Casos
de Sebastião Nery
Uma tarde, em 47, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e
João Etienne Filho, jornalistas mineiros desembarcados, no Rio, tomavam seu
chope pobre no Vermelhinho, ali em frente à ABI, e ruminavam as esperanças
nacionais.
Chega Otto Lara Resende, que fazia a cobertura do Senado:
- Esse José Américo é um gênio. Na tribuna, vira gigante.
Ninguém o vence.
Hoje um senador o interpelou sobre um acontecimento
qualquer, ele bateu a mão fechada na tribuna e gritou seco: "Isto é meu e
morrerá comigo".
O Senado ficou longamente em silêncio.
João Etienne escreveu a frase no cartão do chope e guardou:
- Isto dá um poema.
- Isto dá um poema.
Trinta anos depois, professor de teatro, membro da Academia
de Minas o Saudoso Etinne fez o poema, belíssimo:
Isto
é meu
(do poeta João Etienne Filho)
O ideal de beleza
que eu persigo
Isto é meu e morrerá comigo.
Isto é meu e morrerá comigo.
O que houve, o que há e o que
haverá
De mim para contigo
De mim para contigo
Isto é meu e morrerá comigo.
O remorso de ser
joio entre o trigo
Isto é meu e morrerá comigo.
Isto é meu e morrerá comigo.
A mágoa que não conto
ao mais direto amigo
Isto é meu e morrerá comigo.
O que me dilacera
Isto é meu e morrerá comigo.
O que me dilacera
e finjo que não ligo
Isto é meu e morrerá comigo.
Isto é meu e morrerá comigo.
O que hei de levar
ao derradeiro abrigo
Isto é meu e morrerá comigo.
Isto é meu e morrerá comigo.
E o que eu quero
que se escreva em meu jazigo
Isto é meu e viverá comigo.
Isto é meu e viverá comigo.
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