terça-feira, 15 de setembro de 2015

José Vieira Neto (Zizinho do Marcílio) – 90 anos

José Vieira Neto (Zizinho do Marcílio) – 90 anos

Há 90 anos atrás, em 15/09/1925, nascia o meu pai José Vieira Neto, mais conhecido por Zizinho do Marcílio.

Tenho vários motivos para me orgulhar dele. Um deles foi a determinação de meu pai para que eu estudasse. Levou-me para fazer concurso no Colégio Agrícola de Rio Pomba, onde ingressei em 1965 e formei-me em Técnico Agrícola em 1971.

Dados biográficos sintetizados sobre o meu pai eu já coloquei no Site de Guidoval (http://www.devieira.com.br/guidoval.com/gzizinho.htm).

Assim vou apenas relembrar alguns causos acontecidos com o meu pai, o seu bom humor e as tiradas espirituosas.

O saudoso Raymundo Francisco, o Tilúcio, amigo da nossa família, todos os dias passava na nossa casa para um cafezinho e principalmente uma prosa. Certa vez disse em tom valente “agora no Bar Esquina, não deixei por menos e falei poucas e boas para o fulano”. Meu pai retrucou “Você falou ou Pensou?”. Tilúcio que não sabia mentir disse “bom, falar, falar, eu não falei, mas que eu pensei, isto eu pensei”.

Em 1972, papai foi candidato a vereador, sendo eleito com a maior votação proporcional da história do nosso município. Um correligionário do papai querendo demonstrar prestígio alardeou “Sô Zizinho,  eu sei onde tem 250 votos certo, mas certo mesmo”. Papai respondeu “Uai, então você é que tem que ser o candidato”.

O Geraldo da Isolina do Tão, quando meninote, trabalhou no açougue do meu pai, que o considerava como parte da nossa família. Pois bem, o Geraldo gostava de jogar futebol. Foi beque do Cruzeiro, formou zaga com o Moacir Gonçalves. Geraldo também dava as suas botinadas nos times da zona rural. Uma ocasião disse ao meu pai. “Sô Zizinho fizemos uma partida muito boa, mas perdemos por causa de um gol bobo”. De bate-pronto, papai rebateu “porque vocês não fizeram também um gol bobo neles?”

Quando solteiro morei numa república na Rua Célio de Castro, Bairro Floresta, em BH. Meu pai estava na capital, foi me visitar e depois me deu uma carona. Eu querendo demonstrar que sabia andar na cidade indiquei-lhe um caminho que descia a Rua Januária, pegava um beco e passava por debaixo do Viaduto da Floresta. Acontece que era princípio de noite, hora do rush, trânsito embananado. Ficamos um tempo presos no engarrafamento. Foi aí que o meu pai me disse “Meu filho, se atalho fosse bom ninguém fazia estradas”.

Papai, sabendo do meu namoro sério com a Lourdes perguntou-me quando eu pretendia casar. Respondi-lhe que a situação estava difícil, precisava juntar dinheiro para comprar apartamento, móveis, eletrodomésticos. Foi então que ele me disse “se você for esperar ter condições financeiras para casar, você não vai casar nunca.

Todo ano, desde 1.975, eu fico sem ingerir bebidas alcoólicas durante a quaresma. De quarta-feira de Cinzas ao Domingo de Ramos, são 40 dias. Até o sábado de Aleluia são 46 dias. Papai sabendo deste meu (des)propósito aconselhou-me “porque você não faz o contrário,  bebe durante a Quaresma e fica o resto do ano sem beber?

Quando avisei ao meu pai que ficaria noivo da Lourdes e pretendia casar em breve, ele me alertou “não case por obrigação ou sentimento de gratidão por tudo que a Dona Lourdes Ribeiral já fez por você e pela nossa família”. Respondi-lhe “pode ficar sossegado, é amor mesmo o que eu sinto pela Lourdes”.

Recém-casado, morei no Bairro Califórnia, saída de BH para Brasília. A Lourdes trabalhava no Banco Real acordava muito cedo para pegar ônibus e ir trabalhar na Praça Sete. Papai vendo a luta da Lourdes disse a ela “se o meu filho não tinha condições de lhe dar conforto não deveria ter casado”.

Em Guidoval têm-se a mania de zombar dos adversários políticos chamando-os de “sabucão” quando perdem uma eleição. Meu pai, no seu discurso de posse, no segundo mandato em 01/01/1989 lembrou aos presentes deste “Bullying político”.  Disse que algumas vezes recolheu sabugos que seus companheiros de partido deixavam na porta dos adversários. Dizia que ganhar uma eleição já era muito bom, não precisava humilhar.

A poluição do Rio Chopotó rendeu samba-enredo da Agremiação Calouros do Samba, notícias no Jornal Saca-Rolha e Jornal de Guidoval. Numa dessas secas bravas e de grande poluição do nosso rio uma TV de Juiz de Fora veio até a nossa cidade e fez uma grande reportagem, entrevistando inclusive o prefeito da época que era o meu pai.
No dia anunciado que iria passar a matéria, à noite, na TV um invejoso adversário político desligou a energia elétrica que alimentava a antena parabólica. Uma artimanha para impedir que o pessoal assistisse ao programa. Para a sorte do papai, azar do invejoso, a matéria só passou na noite seguinte e quem quis ver, viu.

Na Rua 13 de Maio, um pessoal humilde habitava um casebre prestes a desmoronar. Para que não ocorresse uma tragédia, o meu pai arrumou uma casa para esta gente morar. Depois, providenciou para que esta casa fosse destelhada e não causasse nenhum acidente.
Acontece que gente da oposição viu uma oportunidade de denunciar o prefeito por invasão de propriedade, danos a domicílio de terceiros, et cetera e tal. Acionaram a justiça em Ubá. Como já era de noite, só no dia seguinte o promotor iria certificar-se da situação.
Meu pai estava viajando para Belo Horizonte em busca de recursos e verbas para o município, mesmo assim de BH, deu ordens para o pessoal refazer o telhado.
Assim, sob a coordenação da minha irmã Sueli Vieira Gomes, Chefe de Gabinete, o telhado foi recomposto, telha por telha, caibro por caibro, prego pregado à estopa. Todo serviço executado por dedicados funcionários da prefeitura, fiéis a um prefeito que nunca quis prejudicar ninguém. Todo o serviço feito num silêncio sepulcral, para não acordar os vizinhos. A dar ânimo para romper a madrugada café e sanduiche de pão-com-salame feitos pela minha mãe Dona Tita.
Na manhã do dia seguinte quando as autoridades da Justiça chegaram a Guidoval não encontraram nenhuma casa destruída. Os denunciantes ficaram com cara de tacho.

Meu pai dizia que deveria ter eleição todo ano, pois eleição era muito bom para o pobre. É somente nesta época que os políticos lembram dos pobres.


À benção, meu Pai!






Um comentário:

Anônimo disse...

Que linda história ! O mundo precisa ter mais homens assim,gostaria de ter conhecido seu pai.Acho que é uma qualidade das pessoas nascidas em Guidoval ,serem alegres espirituosas.Meu pai, também nascido em Guidoval, era um homem de respostas diretas e engraçadas.Muito bom ter recordações assim.

Maria José Baía Meneghite
Leopoldina, MG