quarta-feira, 8 de abril de 2020

Reforma Política (escrito em novembro de 1998)


Reforma     Política

Regresso mais uma vez a Guidoval, desta vez para votar. É sempre gratificante exercer este direito que a democracia nos proporciona. A prerrogativa de escolher através do voto os nossos legítimos representantes. Acrescente-se a esta satisfação o ar puro que respiro, antes mesmo da "curva do aeroporto". Sei que são os eucaliptos à beira da estrada, mas prefiro imaginar que seja a proximidade de Guidoval.
Tenho um amigo nascido na cidade de Tombos, Luiz Gonzaga de Freitas; que ajoelha e beija o solo, gesto idêntico ao do Papa João Paulo II, toda vez que retorna a sua terra natal. Ainda não cheguei a tanto, mas não se surpreenda se me vir praticando ato semelhante.
Antigamente, antes mesmo de transpor o nosso raquítico e poluído Chopotó, eu saberia dizer qual propaganda política eu encontraria na casa de Eduardo Nicodemo Occhi ou na de meu pai, José Vieira Neto - Zizinho do Marcílio; ou ainda na casa de Francisco Moacir da Silva, o Sô Francisquinho. Isto só para exemplificar com estes saudosos prefeitos, todos residentes à Rua João Januzzi. Havia compromisso, respeito, fidelidade partidária.
Lembro-me muito bem da primeira investidura pública vitoriosa de meu pai quando se candidatou a vereador. O meu avô Marcílio, de outra facção política, foi até ao líder de seu partido esclarecer-lhe os motivos porque votaria, daquela vez, no seu filho Zizinho. Isto ocorreu em 1.972, numa eleição em que o partido de meu avô nem apresentou candidatos para concorrer e pregava o "voto em branco".
Meu avô por esta época tinha mais de 80 anos, uma vida ilibada, irrepreensível. Não precisava dar explicações a ninguém.
Tinha-se orgulho do partido e de seus líderes. Como no hino do MENGÃO "uma vez Flamengo, sempre Flamengo.". Valia para o PSD, PR, UDN ou PTB. Perdiam-se eleições, nunca a dignidade.
Hoje existe uma "babel" de candidatos, pára-quedistas, aventureiros, "mandrakes" de todos os cantos destas geraes. Aparecem às vésperas das eleições, mercadejam com as lideranças municipais e comunitárias, compram uns votinhos e somem, por pelo menos quatro anos. Torna-se natural os votos serem trocados por um saco de cimento, uma cesta básica ou uma caixa d'água.
Neste quadro político promíscuo, sem comprometimento e lealdade, quem menos culpa tem é o ELEITOR, principalmente os mais humildes e carentes. São eles, entretanto, os mais pobres e modestos, os maiores perdedores ao permutarem o seu voto. Provavelmente estarão perdendo, no mínimo; uma vaga na escola para o filho estudar ou um leito no hospital quando um familiar adoece.
Urge uma Reforma Política com a implantação do VOTO DISTRITAL misto, a Fidelidade Partidária, MENOS partidos políticos e MAIS IDEOLOGIA.
Nossas lideranças locais precisam parar de preocupar-se apenas com o seu umbigo e EMPENHAR com determinação para o desenvolvimento do município. Para isto os eleitores os escolheram.

EM TEMPO:
Eu pratiquei o voto distrital votando Dirceu dos Santos Ribeiro e Saulo Coelho, políticos da nossa região.

Saulo com todo poderio econômico que teve em mãos não o utilizou eleitoral ou politicamente para ser eleito, uma vez que acabara de deixar a presidência das Telecomunicações de Minas Gerais (TELEMIG). Apesar de não ter sido eleito, honrou mais ainda o meu voto por não ter utilizado o expediente de comprar "votos".

Esta babilônia, esta algazarra de princípios partidários atingiu até na minha família. Minha irmã é delegada do PFL, eu sou do PSDB e meu irmão milita no PT.

(Ildefonso Dé Vieira – escrito em novembro/1998)

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