segunda-feira, 11 de julho de 2016

Isto é meu (do poeta João Etienne Filho)



Casos de Sebastião Nery

Uma tarde, em 47, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e João Etienne Filho, jornalistas mineiros desembarcados, no Rio, tomavam seu chope pobre no Vermelhinho, ali em frente à ABI, e ruminavam as esperanças nacionais.

Chega Otto Lara Resende, que fazia a cobertura do Senado:
- Esse José Américo é um gênio. Na tribuna, vira gigante. Ninguém o vence.

Hoje um senador o interpelou sobre um acontecimento qualquer, ele bateu a mão fechada na tribuna e gritou seco: "Isto é meu e morrerá comigo".
O Senado ficou longamente em silêncio.

João Etienne escreveu a frase no cartão do chope e guardou:
- Isto dá um poema.

Trinta anos depois, professor de teatro, membro da Academia de Minas o Saudoso Etinne fez o poema, belíssimo:


Isto é meu
(do poeta João Etienne Filho)

O ideal de beleza
que eu persigo
Isto é meu e morrerá comigo.

O que houve, o que há e o que haverá
De mim para contigo
Isto é meu e morrerá comigo.

O remorso de ser
joio entre o trigo
Isto é meu e morrerá comigo.

A mágoa que não conto
ao mais direto amigo
Isto é meu e morrerá comigo.

O que me dilacera
e finjo que não ligo
Isto é meu e morrerá comigo.

O que hei de levar
ao derradeiro abrigo
Isto é meu e morrerá comigo.

E o que eu quero
que se escreva em meu jazigo
Isto é meu e viverá comigo.


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