quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Comemorações - Dia do Médico Veterinário



Comemorações - Dia do Médico Veterinário

Durante as comemorações do Dia do Médico Veterinário, o Conselho Regional de Medicina Veterinária – MG (CRMV-MG) homenageou profissionais que se destacaram no exercício da profissão durante o ano, assim como os que completaram 50 anos de formados em 2015.

Dentre os profissionais homenageados pelos 50 anos de formados, temos dois guidovalenses, os conterrâneos Dr. Plínio Augusto de Meireles e Dr. Ronon Rodrigues. Outro homenageado foi o Dr. Jorge Rubinich, nascido na vizinha cidade de Rodeiro.

O Dr. Jorge e Dr. Ronon ainda foram destaques como professores que foram, além de o primeiro ter sido presidente do CRMV-MG e também do Conselho Federal de Medicina Veterinária, e o segundo ainda é diretor de um importante Laboratório de Análises da Qualidade do Leite (LabUFMG).

Em Cerimônia Solene o Dr. Nivaldo da Silva, Presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais, entregou um Certificado e uma Medalha aos homenageados.

O evento aconteceu na sexta-feira (11), no auditório do CREA-MG, em Belo Horizonte.

A Solenidade contou com a participação de diversas autoridades, dos quais compuseram a mesa João Reis Cruz, secretário de Estado de Agricultura, Renato Lima Santos, diretor da Escola de Veterinária, Rubens Soalheiros Matos, chefe da Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Estado de Minas Gerais e o deputado federal e médico veterinário Eros Biondini.

Na abertura do evento, o presidente do CRMV-MG, Professor Nivaldo da Silva, destacou o crescente reconhecimento e importância que a Medicina Veterinária assumiu junto à sociedade. “Foi grande a evolução da profissão desde o surgimento dos primeiros registros. O médico veterinário passou a ser reconhecido e, principalmente, valorizado, não só como o ‘médico dos animais’, mas como um dos principais responsáveis pela quantidade e qualidade dos produtos agropecuários, que hoje representam 40% do PIB do planeta.”

O presidente do Conselho ainda destacou a inserção da mulher na Medicina Veterinária, que, segundo ele, é crescente, sendo evidenciada pelos números de inscritas no CRMV-MG, nas salas de aulas das Universidades e em todos os congressos dos quais participa.   

Homenageados

Na cerimônia, 22 profissionais da Medicina Veterinária foram agraciados com a homenagem Profissionais Destaque 2015, pelo trabalhado desenvolvido na promoção da profissão.

Em nome dos homenageados, o médico veterinário e conselheiro do CRMV-MG, Affonso Lopes de Aguiar, discursou sobre a relação entre os homens e animais e a importância que cada um tem para com o outro. Aproveitou o momento para falar sobre o papel do Médico Veterinário junto à sociedade e o quão crucial é que os profissionais conheçam e invistam em suas habilidades, para assim prestar um melhor serviço.

O médico veterinário Rômulo Cerqueira Leite, titular do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais e recém-empossado pela Academia Brasileira de Medicina Veterinária foi o profissional homenageado como Destaque Nacional, pelos seus serviços prestados a Medicina Veterinária e à população.

A Solenidade ainda contou com a homenagem do CRMV-MG aos profissionais que em 2015 completam 50 anos de formados.

Na oportunidade, José Rodrigues Figueiredo, um dos homenageados, relembrou as histórias dos colegas de turma, ressaltando o companheirismo.

 Destacou ainda a importância da Medicina Veterinária no contexto do agronegócio nacional, principalmente na área de fiscalização agropecuária, e avisou aos profissionais mais novos que mesmo tendo 50 anos de formados, os homenageados ainda têm muito a contribuir com o desenvolvimento da Medicina Veterinária.

Representantes de diversas entidades ligadas ao agronegócio compareceram ao evento, como a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Universidade Federal de Juiz de Fora, Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais, Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais, Associação de Avicultores de Minas Gerais, Instituto Mineiro de Agropecuária, Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Sindicato dos Médicos Veterinários do Estado de Minas Gerais Assembleia Legislativa de Minas Gerais, entre outras












quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Um brinde às pessoas de bem do nosso BRASIL.

Um brinde às pessoas de bem do nosso BRASIL.

Ontem, à noite, meu iPad 2 apresentou um blecaute (blackout). A tela ficou escura. Ao apertar o HOME dava um pequeno clarão de milésimos de segundo e tornava a escurecer a tela.
Hoje, a minha caminhada matinal foi ir até à Avenida Francisco Sales,  507 (Espaço Multiserviços Floresta – autorizada da Apple para manutenção dos seus produtos).
O técnico que me atendeu nem olhou direito o aparelho e pela história que eu contei ele me disse “tem que trocar o display”. Nós, oficina autorizada não fazemos esta troca. Neste caso, a Apple fica com o seu aparelho e lhe dá outro novo (???) com as mesmas características. E o preço é de R$1.397,00 (Hum mil, trezentos e noventa e sete reais).
 Aqui faço o primeiro comentário pessoal “o meu iPad 2 foi comprado em 2011. Será que a Apple ainda tem aparelho NOVO desta época. Encerro este meu primeiro comentário”.
Disse ao técnico que no meu iPad tem vários livros, músicas, fotos, vídeos e APP’s instalado. No que ele me questionou “se não faço backup?”. Respondi que “faço sim, mas não todo dia. Assim sempre ficará faltando alguma coisa no caso de uma restauração”.
A outra solução que o técnico da Espaço Multiserviços Floresta me ofereceu foi ligar para Apple em São Paulo, no telefone 0800 761 0880 que eles orientariam como trocar só o display.
Foi o que eu fiz ao chegar em casa. Liguei para a Apple. Fui educadamente atendido, mas não resolveram o meu problema. Uma das soluções é que eu teria que ir ao Rio de Janeiro que lá tem uma oficina autorizada que faz a troca do display. Disse-me que Apple tem serviço de coleta, pelos Correios, para Iphone e iPod, mas ainda não tinha uma embalagem apropriada para serviços em iPad. Estava em estudos, pela Apple, este tipo de atendimento.
Aí o jeito, uma vez que não tencionava perder o conteúdo do iPad, foi recorrer ao pessoal que conserta telefones, tablets, ipads, etc...
E  nisto o GOOGLE É CAMPEÃO para localizar pessoal que dá manutenção em qualquer coisa, do enxó ao avião.
Faço o meu segundo comentário. Os técnicos, tanto o daqui de BH, quanto o da Apple em São Paulo falaram que se eu fizesse o serviço por pessoal não autorizado eu não teria depois direito à troca do aparelho. Senti, esta observação, como um tipo de ameaça e fiz questão de expor a minha opinião ao atendente de São Paulo. Disse mais. Parece que a intenção da Apple é recolher o aparelho e vender os últimos lançamentos. Encerro este comentário.
Volto ao assunto. Anotei telefone e endereço de quatro técnicos que fazem este tipo de serviço.
Liguei para o primeiro RG TELECOM, telefone 3568-6567, situado na Rua Rio de Janeiro, 462, salas 1007 / 1008, encostado na Praça Sete. A recepcionista disse que o serviço ficaria em R$350,00.
No segundo telefonema o técnico me disse que o serviço ficaria em R$450,00 se fosse a troca do display, e o preço mínimo para atendimento, se fosse alguma coisa mais simples era R$270,00.
O terceiro telefonema foi para um pessoal que trabalha dentro do Shopping Oi, na Avenida Oiapoque. O preço era de R$490,00.
Levei o aparelho ao RG TELECOM. Expliquei toda a história. A recepcionista levou o aparelho ao técnico. E menos de 2 minutos depois ela voltou com o iPad funcionando perfeitamente.
E sabe quanto eles cobraram? NADA. Nenhum centavo. NADA. NADA. NADA.
Ainda tem gente honesta no nosso país. Aliás, é o que mais tem. Não fossem os alguns (ou muitos) políticos, agentes públicos, empresários desonestos, corruptos e corruptores, poderíamos nos UFANAR DA NOSSA PÁTRIA.
Para o pessoal da Oficina da RG TELECOM levarei um vinho honesto.
Terceiro e último comentário. Se o atendente da autorizada da Apple, na Avenida Francisco Sales - 507, tivesse um pouquinho de boa vontade, de interesse, profissionalismo, com certeza teria resolvido o meu problema, que deveria ser bem simples, pois o técnico da RG TELECOM gastou menos de 2 minutos para solucioná-lo. Vou ligar para Apple de São Paulo e relatar todo o ocorrido. O consumidor merece mais respeito.
Um brinde às pessoas de bem do nosso BRASIL.



terça-feira, 15 de setembro de 2015

José Vieira Neto (Zizinho do Marcílio) – 90 anos

José Vieira Neto (Zizinho do Marcílio) – 90 anos

Há 90 anos atrás, em 15/09/1925, nascia o meu pai José Vieira Neto, mais conhecido por Zizinho do Marcílio.

Tenho vários motivos para me orgulhar dele. Um deles foi a determinação de meu pai para que eu estudasse. Levou-me para fazer concurso no Colégio Agrícola de Rio Pomba, onde ingressei em 1965 e formei-me em Técnico Agrícola em 1971.

Dados biográficos sintetizados sobre o meu pai eu já coloquei no Site de Guidoval (http://www.devieira.com.br/guidoval.com/gzizinho.htm).

Assim vou apenas relembrar alguns causos acontecidos com o meu pai, o seu bom humor e as tiradas espirituosas.

O saudoso Raymundo Francisco, o Tilúcio, amigo da nossa família, todos os dias passava na nossa casa para um cafezinho e principalmente uma prosa. Certa vez disse em tom valente “agora no Bar Esquina, não deixei por menos e falei poucas e boas para o fulano”. Meu pai retrucou “Você falou ou Pensou?”. Tilúcio que não sabia mentir disse “bom, falar, falar, eu não falei, mas que eu pensei, isto eu pensei”.

Em 1972, papai foi candidato a vereador, sendo eleito com a maior votação proporcional da história do nosso município. Um correligionário do papai querendo demonstrar prestígio alardeou “Sô Zizinho,  eu sei onde tem 250 votos certo, mas certo mesmo”. Papai respondeu “Uai, então você é que tem que ser o candidato”.

O Geraldo da Isolina do Tão, quando meninote, trabalhou no açougue do meu pai, que o considerava como parte da nossa família. Pois bem, o Geraldo gostava de jogar futebol. Foi beque do Cruzeiro, formou zaga com o Moacir Gonçalves. Geraldo também dava as suas botinadas nos times da zona rural. Uma ocasião disse ao meu pai. “Sô Zizinho fizemos uma partida muito boa, mas perdemos por causa de um gol bobo”. De bate-pronto, papai rebateu “porque vocês não fizeram também um gol bobo neles?”

Quando solteiro morei numa república na Rua Célio de Castro, Bairro Floresta, em BH. Meu pai estava na capital, foi me visitar e depois me deu uma carona. Eu querendo demonstrar que sabia andar na cidade indiquei-lhe um caminho que descia a Rua Januária, pegava um beco e passava por debaixo do Viaduto da Floresta. Acontece que era princípio de noite, hora do rush, trânsito embananado. Ficamos um tempo presos no engarrafamento. Foi aí que o meu pai me disse “Meu filho, se atalho fosse bom ninguém fazia estradas”.

Papai, sabendo do meu namoro sério com a Lourdes perguntou-me quando eu pretendia casar. Respondi-lhe que a situação estava difícil, precisava juntar dinheiro para comprar apartamento, móveis, eletrodomésticos. Foi então que ele me disse “se você for esperar ter condições financeiras para casar, você não vai casar nunca.

Todo ano, desde 1.975, eu fico sem ingerir bebidas alcoólicas durante a quaresma. De quarta-feira de Cinzas ao Domingo de Ramos, são 40 dias. Até o sábado de Aleluia são 46 dias. Papai sabendo deste meu (des)propósito aconselhou-me “porque você não faz o contrário,  bebe durante a Quaresma e fica o resto do ano sem beber?

Quando avisei ao meu pai que ficaria noivo da Lourdes e pretendia casar em breve, ele me alertou “não case por obrigação ou sentimento de gratidão por tudo que a Dona Lourdes Ribeiral já fez por você e pela nossa família”. Respondi-lhe “pode ficar sossegado, é amor mesmo o que eu sinto pela Lourdes”.

Recém-casado, morei no Bairro Califórnia, saída de BH para Brasília. A Lourdes trabalhava no Banco Real acordava muito cedo para pegar ônibus e ir trabalhar na Praça Sete. Papai vendo a luta da Lourdes disse a ela “se o meu filho não tinha condições de lhe dar conforto não deveria ter casado”.

Em Guidoval têm-se a mania de zombar dos adversários políticos chamando-os de “sabucão” quando perdem uma eleição. Meu pai, no seu discurso de posse, no segundo mandato em 01/01/1989 lembrou aos presentes deste “Bullying político”.  Disse que algumas vezes recolheu sabugos que seus companheiros de partido deixavam na porta dos adversários. Dizia que ganhar uma eleição já era muito bom, não precisava humilhar.

A poluição do Rio Chopotó rendeu samba-enredo da Agremiação Calouros do Samba, notícias no Jornal Saca-Rolha e Jornal de Guidoval. Numa dessas secas bravas e de grande poluição do nosso rio uma TV de Juiz de Fora veio até a nossa cidade e fez uma grande reportagem, entrevistando inclusive o prefeito da época que era o meu pai.
No dia anunciado que iria passar a matéria, à noite, na TV um invejoso adversário político desligou a energia elétrica que alimentava a antena parabólica. Uma artimanha para impedir que o pessoal assistisse ao programa. Para a sorte do papai, azar do invejoso, a matéria só passou na noite seguinte e quem quis ver, viu.

Na Rua 13 de Maio, um pessoal humilde habitava um casebre prestes a desmoronar. Para que não ocorresse uma tragédia, o meu pai arrumou uma casa para esta gente morar. Depois, providenciou para que esta casa fosse destelhada e não causasse nenhum acidente.
Acontece que gente da oposição viu uma oportunidade de denunciar o prefeito por invasão de propriedade, danos a domicílio de terceiros, et cetera e tal. Acionaram a justiça em Ubá. Como já era de noite, só no dia seguinte o promotor iria certificar-se da situação.
Meu pai estava viajando para Belo Horizonte em busca de recursos e verbas para o município, mesmo assim de BH, deu ordens para o pessoal refazer o telhado.
Assim, sob a coordenação da minha irmã Sueli Vieira Gomes, Chefe de Gabinete, o telhado foi recomposto, telha por telha, caibro por caibro, prego pregado à estopa. Todo serviço executado por dedicados funcionários da prefeitura, fiéis a um prefeito que nunca quis prejudicar ninguém. Todo o serviço feito num silêncio sepulcral, para não acordar os vizinhos. A dar ânimo para romper a madrugada café e sanduiche de pão-com-salame feitos pela minha mãe Dona Tita.
Na manhã do dia seguinte quando as autoridades da Justiça chegaram a Guidoval não encontraram nenhuma casa destruída. Os denunciantes ficaram com cara de tacho.

Meu pai dizia que deveria ter eleição todo ano, pois eleição era muito bom para o pobre. É somente nesta época que os políticos lembram dos pobres.


À benção, meu Pai!






sábado, 12 de setembro de 2015

Entrevista de Geraldo Vandré a Geneton Moraes em 12/09/2010

Entrevista de Geraldo Vandré a Geneton Moraes em 12/09/2010


Fonte: g1.globo.com

TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA que Geraldo Vandré concedeu ao jornalista Geneton Moraes Neto no dia de 75º aniversário.

A primeira pergunta é feita aos 05 minutos e 26 segundos do vídeo.

A pergunta que todos gostariam de fazer é a mais simples possível: o que foi que aconteceu com Geraldo Vandré ?

Vandré : “Ficou fora dos acontecimentos (ri). Ficou fora dos acontecimentos. Acho melhor para ele. Tenho outras coisas para fazer. Estudei leis. Quando terminei meu curso de Direito aqui no Rio e fui me dedicar a uma carreira artística, já sabia que arte é cultura inútil. Mas hoje consegui ser mais inútil do que qualquer artista. Sou advogado num tempo sem lei. Quer coisa mais inútil do que isso ? Quando entrei na escola, para estudar, era a Universidade do Distrito Federal. Quando saí, era Universidade do Estado da Guanabara. Hoje, é Uerj, no Maracanã”.

Você se animaria a fazer uma temporada comercial,em teatros ?

Vandré : “Tenho uma prioridade: fazer a minha obra de língua espanhola. É uma obra popular. Além de tudo, o que quero fazer, antes de cantar canções populares no Brasil, é terminar uma série de estudos para piano, música erudita com vistas a composição de um poema sinfônico. Porque aí já é a subversão total. Não existe nada mais subversivo do que um subdesenvolvido erudito”.

O fato de a música “Caminhando” ter se tornado uma espécie de hino de protesto provoca o quê em você hoje: orgulho ou irritação ?

Vandré: “Estou tão distante de tudo. Mas não tenho o que corrigir em nada do que fiz. Tenho muito orgulho de tudo o que fiz. Protesto é coisa de quem não tem poder. Não faço canção de protesto. Fazia música brasileira. Canções brasileiras. A história de “protesto” tem muito a ver com a alienação denominatória, é o “protest song” norte-americano, a música country. Há algumas coincidências. Não concordo com a denominação “música de protesto”. Fiz música popular brasileira”.



Você teve uma divergência artística com os tropicalistas – entre eles, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Hoje, você ainda considera ruim a música que eles faziam na época ?

Vandré : “Com essa pergunta, eu me lembrei de uma reposta que o próprio Gil deu uma vez. Fiz uma pergunta a ele. Não me lembro qual foi. E ele disse: “Ah, faço qualquer coisa. Uma tem que dar certo”. Eu não faço qualquer coisa”.

Mas você mudou de opinião sobre os tropicalistas ou não ?

Vandré: “Parece que eles continuam na mesma. É o que me parece. Eu estou distante de tudo – não só do Tropicalismo como de tudo praticamente que se faz do Brasil”.

Em que país vive Geraldo Vandré ?

Vandré: “Vive num Brasil que não está aqui. Geraldo Vandré vive no Brasil. Eu até me atreveria a dizer que quem não vive no Brasil é a maioria dos brasileiros. A quase totalidade dos brasileiros não vive mais no Brasil. Vive num amontoado”.

Como é este Brasil de Geraldo Vandré ?

Vandré : “É o antes – de quarenta anos atrás. O país que o Brasil era quando fiz música para o Brasil não era este país de hoje. Não existia este processo de massificação. Dentro da minha própria carreira – profissionalmente falando – houve uma mudança ali no Maracanãzinho. Ali, houve a passagem do que eu fazia para um público de um teatro de setecentas ou no máximo mil e duzentas pessoas para um ginásio com trinta mil pessoas. E a televisão direto no ar. Já foi a massificação”.

O Brasil de quarenta anos atrás era melhor do que o Brasil de hoje ?

Vandré: “Eu fazia música para aquele país”.

E por que não fazer música para o Brasil de hoje ?

Vandré: “Porque o país é outro. O que existe é cultura de massa. Não é cultura artística brasileira. Não há praticamente espaço para a cultura artística. Se você considerar os outros autores, eles fazem coisas de vez em quando. Não têm uma carreira como tinham antigamente – nem Chico Buarque nem Edu Lobo, ninguém. A carreira que eles têm é uma carreira hoje muito segmentada”.

Você se considera, então, uma espécie de exilado que vive dentro do Brasil ?

Vandré: “Estou exilado até hoje. Ainda não voltei. Eu estou exilado e afastado das atividades que eu tinha até 1968 no Brasil. Eu me afastei. Não retornei”.

Por que é que você resolveu se afastar totalmente da carreira artística naquela época ?

Vandré: “Naquela época, já era assim: já era como hoje. Quando voltei, o Brasil já estava num processo de massificação em que o público para quem eu tinha escrito e para quem eu tinha composto praticamente já não existia, aquela classe média de quatro anos e meio antes. Estava muito confuso tudo.Fui esperando, fui vendo outras coisas. Isso foi de mal a pior – cada vez mais. Para você ter uma ideia: quando terminei o curso de Direito no Rio e me mudei para São Paulo, em 1961, para fazer uma carreira artística, não existia bóia-fria em São Paulo. Hoje, São Paulo é a terra do bóia-fria: todo mundo amontodo nas cidades. Vão aos campos para plantar e para colher e depois voltam para a cidades. Quando fui para São Paulo, a cidade tinha quatro milhões de habitantes. Hoje, são dezesseis milhões de amontoados. É um genocídio. Tiraram todo mundo dos campos para produzir e exportar…”

A decisão de interromper a carreira,então, foi – de certa maneira – um protesto contra o que você via como “massificação” da sociedade brasileira ?

Vandré: “Não. O que houve foi muito mais uma falta de motivo, uma falta de razão para cantar. Protesto,não: falta de razão, falta de porquê. Estou fazendo o que acho que devia fazer”.

O que é que chama a atenção do Geraldo Vandré no Brasil de hoje ? Que manifestação artística desperta interesse ?
Vandré: “A miséria aumentou. Se você pegar a letra de “Caminhando” – ” pelos campos, as fomes em grandes plantações/pelas ruas marchando indecisos cordões/ ainda fazem da flor seu mais forte refrão/ e acreditam nas flores vencendo o canhão” -, hoje é mais ainda. Hoje, as ruas estão muito mais cheias de indecisos cordões. O processo de massificação destruiu praticamente a urbe brasileira”.
Você se animaria a fazer uma canção como “Caminhando” hoje ?

Vandré:”Não existe isso. A gente nunca faz uma canção como uma outra. Aquela é uma canção. Cada uma é uma.A gente faz independentemente de animação. Quando decide fazer, faz”.



Você diria que o Brasil é um país ingrato ?

Vandré : “Não. De forma alguma. São coisas que ocorrem. Guerra é guerra.Não perdi (ri). Eu me lembrei agora de um poema muito bonito de Gonçalves Dias que aprendi com meu pai: “Não chores, meu filho, não chores/ Viver é lutar/ A vida,meu filho, é combate/é luta renhida/ que aos fracos abate e aos bravos só pode exaltar”.

Quando você se lembra hoje do Maracanãzinho inteiro cantando “Caminhando” que sentimento você tem ?

Vandré: “Aquilo foi muito bonito, muito bonito. Pena que eu não posso ver o VT. Estão guardando o VT não sei para quê.Quero ver o VT. Lá na sua estação eles devem ter. Procure lá. Consegue o VT para ver!” ( olhando para a câmera).

Você tem saudade daquela época ?

Vandré : “Saudades….Saudades…Um pouco. Mas também há tanta coisa para fazer que não dá muito tempo de sentir saudade”.

Você vive de quê hoje ? Você recebe direitos autorais ?

Vandré: “Nunca dependi de música para viver. Sou servidor público. Hoje, estou aposentado como servidor público federal”.

Você deixou de receber direitos autorais ?

Vandré: “Pagam o que querem. Não existe controle. Não existe critério. Se nós tivéssemos direito de autor, teríamos os direitos conexos, direitos de marcas, patentes, propriedade industrial. É um assunto complexo. Mas aí não seríamos subdesenvolvidos“.

Você foi o único grande nome daquela geração que não voltou aos palcos – entre eles, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque…

Vandré: “Eu não voltei. É uma boa pergunta: por que não voltei? Não mudou tudo ? Mas será que mudou ?As razões pelas quais me afastei continuam preponderantes no que que se apresenta como realidade brasileira”.

Se você fosse escrever um verbete numa enciclopédia sobre Geraldo Vandré qual seria a primeira frase ?

Vandré: “Criminoso (ri)”.

Por quê ?

Vandré : “O que você chama de governo ainda me tem como anistiado por haver cantado as canções que cantei. Fui demitido do serviço público por causa das canções. O que se apresenta como governo no Brasil até hoje cobra impostos sobre o “corpo de delito” que foram as canções que fiz. Deu para entender agora ? “.

Você foi punido pelo governo da época, perdeu o emprego público…

Vandré: “Fui demitido. Depois, retornei. Briguei, briguei, briguei..”

Em algum momento, você foi considerado “criminoso”…

Vandré: “Fui demitido por causa da canção. E essa canção que foi mltivo de minha demissão até hoje é…Voltei por força de um despacho dado com fundamento na Lei de Anistia, como se eu fosse criminoso. Anistia é para criminoso – condenado por sentença transitada em julgado, se ele aceitar. Porque ele pode não aceitar. Aceitar a anistia significa aceitar-se criminoso, beneficiário de anistia”.

Você acha que a grande injustiça foi esta : em algum momento você ser considerado um criminoso ?

Vandré: “Injustiça não é a palavra…”

Você teria cometido um “delito de opinião” …

Vandré: “Não. Era subversão mesmo, sob certos aspectos, porque não havia nada mais para fazer naquele instante. Não me lembro. Mas as Forças Armadas, propriamente ditas, entenderam muito melhor do que a sociedade civil. Nunca tive nenhum problema com as Forças Armadas propriamente. Sempre houve uma consideração e respeito entre nós”.



Hoje, você nega que tenha sido em algum momento um antimilitarista nos anos sessenta ?

Vandré: “Nunca fui antimilitarista. Nunca assumi tal posição. Fui lá e falei o que queria dizer, numa canção que foi dita e cantada no Brasil diante de todo mundo. A canção foi cantada para os soldados, também”.

O grande equívoco sobre Geraldo Vandré foi este : achar que você era antimilitarista ?

Vandré : “Não houve, na realidade, um grande equívoco. Houve uma grande manipulação porque, quanto mais proibido, mais sucesso fazia; mais se vendia; menos conta se prestava. É uma questão muito séria”.

Qual foi a última manifestação artística que despertou o interesse e a curiosidade de Geraldo Vandré no Brasil ?

Vandré: “Passei quatro anos e meio fora do Brasil. Quando voltei, havia uma coisa muito importante que era o Movimento Armorial. Havia o Quinteto Armorial e a Orquestra Armorial. A sonoridade era muito condensada. O resultado era importante. Para mim, foi a coisa mais importante que aconteceu nos últimos tempos. Não me lembro de outra coisa que tenha ido além daquilo”.

E da produção recente, alguma coisa chamou a atenção do Geraldo Vandré ?
Vandré: “Nada. Tiririca (ri). Dizem que vai ser o deputado mais votado de São Paulo. Está bom ? “.

Você disse, numa discussão na época dos festivais: “A vida não se resume a festivais”. Hoje, tanto tempo depois dos festivais, qual é o principal interesse do Geraldo Vandré ?

Vandré : “São as outras coisas que não estão nos festivais. Minha vida funcional – de que cuidei até me aposentar; as minhas relações com a Força Aérea, o meu projeto de fazer estas gravações na América espanhola…Tenho muita coisa para fazer”.

Outro grande nome que se celebrizou como opositor do regime militar na música brasileira foi Chico Buarque de Holanda. Você acompanhou o que ele fez depois ?

Vandré: “Chico teve um caminho diferente do meu. Não chegou a parar. Produziu muito durante aquela época em que eu estava fora. Chico ficou aqui. Saiu e voltou, saiu e voltou. Passei quatro anos e meio fora. Quando voltei, fiz uma tentativa de apresentação num programa de televisão. Não vem ao caso qual, mas não gostei do que aconteceu: o jogo de pressões que se fez em volta. Recuei. Depois, passou-se um tempo. A própria Globo queria fazer um festival. Chegaram a me procurar. Não tive interesse em participar”.

O que é que a produção de Chico Buarque significa para você ?

Vandré: “Chico é uma pessoa muito talentosa, muito importante. Um grande artista”.

Você perdeu o contato com todos os seus companheiros de geração na música ?

Vandré: “Nunca fui muito enfronhado no meio artístico. Fazia minhas coisas. Voltava para minhas atividades extramusicais”.



É verdade que você ficou escondido na casa da família Guimarães Rosa antes de ir para o exílio ?

Vandré: “Eu saí de circulação. Depois que o tempo foi passando, as coisas vão ficando claras: as Forças Armadas propriamente ditas não tinham nada contra mim. Não tomaram nenhuma iniciativa contra mim. Quando fecharam o Congresso Nacional, no dia 13 de dezembro de 1968, eu estava indo para Brasília para fazer um espetáculo.Evidentemente, suspendemos o espetáculo. Vim de carro – guiando – até São Paulo. Eu estava à mão das Forças Armadas….Nunca deixei de estar. Mas claro que algo poderia acontecer: ao andar à toa pela rua, eu poderia de repente encontrar um “guardinha de trânsito” que quisesse fazer média. Há sempre alguém que quer tirar proveito de situações assim. Para evitar, saí de circulação. Durante um tempo, estive na casa de Dona Aracy (viúva de Guimarães Rosa – que tinha morrido meses antes). Fiquei lá porque, quando vinha para o Rio, como não tinha casa aqui, sempre ficava na casa de amigos e de pessoas conhecidas”.

Por que você tomou esta decisão tão drástica – de interromper uma carreira de tanto sucesso ?

Vandré: “Decidir sair do Brasil naquele ano de 1968. (N:Os mesmos agentes que prenderam Caetano Veloso e Gilberto em São Paulo,em dezembro de 1968, tentaram prender Geraldo Vandré. Mas, avisado por Dedé, à época mulher de Caetano Veloso, Geraldo Vandré conseguiu escapar a tempo)  Eu tinha uma programação para fazer fora do Brasil. Tinha um contrato com a televisão Bavária,na Alemanha, para fazer um filme sobre Geraldo Vandré. Fui fazer. Passei um ano e meio pela Europa. Depois, voltei para o Chile – para onde eu tinha ido do Brasil. Havia muitos brasileiros lá ainda. De lá, fui para o Peru. Ganhamos um festival em Lima em 1972 com uma canção que era a única não cantada em espanhol. Era cantada em “brasileiro” mesmo. O Brasil não conhece a canção.Chama-se “Pátria Amada Idolatrada, Salve, Salve – Canção terceira”.

Você se lembra da letra ?

Vandré : “Eu me lembro. É uma canção que foi feita para ser cantada por um homem e uma mulher. Existe de caso pensado – coincidentemente – uma confusão de sentimentos entre a ideia da pátria e a ideia da mulher amada.O homem canta: “Se é pra dizer-te adeus/ pra não te ver jamais/Eu – que dos filhos teus fui te querer demais-/no verso que hoje chora para me fazer capaz da dor que me devora/quero dizer-te mais/ que além de adeus/ agora eu te prometo em paz levar comigo afora o amor demais”.

E a mulher, cuja imagem se confunde com a noção da pátria, responde:

“Amado meu sempre será quem me guardou no seu cantar/ quem me levou além do céu/além dos seus/e além do mais/ amado meu/ que além de mim se dá/não se perdeu nem se perderá”.

Os dois cantam juntos um para o outro. É um contraponto”.

Você foi constrangido a gravar, em 1973, um depoimento em que negava que fosse militante político. Qual foi o peso deste depoimento na decisão de Geraldo Vandré de interromper a carreira ?

Vandré: “Nunca fui constrangido a declarar que não tive militância política. Nunca tive militância político-partidária. Nunca pertenci a nenhum partido. Nunca fui político profissional. Não fui obrigado a dizer que não era militante. Nunca fui militante político. Nesta contemporaneidade em que estamos, eu me lembrei de um professor de Filosofia que dizia: “O homem é um animal político”. Sou uma qualidade de animal político que não depende de eleição. Vamos estudar a diferença entre política e eleição?”.

Que lembrança você guarda deste depoimento ? Você foi levado para uma sala do aeroporto de Brasília e gravou um depoimento em que – de certa maneira – renegava ….

Vandré (interrompendo) : “É um assunto que ficou muito confuso. Não me lembro exatamente. Gostaria de ver a declaração…”

Você gravou o depoimento quando voltou do Chile…

Vandré: “Gostaria de ver, porque houve montagens. Era gravação. O que foi para o ar não sei”

O depoimento criou espanto na época, porque – de certa maneira – era você negando a militância política…

Vandré: “Nunca fui militante. Se engajamento político é pertencer a um partido, nunca pertenci a nenhum. Nunca fui engajado politicamente”.

Você obrigado a gravar este depoimento ? Fazia parte do acordo para voltar para o Brasil ?

Vandré: “Queriam que eu fizesse uma declaração. Não me lembro o que foi que disse. Mas eu disse coisas que poderia dizer. O que eu disse era verdade. Não disse nada que não tenha querido dizer. A TV Globo deve ter isso. Procure lá…”

A gente procurou e não encontrou….

Vandré: “Pois é:  somem com tudo. Que loucura essa…Por quê ? Veja se acha o vt do Maracanãzinho. É o que tem Tom Jobim. É o mesmo vt. A minha parte sumiu. Por quê ? Fizeram uma retrospectiva do Festival. Botaram o Festival no Maracanãzinho- Tom,Chico, todo mundo, Cynara e Cybele. Mas,na hora de botar o Geraldo Vandré, usaram um filme feito na Alemanha, em que eu estava de barba. Não é certo”…

Talvez tenham recolhido o filme…

Vandré: “Para mim, é muito difícil acreditar que a TV Globo tenha se desfeito do filme. Não acredito. Devem estar guardando muito bem guardado”

Só para esclarecer este episódio sobre o depoimento que você gravou quando voltou do exílio : que lembrança exatamente você tem ? Quem pediu a você para gravar este depoimento ?

Vandré: “Aquelas declarações foram feitas para uma pessoa que se me apresentava como da Polícia Federal. Fiz um depoimento aqui. Depois, disseram que eu tinha de ir para Brasília. Cheguei ao Brasil no dia 14 de julho. Dois meses depois, apareço como se estivesse chegando em Brasília. Aquilo foi uma manipulação. O depoimento foi gravado antes. Gravaram-me descendo do avião em Brasília. Tudo muito manipulado. É esta a história dos vts: normalmente, temos esta doença. Estou falando aqui. O que vai ser mostrado vai ser uma seleção que a estação vai fazer. Não vai ser o que estou dizendo. Isso é muito sério”.

Para encerrar o assunto: o depoimento teve um peso na decisão de interromper a carreira ? Você ficou incomodado com aquilo ?

Vandré: “Não. Eu estava chegando e vendo como estavam a coisas.Não tinha menor noção da realidade. Tive de passar por um processo de adaptação no retorno ao Brasil”.

O grande mistério que existe sobre Geraldo Vandré durante todas essas décadas é, afinal de contas, o que aconteceu com ele depois da volta do exílio: você foi maltratado fisicamente ?

Vandré: “Não.Não”

Se você tivesse a chance hoje de se dirigir a uma plateia de jovens num festival,o que é que você diria a eles ?

Vandré: “Vamos ter de dar um tempo aí, não é ?…” (rindo)

Um “tempo” de quantos anos ?

Vandré: “Não sei. Agora, vocês vão votar para presidente, deputado, senador. Estão ocupados com outras coisas. Estou por fora”.

Que papel você acha que vai caber a Geraldo Vandré na história da música popular brasileira moderna ?

Vandré: “Nunca fiz este tipo de avaliação”.

Que papel você espera ter ? Você se acha suficientemente reconhecido ?

Vandré: “Obtive o reconhecimento que procurei e quis”.

Você em algum momento se arrepende de ter interrompido a carreira ?

Vandré: “Não. Porque raramente me arrependo das coisas que faço. Calculo bem, reflito bem, meço bem : quando faço é para ficar feito mesmo. Não existe arrependimento não”.

Para efeito de registro histórico: você, primeiro, não se considera antimilitarista…

Vandré: “Não…”

Segundo: você não foi maltratado fisicamente durante o regime militar…

Vandré: “Não…”

Terceiro: você disse o que quis no depoimento que você foi forçado a gravar quando voltou do exílio…

Vandré: “E em quarto: há o Quarto Comando Aéreo Regional…Tenho uma canção para o “exército azul”, a Força Aérea…(ri e exibe o brasão da Aeronáutica, impresso numa espécie de cartão de visita que traz, no verso, a letra de “Fabiana“). A aviação é muito bonita. A loucura é a aviação. Porque a maior loucura do homem é voar. Conhece loucura maior do que esta ? Não existe”.

Como é que surgiu a fascinação de Geraldo Vandré pela aviação ?

Vandré: “Desde pequeno, desde criança”.

Você gostaria de ter sido aviador ?

Vandré: “É. Não fui aviador militar. Não sou piloto, mas – de certa forma – sou aviador, porque me ocupo de assuntos da aviação. Uma coisa é aviador, outra é piloto. Você pode ser piloto, co-piloto, rádio navegador, mecânico de bordo, médico aviador. Há vários caminhos – não necessariamente tem de ser piloto…”.

O fato de você ter composto uma música em homenagem à Força Aérea criou um certo espanto. Hoje, você se hospeda em hotéis da Aeronáutica, como este. Nós estamos num ambiente militar…

Vandré :”Relativamente, porque este é um instituto de direito privado…”

Houve alguma mudança na postura do Geraldo Vandré ou não em relação às Forças Armadas ?

Vandré : “O que houve foi o reconhecimento de uma parte da sociedade que nunca tinha tido oportunidade de saber realmente quais eram as minhas posições”.

Em que situação Geraldo Vandré voltaria a um palco hoje ?

Vandré:”Depende de onde. Tenho uma programação na qual invisto meu tempo e minhas energias : gravar um disco no exterior, num país de língua espanhola. É minha prioridade. Depois, vou ver minha programação para o Brasil. Escrevi umas trinta canções originalmente em “americano de habla hispânica”. Quero gravar num país de música espanhola, com músicos de lá. Minha prioridade comercial é esta. Para o Brasil, por ora, o projeto é a canção da Força Aérea mesmo – e um projeto sinfônico. A canção se chama Fabiana porque nasceu na FAB – em sua honra e em seu louvor”.

Você, hoje, então prefere compor peças sinfônicas ?

Vandré: “Tenho estudado música. Compus uma série de estudos para piano – aproveitando da técnica de uma jovem pianista de São Paulo. Mas a música ganhou outras dimensões. Passou a ser física e matemática. Ritmos do coração. Fica mais complicado,mas, para mim, é música”.

Você tem planos de gravar a música que você fez em homenagem à FAB ?

Vandré: “Claro. Já fizemos uma apresentação numa festa da Força Aérea em torno das comemorações da Semana da Asa, em São Paulo, com um coral de trezentos infantes. Uma coisa muito bonita. Com o tempo, vamos ver quais são alternativas que se colocam”.

Você declarou algumas vezes : “Geraldo Vandré não existe mais….”

Vandré ( interrompendo) : “Não, não declarei. Eu disse que ele não canta no Brasil comercialmente. Apresentei uma canção para a Força Aérea do Brasil. Não canto comercialmente no Brasil porque os problemas todos que tive de enfrentar resultaram de especulações comerciais: vendas clandestinas, câmbio negro, tudo isso. Quanto mais se proibia,mais se vendia. A sociedade, às vezes, tem essa doença”.

Você canta “Disparada” hoje, em casa ?

Vandré : “Não. Faz tempo que não pego num violão. Tenho de voltar a estudar”.

Que instrumento, então, você toca ? Piano ?

Vandré :”Não. Não sou pianista. Toco de improviso alguma coisa”.

Pelo menos duas músicas que você compôs são conhecidíssimas até hoje: “Disparada” e “Caminhando”.

Vandré ( interrompendo) : “Pelo menos duas…”

Se você fosse escolher uma, que música você escolheria como típica da produção de Geraldo Vandré ?

Vandré: “Disparada” é mais brasileira, tem uma forma mais consequente com a tradição das formas da música popular : a moda de viola. “Caminhando” já é mais urbana. É uma crônica da realidade. É a primeira vez que fiz uma crônica. Deu no que deu. A realidade não estava muito querendo ser…”

Retratada…A obra-prima de Geraldo Vandré qual é ?

Vandré: “Todas são iguais. Para mim, são todas iguais. Isso de obra-prima é uma questão de seleção e de predileção do público, os meios de comunicação e os chamados formadores de opinião”.

Mas você deve ter uma predileção pessoal…

Vandré: “Não tenho. É tudo igual mesmo”.

As peças sinfônicas você compõe como ?

Vandré : “As melodias, algumas harmonias…Para escrever em notas convencionais, preciso da escrita de pessoas que estão muito mais afeitas a esta tarefa do que eu.Eu levaria anos para escrever uma partitura. Jamais escreveria como alguém que faz parte de uma orquestra, lê e escreve na hora, à primeira vista. Hoje,estou dedicado a preparar um poema sinfônico cuja abertura coralística será a Fabiana, a canção que fiz para a Força Aérea”.

Você hoje se animaria a fazer um espetáculo para o público brasileiro ?

Vandré :”Não.Para o público brasileiro, só uma coisa muito especial”…

Em que situação você voltaria a se apresentar no Brasil ?

Vandré: “Chegamos a cogitar de fazer uma apresentação da Fabiana no Clube de Aeronáutica. É um dos projetos de que chegamos a nos ocupar. Mas até agora as coisas ficaram postergadas, porque o clube vai entrar em reforma. Vêm aí as Olimpíadas Militares. O clube vai ter de se adequar”.

Qual é a grande inspiração que você tem para compor essas peças sinfônicas ? O que é que motiva você a compor ?

Vandré: “Nunca dependi muito da palavra inspiração. Escolhia os temas. O fundamental para mim é a memória que tenho do que ouvia no cancioneiro popular, as músicas de desde a minha infância”.

O público brasileiro ainda vai ter chance de ver Geraldo Vandré cantando “Caminhando” e “Disparada” no palco ?

Vandré: “Isso é profecia. Não sou profeta”.

O que é que levou você a fazer uma música em homenagem à FAB, a Força Aérea Brasileira, você, que era tido nos anos sessenta como antimilitarista ?

Vandré: “Era tido. Por quem ? Isso deveria ser perguntado para os que a mim me tinham como antimilitarista.Não sou militarista. Mas também não sou anti. Todos os países soberanos do mundo têm suas forças armadas. O que é que devemos fazer com as nossas ? Entregá-las para outras pessoas ? Vamos fazer isso ? Acho que não!

Chamo de “Fabiana” porque nasceu na FAB. Costumamos dizer assim: uma servidora da FAB é “fabiana”. A letra diz : “Desde os tempos distantes de criança numa força,sem par, do pensamento teu sentido infinito e resultado do que sempre será meu sentimento/todo teu/todo amor e encantamento/vertente.resplendor e firmamento/ Como a flor do melhor entendimento/a certeza que nunca me faltou/na firmeza do teu querer bastante/seja perto ou distante é meu sustento/ De lamentos não vive o que é querente do teu ser no passado e no presente/Do futuro direi que sabem gentes de todos os rincões e continentes/que só tu saber do meu querer silente/porque só tu soubeste, enquanto infante, das luzes do luzir mais reluzente pertencer ao meu ser mais permanente”.

O refrão é, coincidentemente, um contraponto de “vem/vamos embora/ que esperar não é saber” : “Vive em tuas asas todo o meu viver/ meu sonhar marinho / todo amanhecer”.


Termina a entrevista. Já são quase sete da noite. O Grande Solitário da MPB caminha em direção à escadaria que dá acesso à ala de hóspedes do hotel que funciona no Clube da Aeronáutica. Parte sozinho. Vai em companhia do único habitante do Brasil que Geraldo Vandré criou para si: o próprio Geraldo Vandré.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Forrobodó do Salim (republicando)

clique no PLAY para OUVIR a música

O Salim me convidou
Para um forrobodó
Na casa da sua vó
De colete e paletó

Meti um terno
Fui "praquele" cafundó
Vi uma morena só
Garganta deu um nó

Puxei conversa
Mais de esperteza do que dó
Ela sorriu...
Gostou do meu gogó

Fomos pro alpendre
Comendo pão-de-ló
Quando latiu prá mim
O vira-lata Totó

Nem pestanejei
Meti-lhe o pé no fiofó
O dono apareceu
Trazendo um enorme cipó

Nem quis explicação
Saber de trolo-ló
Formou-se a confusão
Um enorme qüiproquó

Pernada, rasteira,
Levantando o pó
Nego rolando ribanceira
Até o Chopotó

Mulheres rezando
À Nossa Senhora do Ó
O sanfoneiro muito vivo
Atacou novo forró
Sabedoria de Salomão
Paciência de Jó

Já avisei para o Salim
Não volto mais
No forrobodó da sua vó

Músicos
Voz: Paulo Loureiro
Violão: Geraldo Vianna
Baixo: Milton Ramos
Bateria: Esdra (Neném) Ferreira
Percussão: Ricardo Cheib
Teclados: Clóvis Aguiar


    Rapsódia negra

 
clique no PLAY para OUVIR a música

É noite de São João,
É noite de lua cheia,
Lá fora faz frio.
Em torno do fogo aceso no terreiro,
vindos do Congo e da Guiné,
Crioulos e crioulinhos,
caboclos e cabranazes,
dançam e se misturam
aos sons dos rapapés
com o som dos instrumentos mais exóticos

Zunem, zunzunem os tambus e os urucungos,
zinem berimbaus,
gritam estrídulos apitos,
troam tambores, reco-recos e timbales,
ouvem-se chios de chinelos e de caixas,
cascavelhadas de chocalhos rechuchados,
rugidos e remugidos,
rouquidos e zangarreios,
grulhos, grugrulhos,
de cangueiras e de canzas,
de puítas e de marimbas,
zonzons de embiaxós.

Picando o passo,
o dançador desarticula-se,
saracoteia, cabriola,
regamboleia, e perereca,
e se distorce,
e desconjunta-se
em tremuras epilépticas,
em contraturas espasmódicas, tetânicas,
como o doente, quando dá o tângoro-mângoro,
e ficam zangaralhões,
bambalhamassas,
trangalhadanças.
Como as corujas, como os corvos crocitando,
em uivos surdos, em regougos agoureiros,
de cururus, jacurutus e noitibós,

Lúgubres, fúnebres, soturnos,
se misturam os zumbos dos urucungos e os rufos dos timbatus.
Trinam, tinindo, campainhas retínulas . ..
Há rataplãs, tantãs de tamborins,
roucos tutuques de zabumbas e ritumbas
— e o batourar, tamborilando, interrupto,
no babaréu das mussambas, o barundum dos atabaques.
Em trepe-trepe, em trape-trape, em teque-teque,
em estralada estrepitosa, estrondeante,
taraz-baraz, quadrupedando,
estrupidante, rugitando, em rugibó,
estalido e sapateio,
retumba o mundo africano,
trabuca o cateretê!

texto de Martins Fontes
adaptação e interpretação do Prof. Ibsen Francisco de Sales – SALIM