Um cidadão em busca de
cidadania
Sem o
vigor da juventude, aos 63 anos de idade já não tem mais a altivez de um rei ou
o corpo atlético de um guerreiro africano. Seus ancestrais vieram para o Brasil
em navios negreiros, sequestrados quem sabe da nação Cabinda, Benguela e Jêje;
do povo Nagô ou da etnia dos Bantos de Angola, negros vindos do Gongo e da
Guiné.
Não
sofreu a injúria da escravidão imposta aos seus antepassados, mas padeceu às
suas consequências, nascendo em berço humilde, sem recursos para custear-lhe os
estudos, passaporte de um futuro melhor.
É
raro vê-lo, atualmente, andando por nossas ruas e quando o faz apóia-se num
cajado que não chega a ser um báculo e mais parece uma bengala a lhe servir de
porrete para se proteger dos cães vadios que infestam a cidade.
Na
juventude, o porte físico privilegiado, quase dois metros de altura,
assegurou-lhe o ingresso na Polícia
Militar de Minas Gerais, destacando-se no atletismo ao ganhar várias
competições em diversas modalidades como 100 e 200 metros rasos, revezamento
4X100, Arremesso de Peso, Lançamento de Disco, Dardo e Martelo.
Em
1968 a Confederação Brasileira do
Desporto, presidida na época por João Havelange, realizou na cidade de
Ipatinga provas eliminatórias para as Olimpíadas
no México. Patinou na largada da corrida, perdendo preciosos centésimos de
segundo que lhe garantiria vaga na equipe brasileira. A mão torta do destino
negou-lhe galgar os degraus da fama, ocasião em que Nelson Prudêncio ganhou uma
medalha de prata no Salto Triplo.
Tivessem
os deuses do Olimpo laureado a sua carreira com conquistas, títulos, prêmios e
fortuna, muitos dos que hoje lhe viram as costas, seriam os primeiros
bajuladores.
Aos
16 anos, em 1958, tornou-se goleiro titular do Cruzeiro, defendendo o nosso time por mais de 23 anos, até 1981.
Evitou derrotas humilhantes, colaborou com vitórias inesquecíveis, fazendo
defesas espetaculares, agarrando chutes indefensáveis em saídas arrojadas e
corajosas. A sua reposição de bola era um contra-ataque, com chutes de
bate-pronto atravessando toda extensão do campo, colocando nossos atacantes à
frente do gol adversário.
Jogou
em grandes equipes da região como o Nacional
e Sport de Visconde de Rio Branco, Manufatura
de Cataguases. Consagrou-se como
campeão municipal pelo Boa Vista (Lagartixa), sendo o goleiro menos vazado da
competição.
Hoje
comanda, na Rua do Alto, um modesto time com o poético nome “Assim somos nós”, que serve para atrair
a atenção dos jovens para o esporte ao invés das drogas.
Numa
final da década de 50, ainda inexperiente, começando a difícil carreira de
goleiro, falhou num gol marcado pelo Itararé, numa sensacional final de
campeonato. Quiseram pôr toda culpa da derrota nele, assim como fizeram com o
grande goleiro Barbosa em 1950. Esquecem esses críticos que ERRAR É HUMANO, ainda mais jogando na
difícil posição onde nem grama nasce. E depois o Itararé já havia vencido o Cruzeiro
dentro do nosso campo e contava com craques como Jarbas, Genaro, Binha e
Conrado. Perdemos porque o adversário era melhor.
Contou-me
que a sua melhor partida foi contra o 1º
de Maio que ganhou do Cruzeiro dentro do “Ninho das Águias” por 3 X 0 e no match de volta em Miraí a
expectativa era que seríamos massacrados. Pois bem, naquela tarde uns dos
ídolos do futebol que guardo da infância, fechou o gol, pegou tudo, até
pensamento e o jogo terminou em 0 X 0, um empate com sabor de vitória.
Nasceu
em 20/07/1942 no distrito de Diamante. É o filho mais velho dos saudosos
Antônio Máximo e Alzira Gomes. Refiro-me a José
Alan Máximo, o ZÉ ALAN , um
cidadão em busca da cidadania guidovalense.
Espero
que no próximo 26 de julho, na FESTA DE
SANTANA, um vereador inspirado lhe dê o ”Título de Cidadão Guidovalense”, é o mínimo que podemos fazer a
quem tanto defendeu as cores alvinegras do nosso glorioso CRUZEIRO FUTEBOL CLUBE.
escrito por Ildefonso DÉ Vieira
(publicado no JORNAL DE GUIDOVAL – Março/2006)
Nenhum comentário:
Postar um comentário