segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Um pedido do Dr. Ronaldo Ribeiro dos Santos



Atendendo um pedido do Dr. Ronaldo Ribeiro dos Santos

            Uns tempos atrás, final do ano de 2012, estava na casa da minha mãe Dona Tita (Maria Madalena Vieira) um envelope com um bilhete e um folheto que o meu amigo Dr. Ronaldo Ribeiro dos Santos deixara para que eu tomasse providências.
            Meses depois, uma doença traiçoeira tirou a vida do querido amigo. O envelope, bilhete e folheto desapareceram no meio da papelada, desorganizada, que cultivo.
            Agora, recentemente, tentando dar uma ordem a tantos papeis, encontrei a encomenda que o Dr. Ronaldo deixou com a minha mãe.

Abaixo, transcrevo o bilhete:

"Caro Dé,
Que tal você incluir este folheto na página WEB de Guidoval?
Mas coloque que é de autoria exclusiva do nosso amigo Marcus Cremonese.
Não mencione o meu nome.
É uma boa homenagem ao nosso amigo, não?
E uma boa surpresa também.
Abraço,
Obrigado
Ronaldo"

E tardiamente, mas sempre em tempo, cumpro o pedido do amigo.
Mas não vou omitir que a ideia foi  única e exclusiva dele.

Abaixo, transcrição do folheto:

Canto Segundo

"Possue ainda grandes mattas virgens, povoadas de passarinhos, onde o machado, o fogo e a imprevidência imperdoável dos homens, tem destruído este grande thesouro do nosso paiz".

(Antonio de Assis Martins: no Almanak Administrativo Civil e Industrial da Província de Minas – Geraes, do anno 1.869 para servir no anno de 1.870)

            Com o trecho acima, há 120 anos, o cronista do império demonstrava sua preocupação pelo destino da natureza mineira. Há poucos anos o Rio Chopotó abrigava lontras, capivaras e pacas – isso sem falar nos bagres, traíras, acarás, cascudos, piaus e lambaris que, praticamente, foram exterminados sob nossas vistas. Destino igual teve o "canário da terra", que poderia ser o símbolo da cidade, tal a sua abundância.

            A visão atual do ecossistema mundial é grave. Envolve risco na utilização da energia atômica, poluição sonora e do ar, queimadas, chuvas ácidas, alteração da camada de ozônio, alternância de secas e enchentes, agressão aos mares, destruição de florestas e rios, proliferação de insetos e propagação de doenças infetco-parasitárias, abuso na utilização de agrotóxicos, etc.
            Alguns ecologistas consideram que, habitando as pequenas cidades, pássaros e pequenos animais poderão ter, eventualmente, maior proteção ambiental. Nos últimos meses algumas dezenas de canarinhos da terra foram criados em cativeiro. É claro que, se em liberdade este número seria muito maior.
            Nossa cidade já foi riquíssima em arquitetura e recursos naturais.
Os canarinhos soltos hoje, se protegidos pela sociedade firmarão nosso interesse em resgatar o mínimo possível do nosso passado. 

Jogue canjiquinha de arroz e de milho no seu quintal. Sempre no mesmo lugar.

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           O texto acima foi escrito por Marcus Cremonese (possivelmente em meados da década de 70) a pedido do Dr. Ronaldo Ribeiro. Impresso num papel AMARELO foi distribuído ao POVO GUIDOVALENSE.
            Logo abaixo, transcrição de e-mail do Marquim da Beth da Nossa Senhora da Conceição da Capela de Cima (vulgo Rio Novo), contando como surgiu este MANIFESTO ECOLÓGICO. É bom que se diga que bem antes de se tornar (quase que) moda e politicamente correto defender o nosso HABITAT.

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                " Eu morava em Santa Teresa e o Ronaldo Ribeiro no Cosme Velho. Um dia ele apareceu lá em casa e me disse mais ou menos assim: " Marquinho, em meio às muitas outras coisas da nossa terra que já se perderam, uma delas ainda pode ser salva: é o canário da terra". O canário é uma das paixões do Ronaldo (as outras duas são o Tom Jobim e o jazz). Ele instituiu o canário como símbolo da fauna do Sapé. Marcou para um certo dia (não me lembro, faz muito tempo) e promoveu uma espécie de "ato cívico", na praça, quando foram soltos um grande número de canários, criados em gaiolas, para que eles pudessem voltar às matas, procriar, e continuar colorindo o cenário, e encantando os ouvidos de todos com o seu canto. Isso foi há mais de quinze anos. Mas era preciso conscientizar a população sobre o que estava sendo planejado; do contrário seriam apenas mais canários soltos para caírem de novo nos alçapões e voltarem para as gaiolas. Muitos dos canários, acostumados a comer em cativeiro, sentiriam dificuldades no início, para encontrar suas próprias fontes de alimento. Daí seria necessário, de novo, mais conscientização no sentido de a comunidade facilitar a alimentação dos pássaros. Para explicar o seu plano e levar adiante o ato cívico, o Ronaldo me pediu que eu redigisse umas "mal-traçadas" linhas, que seriam impressas num panfleto. E saiu esse texto. Mesmo à distância, dei a minha pequena colaboração no sentido de, pelo menos tentar, salvar o canarinho da extinção. Mas, de fato, toda a idéia e a maioria das palavras que eu escrevi (ou transcrevi) ali são do Ronaldo Ribeiro."




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