sábado, 7 de março de 2009

Anos JK

Como acontece em qualquer ano, 1.959 teve as suas histórias para contar. Pelas ruas, da então pacata Belo Horizonte, ouvia-se assobios da marchinha “Engole ele, paletó”, sucesso carnavalesco no ano anterior.

A Igreja São Francisco de Assis, na Pampulha, construída na gestão do então prefeito Juscelino Kubitschek, depois de longos anos interditada pelas autoridades católicas, era benzida por D. João de Resende Costa. Este lindo projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer, com murais de Portinari, jardins de Burle Marx e painéis em baixo relevo do escultor Alfredo Cheschiatti, ainda embeleza a nossa cidade.

O nosso mineiro de Diamantina, na presidência do Brasil, alçava vôos mais ambiciosos, na construção da nova capital, Brasília.

O país vivia momentos de cívica ressaca com a conquista da Copa do Mundo na Suécia, recebia os nossos campeões mundiais de Basquete e a tenista Maria Ester Bueno, campeã do torneio de Wimbledon.

O Cinema Novo mudava os rumos da sétima arte. No país, Glaúber Rocha filmava Barravento. O filme “Orfeu do Carnaval” recebia a Palma de Ouro no festival de Cannes. O disco “Chega de Saudade”, de João Gilberto, marcava o início da Bossa Nova. Democraticamente o país se livrava da Revolta de Aragarças.

Enquanto toda esta efervescência ocorria, no bairro Santa Efigênia, a boemia marcava presença através dos jornalistas Paulo Papini, Múcio Campos e outros.

Vendo o peixe pelo preço que comprei, ou quase.

Após uma noite-madrugada, de um sem número de doses generosas de whisky e saideiras, colóquios etílicos, repletos de filosofias e soluções para todos os problemas do mundo, às 5 horas da manhã, o Múcio chega ao seu tugúrio.

Recebido pela companheira de todas as horas e a bondade das esposas compreensivas aos noctívagos, Múcio é interpelado:

- Isto são horas?

Com o jornal “Estado de Minas” sob as axilas e tentando manter um equilíbrio que o álcool já não permitia, Múcio devolve com ares de suspeito espanto:

- Você não sabe?

- Sabe o quê Múcio?

- O Errol Flynn...

- Que que tem o Errol Flynn?

Com se a notícia pudesse causar grande dor à esposa, foi dando-a em conta-gotas.

- O... Errol ... Flynn... O Errol Flynn morreu ...

- MÚCIO... e o que é que você tem com o Errol Flynn?

- Eu... eu não tenho nada, mas o Paulo (Papini) está inconsolável.

E com ares de quem é eternamente solidário aos amigos, adentrou a sua casa, tentando manter a pose nos passos e nos gestos.

No caminho, para a sua cama, em busca do repouso necessário, cumprida a missão de amenizar a tristeza do amigo, deixou sobre a mesa o jornal onde se lia a manchete : MORREU ERROL FLYNN.

escrito por Ildefonso DÉ Vieira

Publicado no Jornal da Sociedade Recreativa Palmeiras - Ano 2 - Nº 6 - Junho/1996

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