra que já
se perderam, uma delas ainda pode ser salva: é o canário da terra". O canário é uma das
paixões do Ronaldo (as outras duas são o Tom Jobim e o jazz). Ele instituiu o
canário como símbolo da fauna do Sapé. Marcou para um certo dia (não me lembro,
faz muito tempo) e promoveu uma espécie de "ato cívico", na praça,
quando foram soltos um grande número de canários, criados em gaiolas, para que
eles pudessem voltar às matas, procriar, e continuar colorindo o cenário, e
encantando os ouvidos de todos com o seu canto. Isso foi há mais de quinze
anos. Mas era preciso conscientizar a população sobre o que estava sendo
planejado; do contrário seriam apenas mais canários soltos para caírem de novo
nos alçapões e voltarem para as gaiolas. Muitos dos canários, acostumados a
comer em cativeiro, sentiriam dificuldades no início, para encontrar suas
próprias fontes de alimento. Daí seria necessário, de novo, mais
conscientização no sentido de a comunidade facilitar a alimentação dos
pássaros. Para explicar o seu plano e levar adiante o ato cívico, o Ronaldo me
pediu que eu redigisse umas "mal-traçadas" linhas, que seriam
impressas num panfleto. E saiu esse texto. Mesmo à distância, dei a minha
pequena colaboração no sentido de, pelo menos tentar, salvar o canarinho da
extinção. Mas, de fato, toda a idéia e a maioria das palavras que eu escrevi
(ou transcrevi) ali são do Ronaldo Ribeiro."
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