Salve Guidoval
Lindomar
da Silva (*)
Depois da
tempestade, se não vem bonança, vem a esperança. Foi o que aconteceu em
Guidoval, neste ano ímpar de 2012.
No início do
ano, veio a tempestade que inundou a cidade e transbordou as páginas dos
jornais, com inúmeras perdas e danos. Agora, em outubro, veio a esperança, vestida
de amarelo e desenhada na delicadeza das formas e gestos femininos.
Nos dois
momentos singulares, estive presente na cidade. Em janeiro, vi com os próprios
olhos a dimensão da destruição causada pelo transbordamento do rio Xopotó, que barulhando
noite e dia, também viu a cidade crescer e invadir as suas margens e imagens
naturais.
Como filho da
terra, e há mais de vinte e poucos anos morando em Belo Horizonte, articulei
junto à Editora RHJ, que publica meus livros infantojuvenis, e doamos livros
literários para as bibliotecas de Guidoval. “As crianças têm o direito de
continuar sonhando e fantasiando, sempre!”
Em outubro, também
estive em Guidoval e segui a multidão pelas ruas esburacadas, sinuosas e
estreitas da cidade, com bandeiras amarelas em punho e ao vento.
As casas, algumas
ainda sem cores, em consequência da inundação, traziam nos telhados de barro, nas
paredes de tijolos à vista, nas janelas e portas de madeira o amarelo da esperança
e provavam que ali dentro, por entre as ruínas e os escombros, os sonhos eram
coloridos.
Como a
bonança não veio, conforme reza o ditado popular, a população foi às urnas, no
dia e hora marcados, e confirmou, na ponta do dedo, o desejo de mudança.
Os
guidovalenses não subverteram somente o antigo ditado popular que diz que
depois da tempestade, vem a bonança. Subverteram também a velha tradição política
da cidade.
Desde sua
emancipação, em 1948, Guidoval foi governada por homens. Somente agora, no dia
sete de outubro de 2012, pela primeira vez na história do município, uma mulher
se elege prefeita. E Soraia é o seu nome.
Ainda marcada
profundamente pelo desastre natural e político, a cidade - indignada, mobilizada,
pacífica - amarelou de uma ponta a outra, rural e urbana, sem medo de ser
feliz.
Nesse dia sete
de outubro, e vista do alto, a cidade era uma gema de ovo trêmula dentro dos
vales verdejantes das Gerais. Até o azul do céu sobre Guidoval era tímido, como
que prevendo, nas alturas e lonjuras da distância, novos tempos para a região.
Com isso, e mais
uma vez, Guidoval subverteu o conhecido ditado popular que diz que amarelar é recuar,
é desistir, é recear. A cidade provou para si mesma, e para os corações
partidos, que amarelar é um gesto de coragem, grandeza e determinação.
Que venha,
agora, ainda que tardia, a bonança para todos os guidovalenses presentes e
ausentes. E salve Guidoval!
(*) O
conterrâneo Lindomar da Silva é professor e escritor de vários livros infatojuvenis,
dentre eles “A cidade e o Rio” e “A Casa de Maria” publicados pela Editora RHJ.
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