Corta o nosso município de norte a sul, acolhendo em seu leito, como afluentes, vários córregos: Rosa, Lajinha , Pombal, Boa Vista , Cachoeirinha , Santa Bárbara , Vai e Volta e da Onça e ainda os Ribeirões Preto e Ubá.
Está presente na Bandeira do município idealizada pelo Dr. Wilton Franco.
Está nos versos do nosso Hino escrito pelo Dr. Aúreo Antunes Vieira e musicado pelo Dr. Plínio Augusto de Meireles ("do Chopotó as águas serenas").
Já serviu de tema para Escola “Calouros do Samba” em 1998 e 1978, feitos pelo Luizinho do Virgílio ("há vinte anos, há vinte anos, que a Calouros desce morro reclamando") e por mim ("a poluição que arrasa o nosso rio").
Agora recebo mais um lúcido texto escrito pelo meu amigo Plínio que transcrevo a seguir:
Enchente em Guidoval
Lembro-me de tenra idade das enchentes em Guidoval.
Em tempos idos, na nossa consciência infantil, tudo era diversão. Podíamos ir de barco do Posto de gasolina do Seu Elísio Avidago até a nossa então escolinha, o Grupo Escolar Mariana de Paiva que se localizava bem no centro do que hoje é a Praça Santo Antônio. Era divertido, mesmo que certa vez uma enchente arrastava uma casa do Seu Elísio (vizinha ao posto) com ele dentro.
Do outro lado da escola, depois da rua, estavam: a casa de máquinas de beneficiamento de cereais do Bié Linhares, a de sua residência, a casa da Sá Rubina, seguida da antiga casa do Seu Pedro Dias, da Sá Laurinda, a da D. Alza Mendonça (mãe do Zé Mendonça, Romeu, Mauro, Rosita, Rosalina e Vênus) onde depois morou o Seu Geraldo Bolivar, a do Tianinho (pai do Mundico), a do Seu Manduca (maquinista do Bié), a do Seu João Bilheteiro e, na subida da Rua do Estoque (Conde da Conceição) hoje João Januzi, a casa do Jesus Ribeiro, anteriormente do Dr. José Lincoln, um médico contemporâneo do meu pai, de memória hoje esquecida, e ainda antes habitada pelo Seu Inácio Arantes casado com a D. Nicolina (filha do Coronel Quinca Martins). É possível que hoje poucas pessoas, além da Tia Gildinha, da D. Carmem, da D. Ivone, do Toninho e do Landinho, tenham alguma lembrança deles.
Estes são apenas registros de memória, sujeitos a alguma falha.
Mas, deixemos de histórias e voltemos às enchentes. Naquela época, na imaginação da meninada do meu tempo, tudo era diversão e alegria e, ainda que houvessem prejuízos para muitos, pouco se podia fazer para conter essas explosões da natureza.
Até algum tempo atrás, ao se aproximar a água, o Chiquitinho com seu bar ainda na rodoviária, simplesmente punha seus utensílios mais preciosos sobre as mesas e levantava as portas (opostas) a uns 50 ou 60 centímetros do piso e a água entrava por um lado e saía pelo outro sem causar-lhe maiores danos. É claro que nem todos podiam agir como o Chiquitinho e levavam alguns prejuízos.
Já de algum tempo para cá essas enchentes não estão para brincadeira e hoje, com certeza, há condições de se precaver dessas intempéries ou, pelo menos minorar os seus efeitos danosos. Isto é coisa para já se ter pensado em nível político e de administração pública, e não simplesmente admitir que não se pode “brigar com a natureza”. Aqui não se trata de brigar, mas de tomar providências para que esses eventos sejam de alguma forma contidos ou atenuados.
Já de muito longa data os chamados Países Baixos da Europa, por exemplo, a Holanda, se situam cerca de 27% abaixo do nível do mar e são mantidos habitáveis e agricultáveis através de “pôlderes e diques”.
Um pôlder é uma porção de terrenos baixos e planos que constituem uma entidade hidrológica artificial, incluída entre aterros conhecidos como diques, e utilizados para a agricultura e ou habitação.
Os pôlderes são encontrados em grandes áreas nesses Países Baixos. Uma de suas províncias mais modernas, a Flevolândia, situada bem no seu centro, foi construída quase inteiramente sobre pôlderes.
No Brasil, no estado do Rio de Janeiro, o antigo DNOS e a SERLA construíram diversos pôlderes para proteção de áreas urbanas na Baixada Fluminense e para áreas rurais, como em Papucaia, o pôlder de São José da Boa Morte.
Mesmo que a nossa Guidoval não seja uma cidade muito rica, com certeza deve haver algo que possa ser feito se houver uma vontade política. Obras como a de saneamento do esgoto, ora paralizada, segundo a denúncia do conterrâneo Marcellus Catete, já seria um início para se reduzir a poluição e conseqüentes danos à natureza. Nessa sua denúncia ele fala de 500 mil reais destinados a propaganda. Eu perguntaria: a quem se destinaria essa propaganda? Numa cidade tão pequena, a melhor propaganda seria a realização completa das obras e o seu funcionamento perfeito. E isto não teria custos além daqueles da própria execução das obras. E o dinheiro destinado à propaganda, uma quantia muito grande considerando o tamanho da nossa cidade, poderia se destinado a outras obras, complementares à primeira ou de outra natureza.
É possível que em nível estadual e ou federal um governante necessite de propaganda via qualquer tipo de mídia para se anunciar aos confins do seu domínio.
Mas em um município tão pequeno como o nosso isto parece ser totalmente desnecessário. E, com toda certeza, o nosso Pároco anunciaria com imensa satisfação qualquer realização de obras pelos alto-falantes da nossa Igreja Matriz, sem qualquer custo, e este anúncio atingiria quase toda a nossa população.
Com relação a isto, seria bom que o nosso povo refletisse quando da realização das próximas eleições, para levarem ao poder políticos comprometidos com os novos rumos de preservação e controle da natureza, para alcançarmos um desenvolvimento sócio-econômico da região, realmente sustentável e buscando o bem estar dos seus habitantes.
É possível que algum que se sinta incomodado pelas minhas palavras dirá: o que tem a ver com esta cidade alguém que não mora nela? Mas eu responderia por antecedência, que nós os guidovalenses que, por razões as mais diversas, moramos fora, continuamos amando a nossa terra e cultuamos as pessoas de bem que ajudaram e as que ainda ajudam construir o seu progresso.
Também nos sentimos envaidecidos quando somos informados através do BloGuidoval (graças ao Dé) sobre nossos conterrâneos que brilham de alguma maneira fora da nossa terra, como Dr. Gerson Ochi, o Professor Antonio Barbosa, o Hugo Sanches no futebol e até mesmo fora do país, como as filhas das conterrâneas Maria Leonor, Kerma Benine e Shirley Benine. Se não me falha a memória, as duas primeiras na Suíça e a última na Alemanha.
Por isto acho que todos nós que amamos a nossa terra temos, sim, a ver com o que se passa nela e temos um grande prazer em receber notícias dela através do BloGuidoval e do Jornal Saca-Rolha, heroicamente mantido em cena pelo Renatinho. Além do mais, também temos a satisfação de informar, quando nos perguntam de onde somos, que somos de Guidoval, ainda que a pergunta seguinte seja: Onde fica isto?
escrito por Plínio Augusto de Meireles
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Um comentário:
Caro Dr. Plinio,
Já ouvi várias vezes esta pergunta:-Onde fica Guidoval?-Ao que respondo,não fica muito distante. É o lugar onde nasci e onde nasceram meus pais,fica alí,pertinho da cidade de Ubá. Muitas vezes não me atrevo a confessar que até mesmo eu que lá nasci não conheço mais minha cidade natal.Faz tempo que por lá não apareço. Justifico-me usando aquela velha desculpa da falta de tempo que nos impede de fazer o caminho de volta.Na verdade,o trabalho as dificuldades de quem cuida de uma família numerosa são os responsáveis diretos.Assim procedendo,isto é,sempre adiando, culpando uma coisa ou outra,fui acumulando saudades.Quando descobri o Bloguidoval,descobri também coisas por mim desconhecidas com relação à nossa pequena cidade. Como o Sr. disse,o BLOGUIDOVAL transformou-se num bálsamo atenuador da nossa saudade,esse sentimento que machuca,mas torna-se necessário para a continuação dos nossos dias.Acessando com freqüencia o Bloguidoval,tomo conhecimento de coisas importantes que por lá acontecem e por isso,agradeço ao Dé pelas postagens inteligentes como este artigo de sua autoria sobre o rio.
Um grande abraço,um natal cheio de paz
Maria José Baía Meneghite
Jornal Leopoldinense
Leopoldina MG
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