Texto do primogênito José Maria de Matos
Hoje me dei conta de que não chorei pela morte de minha mãe.
Ela, Maria de Lourdes, não merecia lágrimas, eu não poderia chorar ao lado do corpo dela, onde naquele instante, assisti ao video tape de sua vida. Nove filhos homens, viúva aos quarenta e poucos anos, sem bens materiais.
Não eu não poderia chorar, não era justo para com ela.Ali, naquele momento eu me dei conta da TROCA.
Alguém no céu(com certeza o Anjo da guarda dela) deve ter levado o "curricullum vitae" a DEUS e ELE ordenou: traga-a já para junto de mim e" assim foi feito segundo a sua vontadade" e ela foi por meio de um ataque cardíaco fulminante, tomando o café da manhã.
Às 8:10 da manhã de sábado recebo uma ligação de meu irmão Gonzaga: Zé Maria larga tudo o que estiver fazendo e venha para JFora, pois a mamãe está morta, caída, na chão da copa. Foi como um chamado divino, e eu fui.Hoje, agora, me dou conta da TROCA.DEUS levou nossa mãe e nos deu "uma SANTA".
Foi justa a troca.Tinhamos uma mãe que viamos, tocávamos, agora temos uma MÃE eterna que não vemos,mas sentimos na brisa da manhã, no brilho sol, no sorriso de uma criança, numa oração silenciosa. Minha mãe não tinha adjetivos e predicados. Tudo nela era superlativo, a qauantidade de filhos, os sorrisos francos, as brincadeiras, os amigos.
Não teve DIREITOS, só OBRIGAÇÃO E DEVERES ao longo de sua vida de 86 anos.
No céu deve ser a mesma coisa: ela deve estar fazendo "seus tabuleiros de bolos, cajuzinhos,. pudins de leite condensado" feliz como soi um mãe é para com os filhos. Agora ela tem milhares deles.
Quando eu estiver sozinho, em minhas orações, ou na varanda de casa olhando o céu, com certeza a verei nas "firulas" da nuvens, nas miriádes de estrelas, lá estará uma mais BRILHANTE, destacada das outras:minha santa MARIA DE LOURDES MATOS.
Agora,talvez eu chore, rezando e sentindo sua PRESENÇA em mim.È justo e humano, que assim seja.
Ontem à noite, no TERÇO DOS HOMENS, na paróquia do ROSARIO, eu senti ela ao meu lado, acariciando minha perna, como ela gostava de fazer, falando baixinho ao meu coração.Peguei sua mão e, juntos , rezamos o TERÇO, que ela tanto acreditava.AMÉM.
(continuação em
31/07/2013)
Ontem voltei a Juiz de Fora, à casa de minha mãe.
Ao entrar, um silêncio ANGELICAL, sim angelical e não sepulcral,
dominava o ambiente.
Fui ao quarto dela, lá não estava, fui à geladeira, pudim de
leite condensado não tinha; fui ao fogão, bolo não tinha.
E agora José? Você não tem mãe, não tem mais bolo, pudim,
presença.
E agora José? Você que é homem, que é filho, que é irmão, que é
pai e avô.
E agora José? Você quer sua mãe, sua mãe já não tem, você quer
seu carinho, carinho não tem.
E agora José?
Contente-se com os eflúvios reinantes na casa, silenciosa, sem
vida e sem graça, sem mãe e amiga companheira.
Sentei-me na cadeira ao lado donde ela sentava, mão acariciando
minha perna e estava ELA ali contando UMA DA SUAS:
- Ô BÉ (só ela assim me chamava:BÉ) o que é o que é: " uma
caixinha de bom parecer, não há carapina (carpinteiro) que possa fazer?”
Eu ficava calado, pensado, pensado- e apesar de saber a resposta,
pois mil vezes ela me perguntou - eu falava que não sabia.
Ela ria e respondia:
- Ô BÉ , é o AMENDOIN.
E, juntos, ríamos de minha "ignorância".
Mil outras, ela contava, para meu encantamento.
E agora José? Restaram as lembranças, saudades, alegrias
passadas, tempos perdidos de não estar junto dela.
E agora José, foi-se u'ma mãe, ganhaste uma SANTA.
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