SERTÃO PROIBIDO DO CHOPOTÓ DOS
COROADOS
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De Freguesia de Sant'Ana de Sapé a Guidoval -
escrito por Ildefonso DÉ
Vieira
A primeira vez que Guido Marlière pisou por onde hoje é a Esquina
foi em 1813. Vinha de São João Batista do Presídio (Visconde do Rio Branco)
para criar o Quartel de Guidowald (floresta do Guido). Depois disso muita água
rolou por debaixo da ponte, que nem existia. Para que pudesse descansar da
longa jornada de cinco léguas entre o Presídio e o Quartel de Guidowald,
Marlière construiu um rancho de sapé às margens do Chopotó, o marco zero da
nossa cidade.
Cinco anos depois, os alemães Spix (zoólogo) e Martius (médico e
botânico) em “Viagem pelo Brasil” visitaram Guido, em sua
fazenda-quartel em 1818. Estava surgindo o “Arraial do Rancho de Sapé”.
No dia 24/04/1822, Marlière informa ao Príncipe Regente Dom Pedro
I que construiu uma capela para os índios ao pé da Serra da Onça. Menos de
cinco meses depois D. Pedro I gritou “Independência ou Morte”, nos
libertando do jugo português, tornando-se Imperador do Brasil. Os índios
Coroados, Croatas, Carajás, Coropós e Puris, primitivos habitantes da região,
nem ligaram para o acontecimento, mantendo-se a tradição de “jamais bater
palmas”, fiéis à origem da palavra Chopotó: Che=jamais; Pá=bater;
Tó= palmas. Talvez venha daí essa nossa preguiça macunaímica em NÃO
APLAUDIR quaisquer shows, espetáculos sejam artistas de renome ou não. Não é
indolência ou falta de educação, herdamos essa característica dos Coroados.
Fazer o quê? Essa mesma apatia se repetiu tanto na Aldeia do Morro Grande,
próximo a povoado de Sapé, como na Aldeia de Cipriano a cem passos da Fazenda
Guidowald. Independência eles possuíam antes da chegada dos brancos.
No dia 05 de junho de 1836 falece Guido Marlière. No
enterro do grande catequista, a viúva D. Maria Victória da Conceição Rosier
pranteia a morte do marido, corta alguns cachos de cabelos do esposo, guarda-os
no relicário que lhe adorna o pescoço junto com a única imagem do semblante do
nosso colonizador. Desta vez os índios se manifestaram em dor e choraram a
perda do protetor, apaziguador das constantes guerras.
E foram chegando os forasteiros. Vindo de São Domingos do Prata,
Manoel Ferreira da Costa estabeleceu-se onde hoje é parte da sede do município,
criando a Fazenda Sapé. Depois trouxe a família. Junto com os filhos Delfino e
João doaram 22 e ½ alqueires para patrimônio e criação da Paróquia. Já andava
por estas bandas o Padre José Francisco Baião que adquiriu dois terrenos
(08/10/1839 e 28/02/1844) de D. Maria Victória Marlière às margens do Rio “Chopotó
dos Coroados”.
O Capitão Gonçalo Gomes Barreto, fazendeiro e senhor de escravos,
nos idos de 1840, foi o responsável pela construção de uma estrada do Presídio,
passando pelo Sapé, Aldeia do Morro Grande, Fazenda Guidowald, Fazenda da Onça,
Arraial Meia-Pataca, Capivara (hoje Palma), Registro da Barra do Pomba até aos
Campos dos Goitacazes de grande importância econômica para toda a região.
Em 1851, pela Lei nº 533, fica elevado a Distrito de Paz o “Curato
do Sapé” que passa a ser conhecido como Sapé de Ubá.
O Cartório de Paz registra, em 29/04/1853, transações comerciais
entre José Joaquim Pedroso e Cypriano da Costa Carvalho. No dia 25/02/1856 o
Padre José Francisco Baião vende terreno a Moysés Ferreira da Rocha e em
02/04/1856 Dona Maria Victória vende 10 alqueires a Romildo José Campos.
A Lei Provincial nº 758 de dois
de maio de 1856 eleva o Curato à Paróquia. Surge a Freguesia de Sant'Ana do
Sapé, tendo como primeiro pároco o Padre Baião. O apelido Sapé, surgido desde o
primeiro rancho fincado por Guido Marlière às margens do Chopotó, se incorpora
em definitivo ao arraial que prosperava. SAPÉ na língua indígena quer dizer “O
que alumia”. Os moradores do povoado têm agora a proteção da gloriosa
Senhora Sant'Ana, Mãe de Nossa Senhora, Avó de Nosso Senhor Jesus Cristo, comemorada
a 26 de julho. A doação dos terrenos pela família Ferreira da Costa para a criação
da Paróquia foi o embrião, a semente para germinar a futura cidade. O tempo
provaria que estes pioneiros tinham razão.
Há muito se espalhara notícias da fertilidade das terras da
região. Começaram a chegar mais e mais forasteiros, aventureiros de toda parte.
Acabou-se o sossego dos índios, os verdadeiros donos da terra. Muitos vieram em
busca de riqueza, outros fugindo da justiça e um grupo muito especial à procura
da liberdade, tesouro d'alma. Eram os Tavares, Aleluia, Cruz, Tomé e Martins, todos
negros fugindo da escravidão. À beira de um ribeirão, depois chamado de Preto,
ao sopé da Serra de Sant'Ana trabalharam de sol a sol, poupando-se cada
mil-réis pelos trabalhos prestados, até adquirirem o terreno dividido entre as
cinco famílias.
Não parou de chegar estrangeiro, imigrantes portugueses e
italianos, negros alforriados, o povoado crescendo, o primeiro comércio, a
primeira igreja, o primeiro crime, o primeiro casamento. A febre amarela que
grassava o Rio de Janeiro desde 1850 começou a fazer vítimas pelo interior do
Brasil. A Freguesia de Sant'Anna do Sapé não ficou livre dessa epidemia. Em
menos de um ano, de 22/04/1857 a 15/03/1858, o livro de óbitos registra a morte
de 31 pessoas com o sobrenome Bagne. Não se sabe a “causa mortis”, mas é
muita desgraça para uma só família.
Em 11/11/1858 nasce Bernardo Pinto Monteiro, filho de José Mariano
Pinto Monteiro e Carolina Duarte Pinto Monteiro, natural de Ubá. É natural,
pois a Freguesia de Sant'Anna do Sapé pertencia a Ubá. Meu amigo Marcellus
Cattete afirma que ele nasceu na Fazenda de Sant'Ana, visitada pelo Imperador
D. Pedro II, depois propriedade de D. Natinha que dizem ter sido amante do Presidente
Getúlio Vargas. Um monumento de fazenda, uma relíquia do ciclo do café, que foi
destruída apenas para vender o madeirame. Mas voltando ao Dr. Bernardo Monteiro
ele foi Vereador, Deputado, Senador e Prefeito de Belo Horizonte. Hoje é nome
de avenida na capital. Vamos pesquisar com maior profundidade a origem do
provável ilustre conterrâneo.
No dia 02/08/1859 morre Anna, índia Coroatá e em 29/05/1860 o
índio Puri Severino. São enterrados como cristãos no cemitério local.
Em outubro de 1864 começa a Guerra do Paraguai. Não bastasse a
febre amarela para aniquilar os mais humildes, surge o conflito militar mais
sangrento da América do Sul. A comunidade do Ribeirão Preto, já sofrida pela
escravidão faz promessa. Se os seus filhos não fossem convocados para a guerra
e nem morressem da epidemia que se alastrava, iriam construir um cruzeiro em homenagem
a São Pedro. Atendidos em suas preces em 1870 erguem o Cruzeiro do Ribeirão e
em todo 29 de junho festejam, até hoje, com entusiasmo as graças obtidas, num
ritual tradicional que emociona os participantes e convidados.
Albino Ferreira de Araújo adquire uma porção de terra com vinte
alqueires de plantio de milho na Fazenda Aldeia do Morro.
A Lei do Ventre Livre é aprovada em 1871, livrando-se da
escravidão todos os negros nascidos a partir daquela data. Porém a criança
ficaria em poder dos senhores de sua mãe até os 21 anos. Liberdade para inglês
ver. Em 10/06/1873 Inácio José de Barros e sua mulher doaram três alqueires de terras,
a título de permuta, à Paróquia de Sant'Ana, tendo à frente Padre Severiano
Anacleto Varella.
Aos dois anos de idade, em 1873, veio morar na Fazenda de Jacinto
Pereira, na Serra da Onça, o menino Levindo Eduardo Coelho, depois Senador e
pai do Governador Ozanan Coelho. Nasce no dia 16 de junho de 1877, Joaquim Martins,
filho de José Martins Ferreira e Joana Martins Coelho. O pai era natural de São
João Nepomuceno. Joaquim depois virou fazendeiro, coronel, político, nome de
rua, com muita história para contar. Em 06/09/1879 falece o Capitão-Mor
Florêncio Pereira da Silva Catete, de 79 anos. Era natural de Mariana.
Nasce em 11/02/1888 Elisa
Ribeiro, filha da parteira Afra Tereza. Três meses e dois dias depois de seu
nascimento, a liberdade limitada da Lei do Ventre Livre era lhe restituída
integralmente pela Lei Áurea. O Brasil inteiro comemorou a virada desta página
de dor e vergonha da história nacional. Elisa aprendeu com a mãe o ofício de
parteira. É a cidadã que mais guidovalenses ajudou a nascer em toda história do
município. À benção Vó Elisa!
O povoado continuou atraindo
aventureiros e desejosos de fortuna. Chega a Freguesia de Sant'Ana do Sapé, em
1891, o Dr. Manoel Basílio Furtado e abre uma empresa de beneficiamento de
cereais. Médico, cientista, pesquisador é o primeiro a levantar a biografia de
Guido Marlière. É o responsável pela pintura do único quadro que conhecemos do “Comandante
de todas as Divisões do Rio Doce” . Conseguiu emprestado de Maria Flávia
Marlière a medalha que ela herdara da avó Maria Victória. Dr. Basílio registra
em fotografias o incipiente Sapé no fim do século XIX. Muitos comemoraram a
chegada do século XX. Dr. Manoel Basílio Furtado não tinha motivos para
celebrar, os negócios não andavam bem, fechou a empresa e mudou-se para Rio
Novo.
Durante o paroquiato do Padre João Caetano da Encarnação é criado
a Conferência de Sant'Ana em 30/06/1901.
Circula em 1906 o jornal “O SAPÉ”, de Belarmino Campos.
Casam-se Dionísio Vitorino Maciel e Isaura Rosa Silva. O Tenente Joaquim
Henriques da Costa pede providências para consertar a estrada que vai a “Barreiras”,
no lugar denominado “Barro Branco”. Encontrava-se adoentado o
proprietário da Padaria São Pedro, Sr. Vicente Jorge. A Profª. Mariana de Paiva
convoca os pais a matricularem seus filhos na escola de ensino primário. A Sociedade
Atheneu Sapeense convida o corpo cênico para uma reunião. Esta sociedade cultural
é presidida por Belarmino Campos, músico, ourives, dentista, jornalista, ator,
dramaturgo, cenógrafo. É um dos grandes beneméritos do Sapé.
Nasce na Serra da Onça, em 11/05/1906, Ascânio Lopes.
Em 1910, a
passagem do Cometa Halley provoca alvoroço no mundo. Muito se falou no fim dos
tempos. No povoado do Sapé não foi diferente. Ignorantes, sabidos, zambetas,
todos de boa fé correram à Igreja Matriz de Sant'Ana a rezar em busca de um
lugar ao céu, rogando a Deus perdão pelos pecadilhos que todo ser humano
comete. Padre João Caetano da Encarnação confortou os seus fiéis, não sem antes
orar umas dúzias de Pai-Nosso e algumas centenas de Ave-Marias. O cometa passou
e só deixou um rastro de beleza nos céus sapeense.
Morre a 22 de janeiro de 1922 o Papa Bento XV. Na velha Igreja
Matriz de Sant'Ana o Padre Vicente Cunto Pinto e toda comunidade reza pela
alma do líder católico. Em fevereiro realiza-ser a Semana de Arte Moderna.
Reflexo do movimento modernista surge em Cataguases a Revista Verde em setembro
de 1927. Um dos participantes é o jovem conterrâneo Ascânio Lopes QuatorzeVoltas
autor da poesia “Serão do menino pobre”, da qual transcrevo o trecho:
“Quando Mamãe morreu / o serão ficou triste, a sala vazia. / Papai
já não lia os jornais / e ficava a olhar-nos silencioso. / A luz do lampião
ficou mais fraca / e havia muito mais sombra pelas paredes... / E, dentro em
nós, uma sombra infinitamente maior”.
Em 07 de setembro de 1923 reduziu-se o nome da Sant'Ana do Sapé
para apenas Sapé. A mudança toponímica não foi motivo de grande euforia, nem
houve entusiasmo na comemoração de 101 anos da Independência, o povoado almejava
a sua autonomia administrativa. Em 03/04/1927 é criado o Apostolado da Oração.
Com a presença do Presidente do Estado de Minas Gerais, Antônio
Carlos Ribeiro de Andrada, inaugurou-se o Monumento do Guido, na Serra da Onça,
em 13 de agosto de 1928, em homenagem ao civilizador que dedicou 23 anos de sua
vida a apaziguar e educar indígenas.
Por um breve período, 01/08/1936 a 17/11/1937, governou a
Prefeitura de Ubá o médico Dr. Theóphilo Moreira Pinto, pai de Cybele que
depois se casou com Ozanan Coelho. A beleza encantadora das sapeenses Cybele e
Ilca de Castro Arantes, que se casou com o Dr. José Campomizzi Filho, fez com
que ele, mais tarde, espalhasse aos quatros ventos que “Guidoval era a terra
das moças mais bonitas do Brasil”. Segui os conselhos do sábio Promotor de
Justiça e casei-me com uma guidovalense: Maria de Lourdes Ribeiral.
Depois de mais de 30 anos um novo jornal aparece no Sapé. É a “Voz
de Sapé” dirigido por Theophilo Braz Pereira de Mendonça e tendo como
Redator o Prof. Aristides Rocha. O primeiro número saiu escrito “Villa de
Sapé, 23 de outubro de 1938”
e já combatia o vício do fumo dizendo-o “anti-higiênico, tóxico, é um
tirano que brinca com o seu escravo viciado”, num artigo assinado por Mário
Reis. Condena o “costume deselegante” de uso de armas como facas,
punhais e até mesmo pistolas e garruchas de todo calibre, texto escrito por
Amadeu dos Santos. É recebido com entusiasmo pelo jovem Sebastião Lisboa
Andrade, cujo texto reproduzo em parte:
“Voz de Sapé é a voz das montanhas, das cascatas, dos rios, dos lagos, de Sapé
de Ubá. É a voz do sol que doira as campinas rociadas de luz e de vida, da
terra de Guido, o desbravador, é a voz da Noite que acalenta o sono da alma
sapeense, varonil e intrépida.”
Infelizmente durou pouco esse periódico. Uma pena, pois era muito bem escrito.
Cheio de idéias e ideais. Não tinha propagandas, talvez daí a sua rápida
passagem pelo nosso povoado. Como se sabe a propaganda é alma do negócio. Por
essa época Turunas e Sapeense alegravam os folguedos carnavalescos
do povoado em pleno desenvolvimento.
No dia 8 de maio de 1940 toma posse na Paróquia de Sant'Ana o
Padre João Crisóstomo Campos. Dinâmico, logo faz um inventário dos bens da
igreja, identifica as necessidades e carências da paróquia, abre um Livro do
Tombo e inicia a sua administração.
Em 1943 o Distrito do Sapé teve seu nome modificado para GUIDOVAL,
em justa homenagem a seu fundador o Coronel Guido Thomas Marlière L'age, esse
plantador de cidades em Minas Gerais. O mundo em plena Guerra Mundial nem
percebeu que na Zona da Mata de Minas Gerais um francês tivera a honraria de
ser nome de um povoado em venturoso progresso. Os novos guidovalenses,
sapeenses para sempre, festejaram o acontecimento. Entre setembro de 1944 e
maio de 1945, 25.000 soldados brasileiros combateram na Itália. Lutaram conta o
fascismo, o nazismo, em defesa da liberdade e democracia. Nos campos italianos
morreram 465 soldados brasileiros e 3.000 ficaram feridos. A crueldade da
guerra não poupou guidovalenses que derramaram sangue e sacrificaram suas vidas
nos campos de batalha na Itália.
No dia 2 de março de 1948 estava em Belo Horizonte a “Comissão
Pró-Emancipação de Guidoval” integrada por Padre Sinfrônino Almeida, Manoel
Reis Moreira, Astolfo Mendes de Carvalho, Dilermando Teixeira Magalhães e José
de Azevedo Costa. Visitaram o Secretário do Interior, Dr. Pedro Aleixo, e se
encontraram com o Governador Milton Campos para tratar da emancipação de
Guidoval. O jornal belo-horizontino, “O DIÁRIO” publicou matéria sobre o
assunto.
Rua Sete de Setembro (Fundão). Foto
do séc. XIX de Dr. Manoel
Basílio Furtado
Em
04 de abril de 1948, Dr. Artur Furtado, publica longo artigo no jornal “Folha
do Povo” de Ubá onde manifesta a importância da Emancipação de Guidoval.
Por essa época, Dr. Artur mantêm intensa correspondência com o amigo Deoclécio
Lopes Catete. Trocam idéias sobre Guidoval, emancipação, nome e instalação do
município, das obras essenciais, emergentes e urgentes para a cidade
recém-criada. São sentimentos de homens altruístas, pensando no bem da
coletividade. Dr. Artur é filho do Dr. Manoel Basílio Furtado de quem herda o
amor pela nossa terra. Na década de 30, presidiu o Conselho Distrital do Sapé,
ocasião que foi adquirido prédio que depois abrigou classes de aula das Escolas
Estaduais Reunidas. Era o casarão que serviu de sede à velha prefeitura. No
porão ficava a cadeia. Hoje é Prédio Administrativo e Clube “Álbero Campos”.
Dr. Artur, depois se mudou para Belo Horizonte trabalhando na Secretaria de
Educação. Residindo na capital do estado, se transforma numa espécie de
embaixador de Guidoval, atuando nos bastidores para a emancipação do nosso município.
Daí
a minha certeza:
Guidovalense não parte. Reparte!
Uma parte fica. Outra parte, parte!
(Fim da primeira parte –
publicada no Jornal de Guidoval em Janeiro/2006)
A tão sonhada emancipação política de
Guidoval aconteceu em 27 de dezembro de 1948. Frutificou a luta dos
emancipacionistas. Guidoval não seria mais um distrito abandonado da prefeitura
de Ubá. Um bairro de periferia aonde político só aparece em época de eleição em
busca de votos. Poucas vezes se viu tanta alegria nas ruas descalças de nosso
povoado. Não faltaram foguetes, bebidas e danças. Mesmo com tanta euforia teve
comerciante que colocou luto achando que deixaria de vender querosene, pois
logo chegaria a energia elétrica. Acertou quanto ao progresso, mas isto em nada
prejudicou o seu bem-sucedido comércio.
Também não gostaram nem um pouco dessa alforria conquistada os
partidários do Partido Republicano (PR) de Ubá. Guidoval era um reduto de
eleitores desse partido que perdia sempre as eleições na sede da comarca e nos
distritos de Tocantins, Divinésia e Rodeiro; em compensação quando chegavam os
votos de Guidoval tirava-se a diferença e o PR ganhava as eleições. Houve até
bate-boca, destampatório na instalação do município ocorrida a 1º de janeiro de
1949.
Até que se realizassem eleições e posse dos futuros governantes do
município, assumiu como Intendente o Sr. José Vilela em 10/01/1949.
Ao som da Orquestra Jazz Sapeense, no carnaval de 1949 os foliões
cantavam “Chiquita Bacana” de João de Barro e a música “Que samba bom”, canção
passada para a partitura pelo músico Odilon Reis após ouvir os solfejos do boiadeiro
Zizinho do Marcílio que recolhia canções em evidência no Rio de Janeiro em suas
constantes viagens levando boiadas à capital federal. O samba era de autoria do
genial Geraldo Pereira um juizforano radicado no Rio e amigo de farra do
Vicente do Dario do Chico do Padre, dois companheiros de comitiva de Zizinho. O
pai, Dario, foi o professor de cavalgadas. O filho, Vicente, um aprendiz de
longas jornadas.
Em plena quaresma realizaram-se eleições especiais a 06/03/1949
para escolher o primeiro prefeito e a primeira câmara. Foram eleitos Cid Vieira
(prefeito) e Dilermando Teixeira Magalhães (vice-prefeito), empossados em
27/03/1949.
Num tempo em
que vereadores não eram remunerados, o povo escolheu para compor a primeira Câmara:
Sebastião Cruz, Antônio José Barbosa Neto, Dionísio Vitorino Maciel, Teófilo Braz
de Mendonça Filho, Antônio Vieira de Queiroz, Celso Reis Moreira, Geraldo Gonçalves
dos Santos, Geraldo Dornelas Oliveira e Dr. Mário Geraldo Meireles escolhido
como Presidente desta primeira legislatura. Padre Messias Passos além de abençoar
os mandatos foi o orador oficial da solenidade.
A autonomia administrativa iluminou novos horizontes ao município
com urgência de realizações. Construir escolas, instalar postos de saúde,
canalizar água, implantar saneamento básico, urbanizar ruas, praças e avenidas,
criar um código de postura, elaborar um plano diretor, abrir e conservar
estradas vicinais. Nada que intimidasse a vontade dos novos governantes mesmo
com tanto a fazer e pouco dinheiro para realizar.
É eleito para Juiz de Paz, em 03/10/1950, Dionísio Vitorino Maciel
cargo antes já ocupado por Deoclécio Lopes Cattete, Custódio Lopes Moreira e
depois por Dr. Jair Dutra Venâncio, dentre outros.
Em 27/01/1951 o prefeito Cid Vieira pede licença para tratar de
sua saúde e negócios particulares. Assume a prefeitura Dilermando Teixeira
Magalhães. Com dinamismo dá início à sua gestão. Prenúncio de dias de progresso
vislumbra no horizonte do novo município. Mesmo diante a hostilidade de alguns
moradores manda desobstruir, rebaixar e nivelar o cruzamento das ruas João Januzzi
e Sete de Setembro (Esquina). Faz contrato com a Secretaria de Agricultura para
perfuração de poços artesianos. Constrói a Ponte sobre o "Córrego da
Laje" na Rua Belarmino Campos e a “Ponte da Cachoeira”. Inicia a canalização
de água na cidade, instala escolas rurais.
Em sete de setembro de 1951, Dilermando oferece uma fotografia a
Juscelino Kubitschek, Governador de Minas Gerais, como “lembrança das crianças
guidovalenses na comemoração do Dia da Pátria”. É uma gentileza para lembrar e
marcar a sua passagem pelo município.
Toma posse na Igreja Matriz de Santana o pernambucano Padre Oscar
de Oliveira em 29/12/1951, princípio da mais fecunda administração da nossa paróquia.
Depois de mais de oito anos o salário mínimo que era de Cr$380,00
passou para Cr$1.200,00 em 01/01/1952.
Um funcionário graduado da prefeitura que recebia apenas Cr$900,00
pedia, com razão, aumento em 03/02/1950.
Depois de 39 anos sem solenidades na Semana Santa é encenado, em
11/04/1952, a Paixão de Cristo. Padre Oscar anota no Livro de Tombo: “Grande
resultado espiritual”.
O iluminado Prof. Ernani Rodrigues “lança a pedra fundamental” do
Ginásio Guido Marlière no dia 1º de maio de 1952. Guidoval começava de fato a
se transformar numa cidade.
Existia em Guidoval, como de resto em todo país, uma acirrada
disputa política entre o PR/UDN e o PSD. O cidadão guidovalense contente com a
gestão de Dilermando queria que ele continuasse à frente da prefeitura. Avesso
ao fingimento das campanhas políticas, cabalar votos, tapinhas nas costas,
fazer promessas vãs, Dilermando revela-se um hábil negociador ao condicionar a
sua candidatura a prefeito para o próximo mandato desde que houvesse uma UNIÃO
de todas as correntes partidárias do município. Em 27/04/1952 há uma reunião
sem precedentes do PR, PSD, UDN e PTB em que os partidos prometem uma trégua em
suas desavenças ideológicas lançando candidatura única para prefeito e
vice-prefeito (veja foto acima).
Em 26/07/1952, circula o jornal “Cidade de Guidoval” dirigido pelo
Sr. Sebastião Cruz e Dr. Mário Geraldo Meireles, adversários políticos, mas
unidos no interesse maior do município. Dois incansáveis batalhadores, vida
afora, pelo progresso e bem-estar de nossa cidade. As edições desse jornal
noticiam o LANÇAMENTO DA PEDRA FUNDAMENTAL do “Asilo Frederico Ozanan” e do “Ginásio
Guido Marlière”, as obras e melhoramentos que aos pouco iam surgindo na pequena
urbe.
Toma posse, em 28/03/1953, Dilermando Teixeira Magalhães
(prefeito) e Astolfo Mendes Carvalho (vice-prefeito) eleitos pelos PSD, com
mandatos obtidos através de eleição com candidatura única.
Em 19/06/1954 nasce Antônio José Barbosa depois professor
universitário, historiador, ilustre conterrâneo que quando Secretário Executivo
do Ministério da Educação trouxe grandes realizações para a municipalidade.
O status de cidade exigia ares de civilização. Na entrada do
povoado uma velha placa alertava: “É proibido entrar carro de boi cantando nas
ruas da cidade Multa $10:000”. A sanção aos infratores era estipulada em
mil-réis quando o mesmo já fora extinto desde 1942. Contrariados, tristes,
ressabiados, os carreiros respeitavam, em termos, este estorvo de lei
provinciana. Lembro-me do Zé Coelho meeiro de Ildefonso Gomes, Pedrinho
Ribeiral, Xará, Zé e Cavaco do Sô Tão, Chico Laureano, Tida Venâncio e João
Natal empregado do fazendeiro e grande empreendedor Antenor Bressan que
construiu em tempo recorde o
prédio para abrigar o Ginásio Guido Marlière.
No dia 02/05/1956 a Paróquia de Santana comemora com fervor cem
anos de existência. Vários garotos vestidos de príncipes fazem a Guarda de
Honra do Bispo Dom Delfim Ribeiro Guedes que comanda a cerimônia, com a presença
de vários padres, fiéis e devotos. Há uma foto que registra este fato e no
verso uma significativa dedicatória "A boa D. Sinhá Cattete, a alma
artística das Festas do Centenário da Paróquia”, assinada por Padre Oscar de
Oliveira. Ele aproveita as festividades para comprometer-se com o início das
obras de construção da nova igreja. Circula pelas ruas da cidade o jornal
satírico “O ESPIÃO” feito por Ibsen Francisco de Sales, o estimando professor
Salim, lembrado com carinho por várias gerações de estudantes de nossa terra.
Nesse ano, Juscelino Kubitschek enfrenta sérios obstáculos para
assumir a Presidência da República a 31 de janeiro. Nossas modestas ruas já tinham
sido percorridas pelo presidente-estadista, acompanhado de várias autoridades
dentre elas a Profª. Jesuína Simões de Mendonça.
No dia 02/02/1957 é assassinado o fazendeiro e político Coronel
Joaquim Martins, vítima de uma tocaia quando abria a porta de sua fazenda.
Surgiram vários suspeitos, intrigas, júris, mas até hoje permanece o suspense e
mistério: Quem matou o coronel? Esta frase provocava a cólera do Agripino, um
andarilho que perambulava pelas ruas de Guidoval que é pródiga em transformar
pacatos cidadãos em malucos-beleza.
É o caso do Teteco, Quirino, Ôsprum, Ô Lôco, Ilda Quiabo, Sá
Lódia, Zé das Latas. Todos retidos na minha mais grata lembrança, como também
os recadeiros da telefonista D. Ernestina: Kael e Manoel da Sá Joaquina. Lembro
ainda do Mané Toma-Broa, o surdo Enéas, o negro Damião José, o sorridente “fumeiro”
Tuniquim, o lenhador-glutão Joviano, o menino-teimoso Elpídio, o irrestível
conquistador Fenderracha, o irrequieto Pinduca que às vezes desafiava o
destacamento policial, brigando com todos os soldados. Batia e apanhava, depois
exausto era preso. Passava a noite na cadeia debaixo da prefeitura velha (nem
mais existe o prédio), exposto à curiosidade pública das crianças rueiras e dos
desocupados de plantão. Dormia, sarava da carraspana, era solto e ia trabalhar
de “chapa de caminhão” para o cerealista Bié Linhares que '”falou tá falado”.
Em 1959, o Padre Oscar cumpre o prometido e constrói a nova
igreja, orgulho de todos nós e não existe guidovalense ausente que não saiba a
inscrição em latim escrita em sua fachada: “Quam Dilecta Tabernacula Tua Domine Virtutum”. O diligente prefeito
Otaciano da Costa Barros constrói o primeiro reservatório de água e distribui o
precioso líquido por toda cidade, melhoramento que deu mais dignidade e saúde
aos guidovalenses.
No final dos anos 50 um forte temporal seguido de uma descomunal
enchente destruiu inteiramente o Circo do Bartolo. A solidariedade, a magnitude
de nosso povo ajudou a erguer novamente o circo. São estas virtudes dos guidovalenses
que cativam os visitantes que aqui aparecem e nunca mais deixam de voltar, isto
quando não decidem morar de vez.
O jornal “A VOZ DE GUIDOVAL” de 11/06/1961 publica um artigo
escrito pela Profª. Carmem Cattete Reis Dornelas enaltecendo o Prof. Ernani
Rodrigues e conclamando os ex-alunos do “Ginásio Guido Marlière” a retribuírem,
de alguma forma, ao município os ensinamentos recebidos. Era a D. Carmem inventando
os “Amigos da Escola” bem antes da Rede Globo. Esse abnegado periódico foi o
idealizador do “Dia do Guidovalense”, esta festa de confraternização.
Estabeleceu ainda o compromisso moral de que todo prefeito deveria inaugurar pelo
menos uma obra durante os festejos de SANTANA.
Em 25/10/1961 uma laje, em construção, cai em cima do pedreiro
Calixto Braz de Oliveira, matando-o. Foi na mocidade um grande artilheiro do
Sapeense. É o responsável por uma geração de bons jogadores de futebol: os
filhos Lilico, Helinho, Vitor, Calixto e Braz; o neto Agnaldo e o bisneto
Carlos Roberto.
Uma multidão escuta nos rádios da Barbearia do Elzo de Barros e no
Consultório Dentário do Dr. Jair a vitória apertada do Brasil sobre a Espanha
por 2X1 no dia 06/06/1962. A seleção dá um passo decisivo para ser bicampeã
mundial. A Rua Conde da Conceição, hoje João Januzzi, é cortada ao meio por um
canal para abrigar rede de água, esgoto e o primeiro calçamento de paralelepípedo
da cidade, obra do inspirado prefeito Eduardo Nicodemo Occhi, também
responsável pela primeira praça urbanizada (Major Albino), a 1ª Biblioteca
Pública, a instituição do Hino de Guidoval composto por Plínio Augusto Meirelles
e Áureo Antunes Vieira, a conclusão do Grupo Escolar Cel. Joaquim Martins e
principalmente por implantar no nosso calendário festivo o profícuo “Dia do
Guidovalense”.
No LARGO, Praça Santo Antônio, armava-se circos, parques de
diversão e touradas como a do Mário Silva que consagrou os toureiros
Testa-de-Ferro e Moreninho, mas principalmente o “Escovado” um pacato boi
carreiro do João Vitório que punha qualquer um para correr até mesmo os nossos
toureadores caseiros como o Miguel da D. Neném, o Chico Dercílio, o Raimundo do
Sô Tão e o Custódio da Dorce do Ivair que morreu vitimado por uma fratura na
coluna no exercício da sua arriscada profissão. Outro boi pegador foi o
Inhapim, segundo me disse o amigo Renatinho do jornal Saca-Rolha.
Morreu, aos 89 anos, Maria Gregória Alves em 29/01/1964 que diziam
ser descendente de Tiradentes, o mártir da Independência. Era avó do Mundico
filho do Tianin (Cristiano Alves) proprietário da primeira jardineira que
depois pertenceu ao grande comerciante português Elísio Avidago que um dia
mandou o seu motorista Geraldo Carias retornar com o veículo para buscar apenas
o Sr. Marcílio Vieira que ficara esquecido, uma vez que ele não estava à beira
da estrada esperando a condução, pois refugiara-se da chuva na Fazenda do Dico
Peixoto.
Em 23/07/1965 a imagem de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil,
visita o nosso município, sendo recebida com fé e devoção pelos católicos.
Neste mesmo ano, no Baile da Saudade da Festa de Santana a Jazz Sapeense faz a
sua última apresentação oficial depois de mais de 50 anos alegrando
guidovalenses.
Muitos músicos
brilharam neste conjunto musical. Podemos citar Zé Mineiro, Piloto (pai do
Tilúcio, o maior carnavalesco de toda nossa história) e Sô Nilo que tinha uma
barbearia no Fundão e quase toda noite promovia um show musical ao ar livre,
interrompendo a rua, dando vez e voz ao Jeová, Sô Lau, Josias do Pombal, Zé do
Fio (Barão), José Occhi (Bijica), Bebeto Ramos, Landinho Estulano e Zé do Gil.
Falando de música não há como deixar de recordar da Banda Lira
Sapeense, Corporação Musical Belarmino Campos, Banda Francisco Batista e seus
talentosos maestros como o Moysés Mineiro, José Cordeiro, Belarmino e Álbero
Campos, Zé Negueta (José Alves de Freitas), Sô Tute (Oswaldo José de Barros),
Luiz Pinheiro, Zé Balbino e também os fantásticos instrumentistas como Odilon
Reis, João Queiroz (do Pinho), Zé Afra, Zé Boiota, Zé Manga Rosa, Zé Vieira
(flautista), toda família do Juca Alfaiate (José da Costa Azevedo) e o
bombardino do Zico Sapateiro (José Ferreira Cezar).
A primeira ordenação sacerdotal na Igreja Matriz de Santana é do
Padre Felipe Caetano da Silva em 26/07/1966.
Em 30/01/1967 termina o mandato do saudoso prefeito Francisco
Moacir da Silva, de grandes melhoramentos ao município como calçamento de ruas,
iluminação da Ponte Raul Soares, ampliação da rede de esgoto e captação de água
pluvial, perfuração de novos poços artesianos, construção de escolas rurais,
sendo que o ponto alto de sua administração foi a Criação e Instalação do
"Ginásio Estadual Guido Marlière", fazendo uma adaptação do Prédio do
“Asilo dos Pobres” doado ao estado de Minas pela Diocese de Leopoldina, sob a aprovação
do Padre Oscar. No dia 25/07/1967, o criativo poeta Marcus Cremonese faz uma
homenagem a Guidoval, a Santana e a todos guidovalenses apresentando o seu
poema “De como eu amo uma cidade” no Cinema do Severino Occhi, que tudo sabia
de marketing. Senão vejamos. Deixava uma greta de cortina aberta para se ver
parte final do filme. Pelo basculante semi-aberto da Rua Sacramento um
agrupamento de pessoas assistia trecho do filme. Sem mais nem menos a fita era
interrompida, hora de se vender os deliciosos picolés que lotavam o freezer do
bar. Garotos, em troca do ingresso, percorriam as ruas da cidade segurando uma
tabuleta artisticamente escrita anunciando o nome do filme em cartaz. Saudades
do cinemascope, do operador Geraldo Pereira, do porteiro Dimas Jacaré, do
cinema do Severino, João Marceneiro e Zimbim (José Diomiciano Soares). Faz enorme
falta um centro cultural.
Em 1968 morre o consagrado escritor Lúcio Cardoso que chegou a
afirmar ao “Jornal do Brasil”: “Guidoval é a mais mineira de todas as cidades”.
Esta sentença que nos envaidece é fruto das longas conversas que Lúcio Cardoso
manteve com um de nossos ferreiros, quando por aqui passou.
Seria o ferreiro Sebastião Franco (avô do Dr. Wilton) ou Sebastião
Almeida (pai do caminhoneiro Milim) ou Sebastião Pereira (pai da Eneida do Zim
do Sô Nego)?
Ou seria o Belo que colocava bilhetes na porta do seu
estabelecimento como “Belo mudô, difronte do Trajano, dibaixo do Otaço” ou
ainda “Belo saiu, Belo foi murçá, Belo não demora, Belo vórta já”?
Tempos que não voltam mais.
Encerro a segunda parte deste artigo citando “Esta é a terra
que Deus prometeu e do amor plantastes a raiz” , verso do meu samba “Guido,
este vale é teu”.
(Fim
da segunda parte – publicada no Jornal de Guidoval em Março/2006)
Estamos em “1968” que, de acordo com o
livro do jornalista Zuenir Ventura, é “o ano que não terminou”. O mundo vive
grandes transformações políticas, éticas, sexuais e comportamentais, rebelião
de estudantes em Paris, Primavera de Praga, passeata dos cem mil pela morte do
estudante Edson Luís na UFRJ, prisão dos estudantes da UNE em Ibiúna.
Por alguns centésimos de segundos o atleta José Alan Máximo
(melhor goleiro da história de Guidoval, na opinião de muitos, inclusive a
minha) não consegue se classificar para participar da Equipe Brasileira nas
Olimpíadas no México.
O obscurantismo da ditadura militar edita o AI-5 em 13/12/1968. Em
síntese podia-se decretar Estado de Sítio, recesso do Congresso, Assembléias e
Câmaras de Vereadores. Suspender a garantia de HABEAS CORPUS e direitos políticos
de quaisquer cidadãos. Intervir nos Estados e Municípios. Proibir de freqüentar
determinados lugares, ter a liberdade vigiada. Ou seja, não mais se podia nem
conversar fiado na “ESQUINA”.
A morte, normalmente, traz grande dor. Não foi diferente em
09/12/1969, quando um trágico acidente fez toda cidade chorar a perda de quatro
conterrâneos de uma só vez: Iolanda Bressan da Costa, Nair Bressan da Costa,
Vereador Sebastião Inácio da Costa e Vereador Natalino Dornelas de Oliveira, Presidente
da Câmara Municipal e o principal candidato a prefeito na eleição vindoura.
O regime de exceção não consegue calar a irreverência de alguns
jovens guidovalenses que nos botequins levantavam copos de cerveja e davam
“Viva à Rússia”, como consta na Ata da Câmara de 16/08/1970. Não eram
comunistas nem subversivos, manifestavam insatisfação contra o golpe de 64. Só
isso, mas dedos-duros de plantão denunciavam aos militares qualquer arroubo
juvenil.
Nas eleições
municipais de 15/11/1970 a Professora Carmem Cattete Reis Dornelas foi a
primeira mulher a ser eleita vereadora em nossa cidade. Teve a maior votação
até à época conseguida por um edil. O ingresso na política da nossa grande
educadora foi a forma que ela encontrou de homenagear o marido, Natalino
Dornelas, falecido menos de um ano antes. Por duas legislaturas honrou a nossa
Câmara Municipal com criatividade, dedicação e sabedoria.
No dia 23/03/1971 morre Padre Oscar de Oliveira um dos maiores
benfeitores de nossa terra. Liderou os católicos, participou ativamente da vida
do município. Vieram vários sucessores: Pe. Venício, Pe. João Beentys, Pe.
Cassemiro, Pe. Antônio, Pe. Catarino, Pe. Jorge Passon, Pe. José Carlos
Ferreira Leite, Pe. Semer e Frei Adriano. Todos com obras e realizações, mas
nada que se compare à administração do Paroquiato de Padre Oscar que construiu
a nossa monumental Igreja Matriz de SANTANA e a bela TORRE, a qual batizou de “IMACULADO
CORAÇÃO DE MARIA”.
Uma semana depois, 30/03/71, vereadores enaltecem o sétimo
aniversário da “redentora” de 64. Em Guidoval, desde a extinção do PSD, UDN,
PTB, PR e outros partidos, nossos políticos refugiaram-se na ARENA, legenda
governista.
Aos 84 anos, no dia 02/10/1972 morre Elisa Ribeiro, a querida Vó
Elisa. Por mais de 60 anos fez partos em Guidoval e nas cidades vizinhas,
principalmente em Ubá e Visconde do Rio Branco. Não se sabe ao certo quantos
partos foram feitos por ela, mas pode-se dizer que era raro o dia que não
ajudava mais uma criança a vir ao mundo.
O íntegro
Prefeito Cândido Mendes foi eleito para um mandato-tampão de dois anos que
terminou em 30/01/73. Neste curto espaço de tempo executou várias obras com
destaque para a urbanização da Praça Getúlio Vargas, o calçamento da Rua Belarmino
Campos, a ampliação da rede de esgoto, melhoria no abastecimento d'água e
conservação das estradas rurais. Católico praticante, cursilhista atuante, ajudava
a Paróquia participando de encenações da Semana Santa quando personificava
Pôncio Pilatos. Já no carnaval fantasiava-se em animado folião. Sua paixão por
carros e motores consolidou a fama de um dos melhores mecânicos da região.
Hábil motorista, excelente caminhoneiro percorreu quase todo o Brasil. Leitor
habitual de revistas em quadrinhos, retornava de suas viagens trazendo vários
gibis, abastecendo a minha infância com revistas do “Fantasma, Mandrake,
Manda-Chuva, Zé Carioca e Cavaleiro Negro”. Aproveito este espaço para dizer da
minha eterna gratidão ao fraternal amigo familiar Cândido Mendes.
Na festa de Santana de 1974 recebem o Título de Cidadão
Guidovalense Astolfo Francisco dos Reis e Dr. Jorge Sobral Venâncio, o primeiro
estudante do “Grupo Escolar Mariana de Paiva” a retornar à nossa terra natal
depois de formado para exercer a sua nobre profissão de médico. Na infância,
criou o time de futebol “Getúlio Vargas Futebol Clube”. Guardo dessa época
amigos para a vida inteira. No primeiro confronto esportivo jogou com o
Tarcísio do Rafael Cusati, Fabinho do Zé Estulano, Aurinho e Quinca do Áureo
Ribeiral, Roberto e Gilberto do Geraldo Pinheiro, Teixeirinha e Alonso da D.
Violeta, Dé do Zizinho do Marcílio, Zé Ratinho (sobrinho do Pujonas) e Nélio do
Gil Queiroga.
A idéia, do Dr. Jorge, surgiu num longínquo 15/12/1963 quando o
FLAMENGO sagrou-se mais uma vez campeão carioca. Dirão os torcedores de outros
clubes: Por que intrometer nessa história o rubro-negro? Fácil! “Uma vez Flamengo,
sempre Flamengo” diria a saudosa Nilza Ribeiro, como também toda família de
João Matos, Severino Occhi, Artur Lagartixa, Vianelo Silva, Robert e Marcellus
C. R. Dornelas.
Para mostrar que o torcedor do MENGO é imparcial e justo, tentarei
me redimir lembrando torcedores de outros clubes como o América de Jésus e
Cléber Ribeiro; Bangu do Mundico; Cruzeiro belo-horizontino da família Duzin
Vieira, Antônio e Gonçalo Matos; GALO de Padinha Occhi, Cláudio do Domício, Zé
Júber da Risoleta e Adão Nogueira; Fluminense de Wilson Ribeiro e João Tolentino;
Botafogo da família Pinheiro, Márcio Barbosa, Elzo de Barros e Dr. Jair
Venâncio; Vasco da Gama da família de Adauto Ribeiral, Geraldo do Bar da
Esquina e Oscar Occhi; que tinha um bar, mais conhecido como o “Rei do Bife
Acebolado”, onde na década de 70 podia-se ouvir Odilon Reis ao violino e Sô
Nilo ao violão acompanhando a bela voz da Carminha do Virgílio ou escutar o
Professor Salim recitando “Rapsódia Negra”.
Falando de bife me deu fome ao recordar a delícia da culinária
guidovalense. Nunca é demais lembrar do lombo do Wagner do Bar da Esquina, do
churrasquinho no espeto do bar do Marquinhos do Recanto dos Amigos, do frango
com quiabo do João Vicente, da feijoada do Diógenes, duns torremos no Bar do
Ivo, de um pedaço de frango frito do Canico, galinhada do Jorge do Tilúcio, uma
picanha no Chiquitin, cascudos do Beira-Rampa, depois Beira-Rio da Graça
Campos, o sabor de um cabrito à caçadora da D'Lourdes Ramos, um PF caprichado
da Fatinha, dos pastéis da D. Mimi Ramos, empadão de palmito da D. Iolanda
Fernandes da Silva, do bolinho de bacalhau da Maria do Mazin, cambuquira da
Vovó Jandira, torta de biscoito da D.Tereza do Duzin Vieira ou da macarronada
da D. Tita, minha mãe. Isto sem falar da taioba, angu, jiló e abobrinha. De
aperitivo, uma pinga comprada fiado no Felismino. Para beber, uma cerveja
gelada do Bar do Fiim Kiel ou um abacatinho do Bar do Tarcísio. A sobremesa
pode ser caçarola da Padaria do Edson, canudo da Alice Nogueira, picolé de
amendoim da Irene Avidago Occhi, doce-de-leite mole de Geni Reis Barbosa,
goiabada ou caramelos da D. Lourdes Magalhães Ribeiral, mangada da saudosa D.
Olga Ribeiral Bressan, compotas da D. Ida do Dr. Mário Meireles, brigadeirão da
Maria do Celso Sampaio, cajuzinho de D. Luziinha Rossi ou da Auxiliadora Matos,
brevidades da Mariana Bandeira, bombons da Aparecida do Beijamin,
pés-de-moleque da Tia Feinha mãe do Mundico. Para despedida ou conversa
ligeira, um licor da D. Efigênia Maciel Reis ou um leite-de-onça feito pela
saudosa Terezinha Ribeiro do Paulo Ramos ou então um café de rapadura da
saudosa Vovó Maria José Alves acompanhado dos biscoitos fritos da Vicentina
Marcelo Magalhães.
Algum leitor, recordando-se da avó, tia, namorada, mãe ou esposa,
poderá dizer que deixei de mencionar várias mulheres que são quituteiras
especiais. E eu direi que concordo. A sintética lista foi uma forma que
encontrei de homenagear a todas maravilhosas mulheres guidovalenses.
No dia 06/09/1976 o digníssimo e saudoso Dr. Edgard Reis de
Andrade completava 50 anos de idade. Foi um dos guidovalenses mais ilustres de
nossa história. Ocupou os mais altos cargos da Secretaria de Segurança Pública
de Minas Gerais. Cultivou os amigos de infância e quando retornava a Guidoval
fazia questão de visitar a todos, sempre com um sorriso e abraço carinhoso. Também
angariou novos amigos pelas cidades em que trabalhou, as quais lhe retribuíam a
benemerência com Título de Cidadão, é o caso de Leopoldina e Juiz de Fora.
Casou-se com Therezinha Queiroz Andrade e tiveram quatro filhos: Mª de Lourdes,
Margareth, Fernando e Edson, este um grande violonista, professor da Escola de
Música da Universidade Federal de Minas Gerais. Apresenta-se sempre como Spalla
convidado da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Tem um filho, Edson Scheib,
também virtuose no violino, que gravou o CD “24 Caprichos de Paganini” e
atualmente aprimora seus conhecimentos musicais na Áustria, terra de Mozart.
Estes talentosos músicos são neto e bisneto de João Vieira de Queiroz,
considerado o melhor violonista da história do Sapé e para quem Sô Nilo fez o
choro “Queiroz do Pinho”.
Descendente dos doadores do terreno para a criação da Paróquia de
SANTANA, Luciano Ferreira da Costa teve a feliz iniciativa de criar o Festival
de Batidas, evento que depois, por vários anos, enriqueceu o calendário festivo
de Guidoval. Contou com ajuda de vários conterrâneos, com destaque especial para
Sueli Vieira Gomes e Luiz Fernando Teixeira Albino. O Primeiro Festival realizou-se,
com pleno êxito em 31/10/1976.
Nas eleições municipais de 15/11/1976 apresentaram-se quatro
candidatos a prefeito, todos de prenome José, porém mais conhecidos pelos
apelidos de Teixeirão, Didi, Zequinha e Zizinho que venceu a eleição com 1801
votos, a maior votação já conseguida, à época, por um político em Guidoval.
Falando de ZÉS, eu que sou um filho de José e Maria, lembro de
alguns conterrâneos conhecidos por ZÉ: do Brejo, Manga Rosa, Boióta, Afra,
Bento, Timóteo, Negueta, Balbino, Fendederracha, Vieira, Bonifácio, Firmino,
Pequeno, Braga, Dilermando, Cusati, Albino e também algumas MARIAS: do Pombal,
Lepoldo, Benzedeira, Triste, Caboclo, Tatanita, Sabiá, Pereira.
Em abril de 1.977 surgiu o jornal SACA-ROLHA. O que parecia ser
apenas uma brincadeira, dos jovens Antônio Augusto Rossi (Brito), Márcio Dias,
Edgar Avidago Andrade e Luiz Oliveira, tornou-se um sério (sem ser senil)
porta-voz dos anseios dos munícipes de nossa querida terra natal.
Nestes quase 29 anos de existência honraram as suas páginas
colaboradores ilustres como o Padre Casemiro, os médicos Wilton Franco, Jorge
Sobral Venâncio e Ronaldo Ribeiro dos Santos, os professores Ibsen Francisco de
Sales e Antônio Barbosa, os poetas Zé Geraldo, João Coelho, Zé Francisco
Barbosa e Marcus Cremonese, além do talentoso e jovem cientista Rodrigo
Oliveira.
Ao longo de frutífera existência, o SACA-ROLHA brigou pelo asfalto
ligando Guidoval a Ubá. Condenou o gesto desumano de "marmanjos e
marmanjas" agredindo a um indigente com problemas mentais, o Berto de
Paula. Constatou o mau cheiro nas ruas centrais da cidade. Estimulou o
crescimento do SER 66. Criticou a inércia da AREG. Desfilou no jubileu da então
Escola Estadual Guido Marlière. Elogiou personalidades como a D. Maria
Leopoldo, o Maestro Sô Tute, Dr. Mário Meireles, Urcecino (sacristão), Renato Ramos,
José Bressan, Mirandolino Pinheiro. Enfrentou sem medo a cara fechada de algum
vereador descontente com as notícias veiculadas no jornal. Incentivou o
Festival de Batidas. Lutou pela instalação do Colégio de 2º Grau. Noticiou o
lançamento da Luz Negra devido a deficiência de iluminação nas ruas. Participou
da 1ª Mini Olimpíada Guidovalense. Promoveu Concurso de Contos. Reclamou dos
bois de um delegado "pastando na pracinha". Reivindicou o escritório
da EMATER.
O SACA-ROLHA foi, é e será sempre assim. Veste LUTO com as
famílias quando da perda de um ente querido. Consta do seu obituário, entre
outros, o Sô Marcílio Vieira, Waldemar Rufino (Sô Nego), D. Margarida Geraldo,
D. Alzira de Freitas Vieira, Sô Augusto Pinto, Sô Juquinha de Barros e até fez
uma Edição Especial para Gracinha do Geraldo Franco, o Kôde. Publica os nossos
poetas. Aplaude e divulga nossos músicos e escritores. Acompanha os movimentos
esportivos, principalmente o futebol. Canta parabéns aos aniversariantes. Denuncia
sistematicamente a poluição do Rio Chopotó e abre espaço permanente para o MEG
(Movimento Ecológico Guidovalense).
Muito do que antes era apenas uma pregação cívica do SACA-ROLHA,
hoje é uma realidade. Outras demandas, por enquanto inglórias, continuam em pauta
permanente. Parte da história de um povo é registrada em jornais. O SACA-ROLHA,
mesmo com todas as dificuldades, tem cumprido esta missão. Os nossos parabéns
ao Diretor e Redator Renato Moreira da Silva.
Morre Gumercindo Alves Rodrigues, o Sô Gomes, em 27/06/1977.
Residia à Rua Padre Baião, perto da mina d'água do Pedro Ribeiral. Munido de
martelo, torquês, puxavante, ferradura e cravos, tinha por ofício “ferrar
eqüinos e muares”. Às vezes acontecia do martelo fugir do cravo e acertar-lhe o
dedo, motivo mais que natural para recitar sonoros palavrões, imediatamente
aprendido pela criançada da Rua do Campo.
Outro notável “ferrador de cavalos” é o cavaleiro Zé Bento que
exerce esta profissão em extinção, assim como vão sumindo os alfaiates,
ferreiros, celeiros, mascates e sapateiros. O progresso colaborou para essa
extinção. Sumiram de nossas ruas as mulas do Sô Marcílio, Tatão de Freitas e
Luiz Marinho, o cavalo “Quebra-Coco” do Zé Bressan, o alazão marchador do
Odilon Marcelo, a égua fora-do-prumo do Nicélio, a charrete do Quizin Pinto, o
peão Casanova, o domador de cavalos Manuel Barbosa da Serra da Onça e o
adestrador Custódio Gato.
O Saca-Rolha de novembro de 1977 noticiou o Segundo Festival de
Batidas e a Primeira Mini-Olímpiada Guidovalense que não vingou, não teve
prosseguimento. Uma lástima, poderia ter se transformado em um grande sucesso.
Por esta época não mais se via pelas nossas ruas o Congado do Benedito
Medeiros, a Igrejinha São José, nenhum cinema, o Canário da Terra, tampouco o
burro Piano que por muitos anos serviu com presteza a prefeitura. No dia 1º de
maio de 1978 o Ginásio Guido Marlière comemorou JUBILEU DE PRATA com um desfile
inesquecível. Vingou o ideal do clarividente Professor Ernani Rodrigues. A
programação durou três dias e teve futebol, gincana, baile, churrasco e Festival
de Chopp.
Valho-me dessa ocasião para homenagear aos nossos mestres
lembrando de Nadir Cunto Simões, Eurídes e Élvia Reis Andrade, Carmem Cattete,
Mariana de Paiva, Célia Teixeira Albino, Jesuína Simões de Mendonça, Cecília,
Conceição, Glorinha, Marta e Vésper Vieira, Zilda de Araújo Mendonça, Arlete Avidago
Andrade, Odete e Glória Queiroz, Olga, Zuleika e Marta Ribeiral, Kerma da Cunha
Benini, Eneida Pereira, Graça Bressan Geraldo, Dalva Franco, Inês e Terezinha
Geraldo, Vera Oliveira, Mª de Lourdes Bressan, Luiza Rosa Occhi, Nicolina
Martins de Castro, Ivone Vieira Pereira, Lyra Araújo Porto, Ester Reis,
Dionísia Cardoso Pinto, Maria Marcília Vieira, Neli Marques de Oliveira, Sueli
Vieira Gomes, Ana Marcília Ramos, Maria Raimunda, Soraia Vieira Queiroz de
Souza, Elaine Ramos Vieira Pinheiro, Ibsen Francisco Sales, Joaquim de Freitas,
Evandro Marques de Oliveira, Aristides Rocha, José Carlos Estevão (Carlinhos) e
Renato Moreira da Silva, alguns dos nobres profissionais que consolidaram o
ensino em nosso município.
Muitos professores poderão estranhar a não citação de seus nomes.
Não foi proposital e sim esquecimento da minha fraca memória. Desde já peço desculpas
pelo lapso involuntário. Afirmo a estes mestres que tal fato não acontecerá com
os seus ex-alunos, pois como diz um texto que corre na internet, podemos não
saber o nome das cinco pessoas mais ricas do mundo ou de dez vencedores do
prêmio Nobel ou ainda os quatro últimos vencedores do Oscar, mas ninguém
esquece dos professores que nos ajudaram na nossa formação, dos amigos que nos
apoiaram nos momentos difíceis, das pessoas que nos fizeram e fazem sentir
alguém especial. E depois disse Guimarães Rosa “Mestre não é quem ensina, mas
quem de repente, aprende”.
O ano de 1979 foi fértil na vida de nossa cidade. Em janeiro,
tornou-se realidade o sonho de Vasco Cândido dos Reis, inaugurando-se a
Sociedade Esportiva 66 (SER 66). Nossas crianças não precisavam mais nadar na
Ponte Guarani (Joca), na Cachoeira, nas pedras do Sô Nego ou na Prainha da
Serra da Onça, sujeitando-se a adquirir uma cruel xistosomose. Tínhamos afinal
um clube, fruto da obstinação e muito desprendimento do líder e idealista Vasco
Reis.
No carnaval de 1979 a “Calouros do
Samba” do Tilúcio trouxe para as ruas da cidade enredo denunciando a poluição
do Rio Chopotó que terminava com os versos “Chora, Chopotó/Chora, meu povo /
Nem que seja com lágrimas / Vamos regá-lo de novo.”
Infelizmente versos não regam rios. O jornal Saca-Rolha publicou matéria sobre
a poluição, o Prefeito José Vieira Neto concedeu entrevista à TV Globo sobre o
assunto, procurou insensíveis autoridades estaduais para que providências
fossem tomadas a fim de reabilitar o nosso principal curso d'água, fonte de
vida dagora e futuro. Tudo em vão. Mesmo a luta do MEG parece inútil. O nosso
Rio Chopotó continua morrendo. É preciso urgente fazer um trabalho gigantesco,
autoridades e comunidade, para recuperar os nossos córregos, revitalizar as
matas ciliares, combater as erosões e assoreamento, impedir os desmatamentos
criminosos, fazer parcerias com a Universidade de Viçosa, EMATER, IEF e
Ministério do Meio Ambiente.
Em março de 1979, durante a administração do Prefeito José Vieira
Neto, é inaugurado o asfalto Guidoval-Ubá, realização do então Governador
Ozanan Coelho que ainda contribuiu para outros melhoramentos como a Ponte Guidoval-Rodeiro,
próximo ao encontro dos rios Ubá e Chopotó, o prédio da atual Escola Estadual
Mariana de Paiva, construção das 10 primeiras casas para necessitados na Av.
Sebastião Ignácio da Costa.
O atento jornal Saca-Rolha, nesse mês, tece merecidos elogios ao
Governador pela magnitude da obra. Dr. Ozanan, sempre presente em nossa terra,
além de lutar pela emancipação política, foi um dos grandes benfeitores do
município. Até hoje não fizemos uma homenagem que lhe faça justiça.
Por volta do meio-dia de 26/07/1981, à porta da Igreja Matriz de
Santana, vão chegando jovens, já não tão jovens assim, para uma reunião combinada
dez anos antes. São amigos de infância e juventude, conhecidos como a Turma da Santa Cruz. Foram
os pioneiros a chegar ao topo Serra de Santana. Encontravam-se todos os dias durante
as férias ou nos feriados e fins-de-semana. Conversavam, filosofavam depois
saiam às ruas em serenatas às amadas e aos amigos.
O líder intelectual e espiritual do grupo era o Dr. Wilton Franco
autor da linda bandeira do município. Médico, humano e humanista tinha sempre
uma palavra amiga, um conselho ou um consolo para os momentos de angústia e aflição.
Participava de todos os movimentos culturais, sociais e esportivos da cidade.
Menos de 11 anos depois desse encontro a morte nos roubou o Dr. Wilton. DEUS,
Senhor de tudo, também tem as suas preferências e quis a sua companhia mais
cedo.
Na festa de Santana de 1982 teve o lançamento do livro “Saudade
Sapeense” contendo crônicas, poemas, contos e poesias de guidovalenses. Ao
coquetel oferecido no Salão Paroquial compareceram os escritores e a sociedade
em geral. No livreto, à página 52 podemos ler o Hino de Guidoval composto por
Plínio Augusto de Meireles e Áureo Antunes Vieira.
Somos uma terra hospitaleira e pródiga em abrigar imigrantes. Os
estrangeiros sempre foram bem-vindos. Primeiro chegou Marlière e a sua
comitiva, depois dele muitos outros, vindos principalmente de Portugal e da
Itália. Vou relembrar algumas famílias: Avidago, Ribeiral, Bressan, Occhi,
Candian, Fouraux, Quinelato, Urgal, Pinto, Coelho, Lopes, Souza, Silva e
Vieira.
Alguns viraram comerciantes, industriais, prestadores de serviço,
muitos foram para o campo trabalhar a terra, produzir o alimento nosso de cada
dia. São na maioria pequenos agricultores, devido a divisão de terra em
heranças sucessivas. Hoje o município é praticamente dividido em pequenas
glebas, minifúndios para agricultura de subsistência.
Poucos chegaram a fazendeiros como João Germano, Horácio, Antenor
e Afonso Bressan, Astolfo Mendes de Carvalho, Antônio Pacheco Ribeiral,
Cristiano Alves, Geraldo Cândido, Alaor Martins, Jacinto Pereira na Serra da
Onça, Família Lopes do Córrego do Rosa, Família Aleluia do Ribeirão Preto,
Família Coelho da Boa Esperança, Família Amaral da Boa Vista e o saudoso e
bem-humorado Tito Dilermando (Félix Magalhães), de quem ouvi divertidas histórias.
Morre o Prefeito Eduardo Nicodemo Occhi no dia 06/05/1983 e o
Governador Ozanan Coelho em 30/03/1984. Guidoval começa a se empobrecer politicamente.
No dia 21/04/1985 morreu Tancredo Neves e o sonho da Nova
República. O Saca-Rolha nada noticiou, pois não circulava desde 1980 só
voltando a ser impresso 15 anos depois.
No dia 20/04/1988 um vereador na nossa Câmara Municipal requereu
moção de aplauso a Fernando Collor, Governador de Alagoas, por seu combate à corrupção
e aos marajás de seu estado. O tempo, senhor da razão, provou que era uma farsa
o governante alagoano.
No último dia de 1988 terminava o terceiro mandato do empreendedor
Sebastião Cruz à frente da prefeitura municipal. Todo prefeito eleito
representou ou representa a vontade do povo, mesmo que discordemos do resultado
eleitoral. De todos os políticos o que mais representou os anseios da população
foi Sebastião Cruz. Foi o maior realizador de obras no município. Revolucionou
a administração pública em nossa cidade.
Filho de lavradores, ficou órfão aos 12 anos. Só foi aprender ler
e fazer contas aos 15 anos de idade, mesmo assim porque pagou um professor
particular para lhe ensinar em período noturno, pois não havia escolas no meio
rural.
Iniciou-se na atividade política em 1945, na campanha de Dr.
Ozanan Coelho para Deputado Estadual. Depois se elegeu Vereador duas vezes para
a Câmara Municipal, a primeira e segunda legislatura.
Sofreu a primeira derrota eleitoral sendo candidato a
Vice-Prefeito da chapa do Prof. Ernani Rodrigues, quando foi vitorioso o
prefeito Otaciano da Costa Barros.
Em 1958 é eleito Vice-Prefeito de Eduardo Nicodemo Occhi. Em 1962
sofre a segunda derrota política, perdendo a eleição de prefeito para Francisco
Moacir da Silva.
Depois foi prefeito por três mandatos (01/02/67 a 31/01/71,
01/02/73 a 31/01/77 e 01/02/83 a 31/12/88) ficando quatorze anos à frente da
prefeitura e ainda conseguiu fazer os sucessores em três mandatos. Chegou a ter
tanto prestígio político que os adversários não apresentaram candidato nas eleições
municipais de 1972, quando concorreu sozinho à prefeitura.
Devido ao parco espaço no jornal só citaremos algumas de suas
principais obras: Edificou os prédios da Prefeitura Municipal, do Clube
Recreativo Álbero Cattete Campos e da Delegacia e Quartel de Polícia; Urbanizou
a Praça Santo Antônio e do Rosário; Construiu diversas escolas rurais, 24 casas
populares, a Ponte “Deoclécio Cattete”, o Posto de Saúde "Dr. Mario
Geraldo Meireles" (Fazenda do Pombal), a Biblioteca "Prof. Ernani
Rodrigues" e o Matadouro Municipal; fez calçamento e rede de esgoto das
ruas Governador Valadares, Sete de Setembro, Padre Vicente, Antero Furtado de
Mendonça, 5 de julho, Cel. Joaquim Martins, Vereador João Cezar de Matos,
Astolfo Mendes de Carvalho, Vereador Manoel Reis Moreira, Cesário Alvim, São
Sebastião, Otávio Ramos, Praça Major Albino, Praça Sant'Ana, parte da Padre
Baião e Avenidas Padre Sinfrônino de Almeida e Antônio Luiz da Silva Cruz;
realizou as obras das Escadarias Dilermando Teixeira Magalhães e Amaro Ramos
além do Lactário "Natalino Dornelas"
Os inimigos apelidaram-no de Caboré. De limão fez limonada.
Transformou o pseudônimo, que tinha o objetivo de humilhá-lo, em uma logomarca
das suas campanhas eleitorais.
Em 27/02/1990, uma terça-feira de carnaval, desfila pela primeira
vez pelas nossas ruas a “Banda de Cá” idealizada pelo Dr. Jorge Sobral
Venâncio, com os músicos Luiz e Aloísio Pinheiro, Jader Mendes, Fenderracha,
Chicão do Lilico, Jorge, Tavinho e Tilúcio, é claro! Acompanharam a Banda
várias pessoas caracterizando fatos em evidência na política, no dia-a-dia ou
na TV, como os personagens da novela “Tieta” sendo representados por Mª de
Lourdes Ribeiral Vieira (Perpétua), Sueli Vieira (Cinira) e Marcílio Vieira (Zé
Esteves). No meio da folia, a folclórica Carminha Alexandre. Participaram da
Banda: Elzo, Landinho, Zé Geraldo, Cidinho e as filhas Érica e Elaine,
Juscelino, Rafaela da Maria do Zimbin, Ludmila Matos, Patrícia da Marília da
Dona Araci, Fernanda do Custódio da Farmácia, Marley e as filhas Monique,
Marcela e Marina, Tito, Titita e filha Talita, Tavinho do Jair, Isabela da D.
Conceição, Luciano Ferreira, Graça Geraldo e a filha Mariana, Marcelo do João
do Parquinho, Conceição Áurea e filho ao colo, Doidinho, Pedro Cid, Maria do
Domício, Wilton, Robertinho do Sô Nego, Ildefonso, Ângela, Meire e Zezé Vieira,
Thaís, Nathália e Fernanda, netas do Zizinho do Marcílio que da janela de sua
casa observou o cortejo passar. Era o seu último carnaval. A terrível doença já
minava a sua energia.
Em 06/07/1990 morre o generoso Prefeito José Vieira Neto depois de
uma cirurgia para retirada do esôfago.
Prestativo, caridoso era querido e admirado pelos conterrâneos,
principalmente os mais humildes a quem sempre estava pronto para ajudar. Sua bondade
não tinha limites.
Era um lutador, sobrevivente dos vários contratempos da vida. A
mãe, Belminda Queiroz Vieira, faleceu durante o seu parto. Órfão, desde o
nascimento, foi criado pelo dedicado pai Marcílio Vieira. A empregada da casa,
num descuido, esqueceu um resto de soda cáustica ao alcance da pequena criança
que, aos dois anos, ingeriu um pouquinho, o suficiente para corroer e estreitar-lhe
o esôfago, problema que carregou pelo resto da vida. Engasgava com um caroço de
feijão. Aprendeu a cavalgar com cinco anos e com menos de dez uma vaca matou a
égua em que estava montado.
Aos 31 anos, andando de bicicleta, desequilibrou-se e caiu de cima
do Pontilhão do Henrique de Almeida, na Fazenda do Pombal. Por sorte e
instinto, agarrou-se aos dormentes da estrada de ferro, balouçando o seu corpo,
vindo a cair fora das pedras, o que seria fatal. Neste local, já houve queda de
vários animais, todos morrendo.
Boiadeiro, açougueiro, comerciante, caminhoneiro viajou o país de
norte a sul, muitas vezes junto com o fiel compadre Anito Siqueira.
Por último, tornou-se funcionário da prefeitura e de tanto fazer
caridade, a população estimulou-o a ser candidato a vereador. Nas eleições de
1972 obteve a maior votação para vereador na história de Guidoval. Foram 556
votos, 25% dos votos dados ao Prefeito eleito Sebastião Cruz, que contabilizou
2194 votos.
Nas eleições de 1976 foi intimado pela população a candidatar-se a
prefeito. O Professor Antônio Barbosa criou o slogam “O POVO QUER”. Obteve
outra votação consagradora, alcançou 1801 votos, numa eleição com quatro fortes
candidatos a prefeito.
Conciliador e pacificador, administrou o município buscando a paz
entre as correntes políticas adversárias.
Realizou grandes obras durante a sua gestão: Construção do Prédio
da Escola Estadual Mariana de Paiva, Escola Municipal "D. Leonor de Araújo
Porto" no Ribeirão Preto, Prédio da Administração Municipal "Cid Vieira",
Quadra de Esportes "Natalino Dornelas" e diversas casas populares na
Vila Trajano; asfaltamento das ruas Capitão Antônio Ribeiro, João Januzzi, Sete
de Setembro, São Vicente de Paulo, Santa Cruz, Padre Vicente e Governador
Valadares, das Avenidas Padre Sinfrônino e Antônio Luiz da Silva e Cruz e das
Praças Getúlio Vargas, Santo Antônio, Major Albino e Santana; parceria na
construção da Ponte Guidoval-Rodeiro; instalação de energia elétrica e
iluminação pública na Várzea Alegre, na Comunidade de Santa Bárbara e Ribeirão
Preto; calçamento e rede de Esgoto da Rua Padre Baião, 13 de maio e
prolongamento da Av. Antônio Luiz da Silva Cruz; Reservatório de Água na Rua do
Alto e Poços Artesianos no Clube 66 e Rua Belarmino Campos; Reforma de várias escolas
rurais e da Escola Municipal "Cid Vieira"; Instalação do Escritório
da EMATER; Sistema de Recepção de TV (antena parabólica).
Como prefeito, colaborou com todos os eventos culturais durante
seu mandato como: Construção e Inauguração do Clube 66, Sede da Corporação
Musical Belarmino Campos, Festival de Batidas e Lançamento do Livro Saudade
Sapeense.
Durante o seu mandato teve a felicidade de inaugurar o asfalto
Guidoval-Ubá, obra conseguida através do admirável Governador Ozanan Coelho.
Sorte de José Vieira Neto e de toda população guidovalense que não precisou
mais comer poeira ao por o pé na estrada. Isto se os políticos atuais e futuros
não deixarem a estrada acabar. Zizinho do Marcílio governou Guidoval por dois
períodos, vindo a falecer antes de completar a metade do segundo mandato.
Uma das manias nacional é o futebol, em Guidoval também. Uma das
páginas de glória de nossa história é o aguerrido Cruzeiro Futebol Clube. O
ápice foi conquistar o campeonato da Liga Atlética Ubaense em 1990/1991, mas a
história futebolística do município começou muito tempo antes.
Em 1922, uns rapazes que construíam a estrada de terra, à
picareta, de Guidoval a Ubá criaram um time que levou o nome do fundador;
“Antônio Joaquim Carneiro Futebol Clube”. Belarmino Campos jogou neste time.
Mais tarde, fundou-se o Sapeense. O campo localizava-se no Largo, hoje a Praça
Santo Antônio.
Depois
o campo passou para a Rua do Alto, onde é hoje a Praça do Rosário, devida a uma
Igreja do Rosário, que nunca chegou a ser totalmente construída. Como nesse
local existia um grande cruzeiro e de tanto se falar que iam jogar lá no
cruzeiro, o nome pegou e o time passou a se chamar Cruzeiro, nascido
extra-oficialmente em 23/06/1943. Os fundadores foram Geraldo Luiz Pinheiro,
Walace Azevedo Costa, Severino Occhi, José Alves de Freitas, Odilon dos Reis,
Antônio Euzébio Pereira, Astolfo Mendes de Carvalho e outros. Em 30/03/1952
registrou-se o Estatuto, tendo como presidente o fazendeiro Antônio Ribeiro
Meireles, bisavô do promissor craque Hugo que é filho do Emiliano que faz um
excelente trabalho nas categorias de base do Cruzeiro.
O
maior goleador do Cruzeiro foi o Tuninho Estulano. Para se ter uma idéia,
contou-me o Mundico, o Cruzeiro foi lanterna de um campeonato com 18 clubes e
mesmo assim o Tuninho alcançou a artilharia da competição. Ele guarda a medalha
desta façanha.
Além
do fantástico título de 1990, o Cruzeiro foi campeão em 1952 com os aspirantes
na Liga Atlética Riobranquense e vice-campeão com a equipe principal no Torneio
Regional. Conta-se que o juiz prejudicou o nosso clube na final contra o Aymorés
de Ubá, que teve confirmado um gol irregular. Na linguagem popular: FOMOS ROUBADOS.
Como consolo ganhamos o troféu da TAÇA DISCIPLINA por não ter nenhum jogador
expulso durante o campeonato.
Quando pedimos uma seleção do Cruzeiro, de todos os tempos, são
sempre lembrados: Zé Alan, Domício, Saninho, Zé do Juca, Paulo Pereira, Áureo
Ribeiral, Moacir Gonçalves, Zequinha do Casin, Elier, Lilico, Vítor, Zé do Gil,
Oséas, Saint'Clair, Landinho Estulano, Silvestre, Brás do Zé Firmino, Gonzaga
do Duzin, Cândido do Zico Didu, Jorginho Cariá, Tuninho Estulano, Etiene, Luiz
Tavares, Adão do Juca.
O
melhor juvenil, em minha opinião, jogava com Vianelo, Luiz Pinheiro, Zé Maria Matos,
Célio Teixeira Albino, Zé Américo, Dilermando Ribeiral, Zé da Conceição, Lucas
de Freitas Vieira, Oscar Matos, Luiz Antônio Ribeiral, Cidinho Vieira,
Chiquinho Matos e Eloir Máximo.
Em
31/12/1992 o Prefeito José Pinto de Aguiar, o Zequinha do Casin, termina o mandato
iniciado por Zizinho do Marcílio.
Zequinha
que tanto lutou para governar a prefeitura, acabou conseguindo por meios que
NÃO desejava e tampouco imaginara. Com retidão, seriedade e controle das finanças
públicas, honrou o mandato conquistado junto com Zizinho.
Num
mandato pequeno, pouco mais de dois anos, realizou importantes obras para o
município. Recordo-me do calçamento e repavimentação asfáltica de diversas
ruas, Ampliação do Cemitério Municipal, construção de casas populares para famílias
de baixa renda, extensão de redes de esgoto e elétrica, construção de pontes,
bueiros e Escolas Rurais, Instalação de Iluminação em Luz Mercúrio
na Praça Santo Antônio, Amplificador para a Torre de Repetidora TV, além de
vários outros melhoramentos.
Na
parte cultural fez aquisição de acervos bibliotecários, palanque para festividades
culturais, incentivo aos compositores e cantores da terra, desfile dos alunos
das Escolas Rurais no Dia 7 de Setembro, com uniformes Novos, adquiridos pela
Prefeitura Municipal.
No
dia 01/01/1993 o Prefeito Élio Lopes dos Santos inicia o seu governo. Eleito
com 2563 votos impingiu a maior derrota eleitoral ao grande líder político Sebastião
Cruz. Os adversários do Élio até hoje não sabem de onde ele tirou tantos votos.
Élio é atualmente, de novo, o prefeito da cidade. Vamos dar tempo ao tempo para
falar das suas administrações.
No
mês de setembro de 1993 chega para dirigir a Paróquia de Santana o nobre Frei
Adriano. No dia 25 morre o grande líder político Francisco Moacir da Silva. Uma
verdadeira multidão seguiu o enterro do chefe político do antigo Partido
Republicano. Guidoval estava ficando cada dia mais pobre de verdadeiros
líderes.
Em
janeiro de 1996 morre Sebastião Cruz. Guidoval estava ficando chata para ele.
Perdera familiares, companheiros, amigos e adversários. Aos 85 anos de idade
parte para nova morada, junto ao Criador. O povão acompanhou o corpo do
guerreiro CABORÉ ao nosso campo santo.
Diz
o poeta Marcus Cremonese em “De como eu
amo uma cidade”: “Se tem festa, Guidoval é festa. / A igreja abriga no seu
seio / todo esse povo que não se esquece de Deus. / Enquanto isso a bandinha lá
fora / suspira dobrados reluzentes” ou ainda “se a morte rouba / um de seus
filhos, todos choram / a perda do irmão que se foi” , poema que sintetiza a
nossa alma generosa.
Encerro
esta série de artigos lembrando dos versos cantados no Congado do Benedito
Medeiros “Oh! Sinhá SANTANA! Tua casa
cheira! Cravo e Rosa, olê lê! Flor de laranjeira!” e pedindo a nossa
Padroeira para nos proteger hoje e sempre!
(Fim da
terceira parte – publicada no Jornal de Guidoval em 30/03/2006)